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Medo de monstros
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Medo de  monstros

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18/08/2015
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Escrever sobre este tema me fez relembrar de quando meu filho mais velho começou a ter medo de monstros por volta dos três anos de idade. Nesta época, antes de dormir, passou a  me pedir para ficar a noite com ele em sua cama até adormecer, com receio de que eles saíssem dos armários ou de baixo de sua cama. No começo acolhi a sua angustia com a minha presença mas com  o passar do tempo fui percebendo que, se eu mãe super-poderosa, continuasse a ser a única a defendê-lo de sua própria criação imaginária, isso demoraria para se chegar a um fim.

Dizer a uma criança nesta idade de que monstros não existem e que isto é fruto de sua imaginação é o mesmo que falar para um adulto assistindo um filme de terror para não se assustar com a cena  na tela, que esta é  apenas uma montagem, onde há um set de filmagem por trás do enredo e que o sangue do zumbi é apenas  tinta vermelha!

Sendo assim, sentei com meu filho e disse a ele: Moramos em um prédio e sempre que uma visita chega lá em baixo o porteiro nos interfona e  pergunta se ela pode subir, certo? Logo, quando o monstro aparecer na portaria, o Antônio ligará aqui e vai querer saber se o monstro é o seu convidado! 

“E o que o mostro vai falar para a família dele”?

Que ele foi na casa de um menino sem ser convidado e não deixaram ele entrar.

“ E o que a mãe dele vai fazer”?

Vai deixá-lo de castigo, para ele aprender a ter mais educação.

E assim, meu filho se apoderou do antídoto contra o  seu medo com os mesmos recursos que ele  mesmo o criou.

Entre eu e o meu filho, criamos a figura protetora do “porteiro Antônio“, um mediador entre  nós, que o possibilitou, não precisar mais da minha pessoa de carne e osso ao seu lado, pois a “mamãe/porteiro” passou a estar presente em suas noites, lhe defendendo e lhe protegendo  do mal que o afligia.

Este “entre nós“ é que Winnicott denominou de objeto transicional, que permite tanto ao bebê quanto a criança mais velha relacionar-se com algo de fora mas que é  sentido como parte de si mesmo. Este, tem a função de representar a mãe em sua essência, em seu afeto  proteção, podendo contar com este sempre que precisar, sentindo-se seguro sem mamãe por perto.  No meio da noite, por exemplo, o bebê pode se acalmar com a chupeta e a naninha, sem precisar da mãe  por inteira para retomar o sono.

Anos  mais tarde, foi a vez da minha filha ter o seu medo criado: o terrível Lobo Mau. Tão astuto e  esperto, o pobre porteiro nada poderia fazer para detê-lo já que o lobo era capaz de entrar pela janela do seu quarto localizado no 11 andar cercada de grades de proteção. Assim, minha filha e eu, desenvolvemos juntas uma poção mágica invisível super-poderosa. Toda noite, antes de dormir, espalhávamos o pó por todo o quarto e, com seu focinho enorme, o Lobo era capaz de cheirar um forte odor que o impedia de aproximar do nosso prédio.  Por muito tempo esta magia foi importante. Aos poucos a poção foi perdendo o seu encantamento,  a sua importância e a sua proteção. Assim como para o meu fiiho. Hoje aos 12 anos, ainda valoriza o porteiro, não mais por protegê-lo dos seres assustadores de sua infância mas de outros reais que existem por aí.

Novos medos  e outros monstros vão surgindo em cada um deles e, no ‘’entre-nós  vamos elaborando novos antídotos com poderes capazes de transformar o medo/angústia em criação e superação.

assinatura deborah-moss

 

 

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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