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O Impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem
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O Impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem

O Impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem

27/06/2017
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Organizei, em nome do Instituto Pensi, Fundação José Luiz Egydio Setubal, e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, o mini-curso “O impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem” (http://lms.ensinosabara.org.br/new-lms/#/).

Ele consta de cinco vídeo aulas, relativas ao primeiro artigo, com o mesmo título, produzido pelo Comitê Científico, do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), do qual fazem parte essas duas fundações. O presente texto é uma edição da primeira aula, da qual retiro e organizo, de forma escrita, o principal do que nela falei. O objetivo desta publicação é o de favorecer, quem sabe, uma leitura dos principais conteúdos do que se pode ver e ouvir no vídeo. Com isso, tem-se duas versões – uma oral e outra escrita – do mesmo assunto.

Nessa primeira aula, em resumo, apresento duas idéias a respeito do “impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem”. A primeira é a de que o desenvolvimento – para promover aprendizagens – deve ser considerado em sua visão integral, o que, na perspectiva da criança, significa considerar simultaneamente seus componentes cognitivo, afetivo, social e físico, além dos aspectos relacionados ao crescimento, maturação e estimulação favorável ao desenvolvimento das funções do cerebelo, em especial, as do cérebro. A segunda é a de que o desenvolvimento – para promover aprendizagens – deve ser considerado em sua visão integrada, o que, na perspectiva da criança, significa considerar simultaneamente sua condição dependente, mas não passiva, em relação aos adultos que cuidam e se importam com ela. Nas considerações finais, lembro o mote de nosso trabalho: cuidar bem e amorosamente da criança pequena, aqui e agora, é prover um futuro melhor para ela e o futuro do mundo, um futuro em que nós, os aposentados, doentes, velhos ou incapacitados, é que seremos dela dependentes.

lino_macedo_O_Impacto_do_desenvolvimento_na_primeira_infância_sobre_a_aprendizagem_27_06_2017

Desenvolvimento integral

O desenvolvimento integral da criança pequena envolve a consideração de diversos aspectos, todos eles cruciais para a vida, agora e sempre. Neste texto analisaremos apenas um deles, o que implica, como mencionado, em o adulto observar e promover os aspectos físico, cognitivo, social e afetivo ou emocional da criança. Observar e promover esses aspectos supõe considerar transformações estruturais e suas consequências no comportamento e relações com as pessoas e coisas. Por exemplo, por volta dos dois anos de idade, o andar e o falar da criança inauguram nova e importante fase de suas interações.

Desenvolvimento integral também implica em valorizar e acompanhar, favorecendo, processos de crescimento, por exemplo, da altura e peso. Implica, igualmente, avaliar maturações orgânicas ocorrentes nos primeiros anos de vida. Faz parte, também, desse desenvolvimento a estimulação das funções do cerebelo, em especial, as do cérebro.

O desenvolvimento integral, valorizado nas perspectivas acima mencionadas, traduz-se, no plano do comportamento, em aprendizagens, isto é, em aquisições que expressam mudanças para mais e para melhor, isto é, tanto no plano da extensão (aumentos na quantidade) como da compreensão (melhoria da qualidade).

 

Desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento cognitivo é uma das expressões do desenvolvimento integral da criança pequena. Ele se realiza no plano da construção do real, quando ela, ao pegar um objeto, por exemplo, observa, do ponto de vista sensorial e motor, temperatura, cor, forma, cheiro, textura. Essas observações são de natureza sensorial, motora ou perceptiva, pois a criança ainda não sabe dizer os nomes correspondentes a essas experiências, nem mesmo imaginar ou pensar sobre elas.  E são experiências de natureza cognitiva porque, no plano da inteligência, informam à criança características do objeto e que, do mesmo modo, qualificam as ações que ela realiza ao interagir com ele. São ações de bater, empurrar, fechar e abrir, guardar e recuperar, ver, lamber, cheirar, ouvir, tocar. Nessas situações, ela pode aprender sobre suas ações, pode aperfeiçoá-las, isto é, adquirir um olhar que vê, um paladar que discrimina sabores, uma língua que se mexe melhor na boca, um ouvido que discrimina e é sensível aos sons, uma boca que se relaciona com os novos e desconhecidos dentes.

 

Desenvolvimento emocional ou afetivo. O desenvolvimento emocional é outra parte constituinte do desenvolvimento integral da criança pequena. Ele se refere aos modos de ela expressar tristeza, raiva, alegria, de ficar próxima, de ficar sozinha, sentir necessidade de ser mais, ou menos, contida, de lidar com a dor e o sofrimento. Todas essas reações de natureza emocional vão delineando, mapeando e definindo uma forma de as pessoas sentirem e reagirem nas interações com as pessoas.

 

Desenvolvimento social. Para seu desenvolvimento social as crianças precisam, e muito, da comunicação e interação, em suas diversas formas, com adultos – pais, educadores e todos os que são importantes para elas. Se eles falam, riem, brincam, fazem palhaçadas, abracem, lêem histórias, considerem suas necessidades e interesses, efetuem trocas, por contato físico, visual, auditivo, então elas terão a quem imitar, terão referências preciosas para seu desenvolvimento. E o importante é que tais experiências aconteçam milhares e milhares de vezes nos diferentes contextos do cotidiano delas. E que sejam experiências amorosas, frequentes e, sobretudo, não abusivas ou ameaçadoras.

Gosto de usar a imagem, talvez imprópria, de que é bom a criança ficar “louquinha” para aprender algo significativo, porque transformador de seus processos de desenvolvimento. E ficar “louquinha”, porque teve a felicidade, e muitas crianças têm essa felicidade, de se relacionar com adultos que se comportaram com ela em seus primeiros anos de vida. Por exemplo, só fica “louquinha” para aprender a falar, crianças que no seu primeiro ano de vida, ouviram e conviveram generosamente com pessoas que se comunicaram com elas nos termos que mencionamos.

Outro aspecto importante ao desenvolvimento social é a criança viver e conviver em um mundo organizado por regras ou rotinas de espaço e tempo, rotinas de banho, de alimentação, de ser colocada para dormir, de trocar de roupa, de brincar ou cuidar da saúde.

 

Desenvolvimento físico. Desenvolvimento físico porque os primeiros dois anos de vida são fundamentais ao desenvolvimento orgânico, dos músculos, das coordenações sensoriais motoras e sobretudo do cérebro, quando bem estimulado para aprender a processar informações e a responder sensivelmente aos estímulos do mundo. Esse é um ponto fundamental: nos primeiros anos de vida as crianças têm direitos, precisam de, para seu desenvolvimento integral e integrado, de oportunidades de se aperfeiçoar, de serem estimuladas e poder responderem a esses estímulos cruciais ao seu desenvolvimento.

 

Desenvolvimento integrado

Outro ponto muito importante: crianças pequenas, com menos de três anos de idade, são dependentes dos cuidados adultos. Mas, não vale a pena confundir dependência com passividade. De fato, elas são dependentes. Aliás, todos nós, em algum nível, somos dependentes uns dos outros bem como da natureza e da tecnologia. A dependência é uma necessidade, não é um mal.

A busca de independência da criança pequena é resultante do fato de ser dependente, ou seja, de não saber ou não poder andar, falar, cuidar de si. Neste sentido, desenvolver-se e aprender são formas de superar a dependência, de ganhar autonomia. Mas, como já dissemos, não há independência total, pois somos partes de um todo, e partes que interagem e necessitam de outras partes. Dependência é uma condição do ser humano, pois, por exemplo, o ar que nos alimenta de oxigênio e outras substâncias não é, nem pode ser produzido por nós. Dependência, nesse sentido, significa interação. Crianças pequenas, vamos insistir, são dependentes. Todas precisam de adultos que cuidem, gostem e se importem com ela. Pobre da criança, por isso, que é abandonada, abusada ou que sofre negligências ou indiferença dos adultos.

Mas, dependência não é o mesmo que passividade. Porquê, ainda, não falam, não andam, não têm recursos para cuidar de sua alimentação ou saúde isso não significa que sejam passivas. Elas são sensíveis e reagem aos estímulos do mundo. Elas são ativas, ainda que dependentes. Por exemplo, já no primeiro mês de vida conseguem imitar o pai. Se ele põe a língua para fora, ela também põe. Se o leitor tiver interesse em observar a condição de sujeito ativo, interessado e autônomo da criança pequena, sugiro buscar no YouTube por vídeos de “Cesto de Tesouros”. Nele, estão brinquedos, objetos caseiros (tampa de panela, colher) ou familiares à criança (panos, papéis, chocalho). Diante desse cesto, a criança que já pode sentar, de 6 a 8 meses, brinca com os objetos – bate, escolhe, olha, põe na boca – isto é, interage com eles. Isto é, sem a intervenção direta dos adultos, ela se comporta de forma ativa, porque faz escolhas, e dentro destes limites é responsável por suas ações.

Temos, portanto, de forma integrada duas condições da criança. De um lado, dependente dos cuidados adultos. E, de outro, ativa e interessada em agir por si mesma. São formas integradas, porque complementares, a criança precisa das duas experiências – dependente e ao mesmo tempo autônoma. Mas, autônoma não quer dizer abandonada pelos adultos. O contexto organizado proporcionado por eles, a qualidade e a quantidade de sua participação, seu carinho e cuidado são fundamentais para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. Mas é importante, por igual, olhemos ao que a criança pode e quer fazer, ao que sabe fazer nos diferentes momentos de sua vida. Para isso, ela necessita de oportunidades para ser si mesma, de responder aos estímulos do mundo, agindo, brincando, comendo, fazendo escolhas.

Se formos bons observadores veremos que as crianças nos informam, comunicam, dizem se estão gostando, se querem, ou não, se sabem, ou não, se querem mais, ou se já é suficiente. Então a observação e a possibilidade de as crianças serem si mesmas são aspectos que valorizam o desenvolvimento nos primeiros anos de vida e isso pode ter um impacto grandioso sobre suas aprendizagens.

Assim, de forma integrada, as crianças vão, pouco a pouco, preparando-se para a grande jornada do ser adulto e ao grande desafio de, como adulto, contribuírem para o cuidado das pessoas e das coisas, enfim de tudo aquilo que lhe é próprio.

 

Considerações finais

Agradeço ao NCPI pela produção do texto que é o mote de nossas aulas. Espero que elas sejam úteis aos colegas que se interessam por esse tema, que elas lhes proporcionem material de estudo, discussão, fundamentação teórica e inspiração prática. Agradeço também às duas fundações (FJLES e FMCSV) a oportunidade que nos deram – à mim, à doutora Marcilia, aos professores Daniel e Rogério – de poder refletir sobre aspectos contidos no artigo que nos serve de referência.

Por fim, quero falar pelas crianças de hoje. Penso que elas também agradecem, ainda que sem o saber. Como mencionado, são elas que, amanhã, estarão em nosso lugar como adultos e seres produtivos de nossa sociedade. São elas que haverão de retribuir com seu bem estar, com uma vida, quem sabe, saudável, com trabalho da melhor qualidade, segundo suas diferentes escolhas profissionais. É em nome desse futuro, que o presente e o passado agradecerão.

Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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