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Hospital Infantil: Quem me espera lá dentro do quarto?
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Hospital Infantil: Quem me espera lá dentro do quarto?

Hospital Infantil: Quem me espera lá dentro do quarto?

17/08/2018
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”Eu pude ver nos olhos do pai de Luan, que ele sorria com um alegria real agora, participava da brincadeira, olhava o filho interagir com mais vigor e atenção”

Era o final de uma sexta-feira, quando eu caminhava pelos corredores do Hospital Sabará como Xerife local Woodyson, o único xerife que circula por essas bandas na verdade.

Era um dia comum, visitávamos crianças e entre um quarto e outro colecionávamos algumas risadas das enfermeiras e funcionários que trabalhavam por ali.

Eu como super-herói mantenho meu senso de atenção ligado para qualquer mudança no ambiente, não foi difícil captar duas mulheres que se direcionavam para o elevador que nos olhavam com surpresa.

O xerife muito rápido no gatilho nos apresentou e logo descobrimos que elas estavam vindo do quarto para o qual estávamos indo, que feliz coincidência.

– Estamos indo para lá! Vamos visitar o Luan*!

As duas se entreolharam e sorriram. Uma delas, a mãe do Luan, disse para continuarmos nosso caminho que lá tinha gente precisando de nós. Entraram no elevador felizes e foram embora. Eu e o Xerife sem saber o que nos esperava, batemos na porta.

Luan é um bebê de um ano mais ou menos e claro, e apesar da saída das duas mulheres, ele não estava sozinho.

O quarto no 15º andar do hospital era um daqueles quartos que contém uma atmosfera totalmente diferente da do lado de fora. Isso acontece algumas vezes, alguns quartos são divididos dos corredores por um portal.

De modo que ao passar pelo portal, muda-se a luz, o cheiro, o clima… Lá dentro há algo acontecendo, pede-se licença para entrar. Para alterar as coisas ou apenas para ter o privilégio de ver de perto. Há quartos assim.

Então enquanto entrávamos naquele quarto de luz bem amarelada onde todos nos tornávamos sépia, fomos nos apresentando àquele que segura Luan nos braços.

O pai do Luan era um homem gorducho, e tinha os cabelos molhados provavelmente pelo clima que fazia lá dentro. Eu pude sentir nos meus músculos de herói que um calor de esforço e acalanto dominava o ambiente.

Fechamos a porta e entendi a troca de risadas das mulheres no elevador. Éramos: um pai, um Caubói e eu, um super heróis que veste cueca em cima das calças. Ah! E claro, o Luan.

Que com os olhos arregalados expressava todo o clima. O pai do Luan ensaiou um sorriso, que sob aquela luz só podia ser amarelo, e nós tentamos nos aproximar para conhecer melhor o bebê.

Dois passos pra frente e o Luan ameaçou um choro. Dois passos para trás. O pai do Luan engolia seco uma preocupação, um desconforto que expressava num sorriso que quase dizia “obrigado gente, mas acho melhor não”.

Eu e o Xerife não somos de desistir fácil. Não podíamos apelar para as bolinhas de sabão. Se tratava de um quarto em isolamento, vestíamos roupa branca e máscara!

O que justifica o medo que causamos em Luan. Apelamos para um recurso estratégico: a caixinha de música. A aproximação pelas notas jamais poderá ser reproduzida pelos nossos atabalhoados pés humanos. Luan gostou, permitiu nossa aproximação. O xerife tocava e eu precisava fazer algo com todos aqueles músculos, então dancei ballet.

Apesar de toda a “habilidade” de dançarino, a parte do meu corpo que mais chamou a atenção de Luan foram as minhas mãos. Todos os dedos se movimentando ao som da música que saía da caixinha. Ele estava fascinado, soltava sons, contemplava aquele momento.

Conseguimos uma conexão muito especial. E então percebi que aquele colo que parecia desencaixado quando chegamos, agora era uma confortável poltrona para assistir o show.

Eu pude ver nos olhos do pai de Luan, que ele sorria com um alegria real agora, participava da brincadeira, olhava o filho interagir com mais vigor e atenção. Não aguentou e se emocionou.

Ao ver o Pai do Luan chorando ali na minha frente, enquanto o menino observava minhas mãos meu coração derreteu. Éramos quatro homens dentro de um quarto amarelo emocionados embalados por Let It Go.

Aquelas mulheres no corredor tinham razão, tinha alguém ali precisando de nós.

Muito especial este dia!

*Luan é um nome fictício que usamos para preservar a identidade desse menino tão especial.

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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mensagem enviada

  • Ana Carolina Elizio de Paula disse:

    Vc é realmente incrível meu primo lindo!!! A sensibilidade nos torna super- heróis reais!!! Um grande beijo da sua prima Carolina que te ama muito!
    Luz e sucesso a vc!!!

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