“Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo…”.
Esta é a introdução do belo texto “Arte de ser avó”, de Raquel de Queiroz. Para quem quiser lê-lo inteiro, veja o link no final da postagem.
Hoje, deixei de escrever sobre saúde para comentar algo mais pessoal: a experiência de ser avô. Há quase 4 anos, minha filha Bia trouxe ao mundo o Tomás, meu primeiro neto. Por esses dias, nasceu o David, seu irmão, e por esta razão resolvi escrever sobre a delícia de ser avô.
Apesar de ser pai de 3 filhos, só com a chegada do Tomás senti que cumpria meu papel biológico. Explico! Percebi que havia feito o que é esperado dos seres vivos, a preservação de sua espécie. Ao ver aquele meninozinho no berço aquecido da maternidade, ainda sem roupa e sendo examinado pelo amigo Durval, consegui sentir a beleza da continuidade da vida.
Hoje, o Tomás, com quase 4 anos, é um menino sadio e muito esperto, gosta de brincar com Lego, ouvir histórias, ler livros e ver vídeos de animação, brincar com os smartphones ou tablets, ir para a piscina, dar de alimentar aos peixes do lago ou aos coelhos da fazendinha. É muito gostoso estar com ele e, quando dorme em casa, é impossível não se lembrar de outra parte do texto:
“E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.”
Agora chegou o David e espero que ele também seja um menino saudável e que traga muitas felicidades às pessoas ao seu redor.
Ser avô não é “estragar os netos” como se diz por aí. Afinal, os pais já têm muito trabalho para criá-los bem. Ser avô é ser um pai sem as agruras da paternidade, é aproveitar os momentos gostosos das crianças sem ter que necessariamente aguentar os ruins. Ser avô é muito bom!
“Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague…”
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Fonte: A Arte de Ser Avó (O brasileiro perplexo, 1964.) | Rachel de Queiroz
Atualizado em 20 de maio de 2024