PESQUISAR
Quando uma aula do que fazer em momentos de apuros se torna uma conversa totalmente diferente
E daí que chegou o dia.
Não que falar de morte ou sexo seja fácil, mas ontem a coisa pegou, já que violência não é lá a minha praia.
E foi resolvida no supetão, no instinto, em frações de segundos.
Explico.
Cheguei pra pegar Isaac na escola ontem e ouvi:
– Mamãe, o coleguinha – nome e sobrenome – me empurrou na cadeira.
Sangue ferve! Mãe tem vontade de dar meia volta e aniquilar com a criatura infantoviolenta. Mas calma, respira, e lembra que essas coisas acontecem.
– E machucou filho? Você caiu?
– Não. Eu só sentei.
– E a tia viu?
– Não.
– Você contou pra ela?
– Não.
Sangue ferve de novo! Mãe quer extinguir do planeta a raça das criaturas infantoviolentas e das tias que não veem.
– E você fez alguma coisa? Empurrou ou bateu no amigo?
– Não.
Sangue em ebulição e autocontrole quase indo pras cucuias. Mas, mãe é bicho besta e metida a Nobel da Paz.
– Filho, é muito feio bater e empurrar não é?
– É.
– Mas a gente também não pode deixar os amigos baterem na gente.
Aí, me olha a cria com o maior ponto de interrogação do universo estampado na carinhafofademeuDeus…
– Seguinte, se o colega bater ou empurrar ou fazer algo que você não goste, conta pra tia.
– Mas…
Esse mas me veio assim “e se a tia não der muita atenção, hein mamãe???”
Aí eu soltei. E quando percebi já tinha dito. E não sei se vocês aprovam ou não, mas, analisando bem com todo o drama e a culpa que me cabem, tenho certeza que fiz a coisa certa…
– Aí, você empurra também e mostra pro colega que você não está ali pra ser empurrado. E que deve ser respeitado.
PAUSA!
Não é loucura. Já falamos muito de respeito em casa.
E também já observei Isaac brincando algumas vezes e vi que ele meio que tem vocação pra deixar essas coisas acontecerem. Deixa que outras crianças peguem seus brinquedos e tals. E eu não quero que ele sofra por não saber se defender.
DESPAUSA!
– Empurro forte?
– Não, amooor, a gente não pode machucar os amigos, nem ninguém, certo?
– Certo.
E fez-se um bico. Daqueles recordistas.
– Filho, só uma coisinha… Toda vez que acontecer algo que você não goste, pode vir falar para a mamãe, ok? Eu vou te ajudar do jeito que der e a gente resolve o problema.
Sorriu de novo, aliviado, mas o bico ficou ali e começa um choro.
Seguro o filhote e ele resmunga com os olhos cheios de lágrimas:
– É que o papai falou que eu tenho nariz de tuuuuurco….
– Hein?
– Ele falou que eu tenho nariz de tuuuuurco….
PAUSA!
Entendam aqui, zero preconceito. Descendente direto de árabes, lógico que maridex sonha e deseja que os seus traços étnicos apareçam no Isaac o quanto antes… E sim, ele tem dessas conversinhas com a cria. E também tem muitas respostas assim pra todos os amigos que brincam com o filho loiro e de nariz pequeno que eu dei a ele.
DESPAUSA!
Diante da reclamação do Isaac, o que falar?
– Ô filho, porque você está chorando? Nariz de turco não é uma coisa ruim. Seu papai tem nariz de turco e é lindo.
– Mas eu não queeeeeero…
– Vou te contar uma coisa: o seu nariz é bem pequenininho, não tem nada de turco.
Filhote sorriu, mas olhou desconfiado.
E eu tentei tirar aquela dúvida do ar:
– O que você acha do nariz da mamãe?
– Não é de turco.
– Pois eu acho que, mesmo o nariz do papai sendo lindo, o seu é mais parecido com o meu. O que você acha?
Aí ele me responde com a voz fanha de tanto apertar e esfregar as cavidades nasais:
– Eu acho que o meu é pequenininho, pequenininho.
– Então tá filho. Você entendeu?
– Entendi… Mas você conta pro papai que o meu nariz não é de turco?
mensagem enviada
Adorei! Texto bem escrito, humorado, inteligente. E uma mãe que sabe orientar e respeitar seu filho! Parabéns!!!
Obrigada Maria Lúcia.
um bjo e ótimo final de semana!