
90º Diálogos de Bioética discute desafios éticos no cuidado de crianças com transtornos alimentares
14 —Evento da Fundação José Luiz Setúbal reuniu profissionais para refletir sobre a relação entre ética, clínica e humanização no tratamento pediátrico.
O 90º Diálogos de Bioética da Fundação José Luiz Setúbal (FJLS), realizado no dia 24 de setembro, no Centro de Treinamento Sabará (CTS), reuniu profissionais do Sabará Hospital Infantil e do Instituto Pensi para uma reflexão profunda sobre os desafios éticos no cuidado de pacientes pediátricos com transtornos alimentares. O evento, aberto ao público, contou com a abertura do Dr. José Luiz Egydio Setúbal, presidente da FJLS, e moderação de Adriano Bechara e João Cortese, coordenadores do Núcleo de Bioética.
Com o tema “Desafios éticos no cuidado de um paciente com transtorno alimentar”, o encontro apresentou um caso clínico real de anorexia nervosa em uma criança de 10 anos, debatido sob as perspectivas médica, de enfermagem e psicológica. As palestrantes Carla Faraco, hospitalista; Laís Lira Figueiredo, enfermeira; e Milena Nazario, psicóloga — todas do Sabará Hospital Infantil — compartilharam experiências e reflexões sobre as complexidades clínicas, emocionais e éticas envolvidas no tratamento.
Entre a técnica e o afeto: decisões que exigem sensibilidade
Durante a apresentação, as profissionais destacaram o aumento da incidência de transtornos alimentares na infância e adolescência, como anorexia, bulimia e compulsão alimentar, ressaltando a importância de abordagens multidisciplinares e humanizadas. O caso apresentado evidenciou o impacto desses distúrbios no corpo e na mente, exigindo decisões delicadas diante de dilemas éticos como autonomia versus beneficência, liberdade versus segurança e negociação terapêutica versus coerção.
A linha do tempo clínica e ética mostrou os momentos críticos do tratamento, desde a perda de peso severa e internação hospitalar até a reconstrução da autonomia alimentar da paciente. Em cada etapa, surgiram questionamentos sobre o limite da intervenção médica e o papel da equipe na defesa da vida e da dignidade da criança.
A psicóloga Milena Nazario trouxe uma análise profunda sobre a dinâmica familiar envolvida no caso, mostrando como a recusa alimentar funcionava como expressão simbólica de sofrimento e busca por diferenciação. Ela ressaltou a importância de envolver a família no cuidado e de oferecer um ambiente acolhedor que una técnica e afeto, promovendo a recuperação integral da paciente.
As discussões levantaram reflexões sobre o protagonismo da criança nas decisões clínicas, a ética na internação prolongada e o desafio de equilibrar segurança e autonomia no cuidado pediátrico. Segundo as palestrantes, não há respostas únicas para esses dilemas — cada caso exige sensibilidade, escuta ativa e colaboração entre diferentes especialidades.
O encontro reforçou que a bioética é essencial para orientar práticas de cuidado humanizado, unindo ciência, empatia e reflexão. Como destacaram as profissionais, cuidar de uma criança com transtorno alimentar vai muito além de restabelecer o peso corporal — é reconstruir vínculos, respeitar tempos e promover a vida em sua totalidade.
