PESQUISAR
E a conversinha apareceu de novo.
Mas desta vez não tive a sorte de contar com os fofos pinguiNHOs pra me ajudar nos exemplos.
A pergunta veio na lata.
Bem como eu achei que viria.
Mas por mais que a gente espere e saiba que ela vem, sempre bate aquele “deu merda” acompanhado de uma gaguejada sem graça.
E eu não escapei.
Só que também não me permiti amarelar.
– Mãe! Como é que os bebês vão parar alí dentro da barriga.
Ui! – veio uma voz estranha de dentro de mim.
Respirei fundo e pensei comigo mesma que tudo bem, nada de pânico.
Olhei no retrovisor e vi o menininho alí, de olhar curioso e já sem paciência pela demora na resposta.
– Como mãe? Como?
– Seguintes, Isaac, o papai e a mamãe namoram, bem namoradinho. Aí o papai coloca uma sementinha dentro da barriga da mamãe.
– E essa sementinha aí já é um bebê?
– Não. Para virar um bebê a sementinha precisa encontrar um ovinho.
– Ovinho de codorna?
– Não filho. No caso dos seres humanos, é ovinho de gente mesmo.
Olhei pelo retrovisor mais uma vez e não vi meu filho. Vi um ponto de interrogação bem seguro pelo cinto de três pontas da cadeirinha.
– Deixa eu explicar, Isaac. O papai é uma fábrica de sementinhas. A mamãe é uma fábrica de ovinhos. Quando os dois namoram, a sementinha tem que encontrar o ovinho dentro da barriga da mamãe. Pra aí sim começarem a formar um bebezinho.
– Que primeiro é bem pequenininho, né?
– É.
– Hummmm….
– E você entendeu, filho?
Isaac soltou uma risadinha toda besta. Até achei que ele ia virar pra mim e me lascar com um “isso então é sexo, mamãe?”, mas não.
A surpresa foi ainda maior.
– Achou engraçado esse negócio de semente e ovo, filho?
– Nãããão… É que eu pensei que o papai do céu mandava um raio lá de cima bem no meio da cabeça da mamãe. Aí o bebê ia morar dentro dela. Assim, pelo raio.
– E pela cabeça?
– É, ué. Pela cabeça.
– Interessante filho, mas acho mais prático que a sementinha entre por outro lugar.
Aí me dei conta da cilada que me meti.
Como assim falar de “outro lugar”, Carolina?!?!?!
Então esperei pelos segundos mais longos de toda a eternidade.
Já imaginando quantas perguntas Isaac iria fazer sobre o tal outro lugar.
E logo ele suspira e abre a boca:
– Mas e o papai do céu nisso tudo? Achei que ele ajudasse de algum jeito.
Senti alí a decepção religiosa, e me aventurei em outro assunto polêmico:
– Ele ajuda sim, filho, mas desse negócio de plantar sementinha ele não entende muito não. Até onde eu sei, né?
– Hummm… então aumenta o som que eu gosto muito dessa música.
…