
Método e segurança na assistência reforçam cultura interna e reconhecimento externo
Visita in loco, método rastreador e evidências coerentes conectam o que está escrito ao que acontece à beira do leito, alimentando uma cultura que aprende
Para uma família que confia a saúde de seu filho a um hospital, uma questão frequente é saber se a promessa de excelência é real. A acreditação internacional, como o selo de ouro da Joint Commission International (JCI), existe para responder a essa pergunta. Não se trata de um troféu em uma parede, mas de um rigoroso processo de verificação que olha para o que mais importa, isto é, a coerência entre o que está escrito nos protocolos e o que acontece, de fato, à beira do leito.
“Não é a primeira vez que o hospital passa por essa avaliação. Estamos indo para a nossa quarta reacreditação”, contextualiza a dra. Heloisa Ionemoto, gerente médica de educação continuada do Instituto Pensi. “Essa jornada nos deu uma bagagem imensa no sentido de valorizar a cultura da qualidade. A cada ciclo, a JCI adiciona novas camadas de segurança, nos desafiando a evoluir em temas como saúde mental dos cuidadores e sustentabilidade. É uma melhoria contínua.”
A Joint Commission surgiu nos Estados Unidos como entidade de acreditação hospitalar; a experiência em outros países, incluindo o Brasil, onde começou com o Einstein, levou à criação da JCI para hospitais fora dos EUA, explica o dr. Francisco Ivanildo Oliveira Júnior, gerente do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) e de Qualidade Assistencial do Sabará Hospital Infantil. “Hoje é uma instituição que tem mais de mil serviços de saúde acreditados no mundo inteiro, com normas próprias escritas por um comitê internacional.”
O manual atual da JCI possui aproximadamente 1.270 elementos de mensuração, divididos em 18 capítulos. Esses elementos são as exigências objetivas que os avaliadores observam numa auditoria. Os capítulos cobrem assistência e gestão: padronização das avaliações do paciente, cuidado centrado no paciente, prevenção de infecção, direitos do paciente, indicadores de segurança e qualidade e também temas como segurança predial, combate a incêndio, sistemas utilitários, fluxo de medicamentos, seleção e avaliação de fornecedores e qualificação de profissionais.
Detetives do cuidado
O coração da avaliação da JCI é o que o dr. Francisco chama de “método rastreador”. Imagine um detetive que, em vez de investigar um crime, investiga a jornada de cuidado de um paciente. Ele segue os passos da criança desde sua chegada ao hospital, passando por exames, procedimentos e pela internação, até o momento da alta. Em cada etapa, ele pergunta: “O que o protocolo diz que deveria acontecer aqui? E o que realmente aconteceu? O registro comprova essa ação?”. É a busca incansável pela coerência entre a promessa e a prática.
“Todo o processo de avaliação é baseado num método chamado de rastreador”, que segue a jornada do paciente “desde a entrada até o momento da alta”, com foco na continuidade do cuidado. A pergunta é única: o que está escrito aparece no leito, no corredor, no centro cirúrgico e na orientação de alta?
A acreditação tem ciclo trienal. A visita dura cinco dias e é realizada por três profissionais: um médico, um enfermeiro e um administrador hospitalar. Eles têm acesso a tudo, analisam indicadores, conversam com equipes e percorrem unidades para verificar como os processos funcionam na rotina.
Agora em 2025, a JCI implementou mudanças significativas. “Até a edição anterior, o elemento de mensuração poderia ser classificado em não conforme, parcialmente conforme ou conforme”, explica o dr. Francisco. “Agora, acabou o ‘parcialmente conforme’. Ou você está conforme ou não está. Isso aumenta o grau de exigência e garante a melhoria contínua.”
Outra novidade é o monitoramento contínuo: “Para corrigir o intervalo muito longo entre uma acreditação e outra, agora teremos cinco pontos de contato — revisões que acontecerão a cada seis meses”, detalha o dr. Francisco. “Nossa próxima revisão já está marcada para 28 de fevereiro de 2026.”
Como o hospital garante que suas equipes estão prontas para atender a esses milhares de requisitos? A resposta está na educação continuada, detalhada na primeira matéria desta edição. Treinamentos obrigatórios de urgência, as trilhas de aprendizagem por setor e o uso constante de simulação e debriefing são as ferramentas que constroem a prontidão exigida pela JCI.
O papel do Pensi na prontidão
Treinamentos de urgência e emergência usam a sala de simulação realística e têm conteúdo validado pelo Pensi, que hospeda as trilhas na plataforma. A integração de novos profissionais também carrega conteúdo produzido e avaliado pelo Pensi.
Em paralelo, o hospital adota recertificações periódicas (por exemplo, PALS bienal) e métodos pedagógicos como simulação e debriefing, além do modelo 70/20/10, com multiplicadores que levam o conhecimento ao plantão. Esses elementos de formação aparecem na visita como evidências de prontidão.
No fim, o que a renovação de um selo internacional significa para uma família? “O que oferecemos é o compromisso de melhoria contínua — fazer com que cada oportunidade, inclusive aquelas em que aconteceram falhas, promova crescimento dentro de um processo totalmente transparente e com cultura não punitiva”, resume o dr. Francisco.
Para os pais, essa é a certeza de que, por trás de cada procedimento, existe um sistema robusto, constantemente treinado e verificado, trabalhando silenciosamente para proteger o que eles têm de mais precioso. “O fato de o hospital manter a acreditação significa que temos uma preocupação genuína com a segurança do paciente. E segurança é o pilar fundamental da qualidade.”
A ênfase não se restringe ao período intra-hospitalar. A JCI também se certifica de que a transição se realize com informação clara, educação para o autocuidado e caminhos de seguimento. “Não adianta nada a gente cuidar de forma excelente aqui dentro do hospital, se depois ninguém vai dar continuidade a esse cuidado”, ensina o dr. Francisco.
Por Rede Galápagos
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