No domingo, dia 17 de junho, houve pelo Brasil todo, passeatas a favor do parto em casa. O assunto polêmico foi levantado, desta vez, por um programa de TV, onde um professor da UNIFESP, renomada universidade paulista, expunha sua opinião favorável ao parto domiciliar em casos muito bem estabelecidos. Para aumentar a discussão, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ), por meio de um conselheiro, pediu ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) que advertisse o colega paulista por ir contra às resoluções dos conselhos regionais de medicina sobre o assunto.
Em fevereiro deste ano, publicamos neste blog o artigo: “Parto em casa, é mesmo seguro?” que levantou alguma polêmica. O texto faz referência a uma ativista australiana do parto domiciliar que morreu após o parto de sua segunda filha, apesar de toda a assistência e de ter ido para o hospital. A filha sobreviveu e passa bem.
Volto ao assunto não porque acredito que cesárea seja o melhor, longe disso – cesáreas, como todo procedimento médico, têm riscos e indicações, se os médicos e pacientes brasileiros preferem fazê-las, cabe a nós criticar e orientar a população para os riscos destes atos. Como já foi dito anteriormente, as mulheres e bebês morriam a uma taxa assustadora no século XVIII e XIX, tanto em partos domiciliares como em hospitalares, o que não é a realidade da cidade de São Paulo. Embora os indicadores brasileiros estejam melhorando, eles ainda estão longe dos de países desenvolvidos.
Ao contrário do que alguns fanáticos dizem, o parto hospitalar é um ganho das mulheres. As queixas se dão muito mais com relação ao afastamento mãe/bebê, taxas de infecção hospitalar e cesáreas com datas marcadas. Todos estes argumentos poderiam ser derrubados, bastando uma política de conscientização dos médicos e de maternidades, assim como também das mães.
A indicação de parto domiciliar pelo colega da UNIFESP e dos artigos publicados em revistas médicas pelo mundo restringe-se a partos de baixíssimo risco, em mães de determinadas faixas etárias, saudáveis, com pré-natal bem feito e acompanhado de perto, sem intercorrências, como diabetes gestacional, aumento de pressão etc. O ato de “dar à luz” deve ser acompanhado por médico e por pessoas capacitadas e com um serviço de emergência preparado para atender qualquer intercorrência em tempo hábil. Como se vê, um procedimento para poucos.
Outra coisa que causa confusão é o chamado “parto natural”, com música ambiente relaxante, dentro da água etc. Nada menos “natural”, já que só peixes e mamíferos aquáticos têm filhos dentro da água.
Parto é um momento de estresse e não de relaxamento, deve envolver uma atitude proativa por parte da mãe e não de relaxamento. As pessoas que estão dando assistência devem estar atentas e não relaxadas, pois é um procedimento de risco. Lembrando que pelo menos 1% dos partos de baixo risco (tanto domiciliares como hospitalares) acabam tendo complicação.
Atualizado em 14 de março de 2024