Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Assistência, pesquisa e ensino na construção do profissional de saúde do futuro

Os desafios e oportunidades conjuntos para PENSI e Sabará em 2023 — uma entrevista com a dra. Fátima Rodrigues Fernandes e o dr. Felipe Lora

 

Eles são pediatras com o DNA da Santa Casa de São Paulo, faculdade de ciências médicas pela qual se formaram. A dra. Fátima Rodrigues Fernandes, diretora executiva do PENSI, se especializou em alergia, imunologia pediátrica e pesquisa clínica. O dr. Felipe Lora, que recentemente assumiu como CEO do Sabará Hospital Infantil, é especialista em endocrinologia pediátrica. À frente das duas instituições ligadas à Fundação José Luiz Egydio Setúbal, eles estão animados e focados em trabalhar sinergicamente em 2023 para buscar com suas equipes resultados práticos e duradouros da missão da fundação: promover a saúde infantil por meio da assistência, desenvolvimento de pesquisas e disseminação do conhecimento. Na conversa a seguir eles falam sobre engajamento, formação, expansão e perenidade.

Notícias da Saúde Infantil — Quando os caminhos de vocês se cruzaram?

Felipe Lora — A gente não se conhecia antes. A instituição nos aproximou. Eu cheguei em 2013 ao Sabará, no momento da sua virada, certo, Fátima? Quando você estava começando o PENSI. Curiosamente entrei no seu posto, na função que você ocupava no hospital, de gerente do pronto-socorro. Então, no início, as conversas entre nós giravam em torno disso.

Fátima Rodrigues Fernandes — É verdade. Eu vou me atrever a complementar dizendo que, embora não de uma maneira síncrona, a gente já se “conhecia” antes, porque tivemos uma trajetória parecida, pelo menos num pedaço, que é a passagem pela Santa Casa, uma instituição que, assim como o PENSI e o Sabará, tem característica social, prima pelo ensino, pesquisa e pela qualidade. Quando você chegou, pelo menos da minha parte, teve essa empatia de perceber que pensamos parecido, que focamos em um propósito comum, tema no qual falamos tanto hoje em dia. É muito legal ver a sua ascensão e concretização neste momento como CEO do hospital.

Notícias da Saúde Infantil — O lema da Fundação José Luiz Egydio Setúbal é “infância saudável para uma sociedade melhor”. O que vocês, pessoalmente, entendem por infância saudável?

Fátima — Ter saúde não é só não ter doença. Pensar em infância saudável,  na saúde é pensar no bem-estar físico, psicológico e social. Cuidar da criança e da família da criança num espectro mais amplo: essa é a premissa da OMS, da fundação, e cada um de nós, no seu papel, pode contribuir um pouco por isso e para isso. E o resultado não pára na infância, mas repercute, e muito, na vida adulta, já que promove melhorias na sociedade. Hoje há evidências científicas mostrando que o melhor investimento monetário possível para a sociedade é na infância.

Felipe Lora — Concordo. Você pode não estar doente, mas se ficar deitado, parado, você vai ficar doente. Nem que seja psicologicamente doente. Então, sempre é importante estar jogando essa bexiga da saúde infantil para cima. E ela vai caindo e você bate de novo nela para cima. Para as coisas não ficarem paradas, elas precisam de um estímulo constante para evoluir. A infância saudável é assim: demanda promoção e promotores o tempo todo.

Notícias da Saúde Infantil — Enquanto gestores do Sabará e do PENSI, como vocês estimulam e engajam as equipes, no dia a dia, para colocar em prática esse propósito?

Felipe Lora — Eu assumi como CEO em setembro de 2022 e revisitamos toda a estratégia com o intuito de deixar bem claro o propósito do hospital em relação à fundação. Como dizia o poeta Vinicius de Moraes, “amigo você não faz, você reconhece”. Aqui no trabalho é a mesma coisa. É possível reconhecer na hora quem aplica o propósito nas suas funções e rotinas. O propósito, claro, está muito atrelado à figura do instituidor, o dr. José Luiz. As pessoas o admiram bastante aqui e acabamos sendo os braços dele. Então, não existe um mecanismo formal. Quando assumi, falei no meu discurso: “Se coloca no lugar do pai do paciente: se for aceitável o que você está fazendo, você não está errando, está tudo certo”. Acredito que isso corre na veia. Na assistência é mais fácil porque o pai está lá na sua frente. Eu acho que é um desafio maior para o pessoal administrativo, por exemplo. Estaremos sempre olhando nessa direção.

Fátima — Esse esforço de transmitir valores que você está dizendo, Felipe, é fundamental. Cabe a nós replicar em todos os níveis hierárquicos e transformar em realidade. No PENSI, é fácil enxergar como isso ocorre ou pode ocorrer, já que quase tudo que fazemos tem muita relação com melhorias na parte assistencial: a educação continuada, que treina para os cuidados nas diferentes áreas, a parte do ensino propriamente dito, que agora até é reforçada pelo programa de residência médica, e as pesquisas, que trazem as evidências das melhores condutas e das inovações em saúde infantil. O nosso desafio é motivar e fornecer estratégias e recursos para que esse modo de cuidar Sabará se transforme em conhecimento, que possa ser replicado tanto dentro como fora do Sabará.

Notícias da Saúde Infantil — Você se refere a essa visão mais holística sobre a criança, certo?

Fátima — Isso. O nosso programa de residência, por exemplo, foca muito nesse ponto. Aí entram também os projetos sociais, em que precisamos conhecer bem as populações vulneráveis e entender como é que podemos usar os recursos da fundação de maneira tangível e real para esse fim.

Notícias da Saúde Infantil — O PENSI Ambulatórios Pediátricos (PAPE), fruto de um acordo de cooperação firmado entre a Secretaria Municipal de Saúde, o PENSI e a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, já proporciona atendimento para as crianças carentes, via Sistema Único de Saúde. Qual a oportunidade que vocês enxergam, especialmente para o corpo clínico do Sabará?

Felipe Lora — O grande ativo do hospital são seus especialistas, o conhecimento que circula aqui. Para nós isso é interessante sob vários pontos de vista, inclusive o logístico. É uma oportunidade de segurar esse profissional aqui com mais uma forma de atuação, seja como um emprego, seja como propósito. Quero dizer, há a possibilidade de aquela pessoa que tem o nosso DNA atuar também na parte social. Então, isso é muito importante para o nosso corpo clínico como propósito. É mais uma camada de depuração daquele profissional que quer estar conosco. O caso da residência, como você falou, Fátima, é emblemático. A gente coloca na formação o nosso DNA, o hospital absorve essa pessoa, e esse ciclo vai se completar a partir de agora: quando esse profissional atender no PAPE, publicar um trabalho… Ele completa o ciclo total, voltando para o PENSI.

Fátima — Eu queria voltar para essa questão mais filosófica do propósito e de como a gente executa esse propósito. São várias formas. Quando o profissional faz um procedimento, uma consulta, um atendimento com qualidade, com paixão pela criança, pela sua família, pela situação em que ela está, a gente já está preenchendo esse propósito. Mas eu acho que a instituição pede mais. Até porque é uma instituição que está indo bem, está saneada financeiramente, e esse propósito tem que ir além da nossa prática de excelência, ultrapassar os muros do Sabará. Nesse sentido, eu acho que a gente tem um espaço para aproximar o desejo da ação. Talvez as pessoas ainda não tenham clareza de como elas podem, de fato, executar isso. Nesse sentido, o PAPE é uma oportunidade.

Notícias da Saúde Infantil — Os médicos são remunerados para atuar no PAPE?

Fátima — Sim, mas não no mesmo nível do Sabará. Porque a gente se comprometeu com uma fila de espera para os atendimentos da prefeitura. Estamos concretizando também uma porta de entrada para os filhos dos cuidadores nas especialidades de neuropediatria, endocrinologia, gastroenterologia, imunologia e alergia, pneumologia, nutrição, fonoaudiologia e agora oftalmologia. Sempre foi algo muito desejado por eles: que os filhos pudessem ser atendidos por profissionais do Sabará. É importante olhar para o futuro dessas crianças.

Notícias da Saúde Infantil — Falando em futuro, quais são as competências do pediatra do futuro?

Felipe Lora — O principal desafio do pediatra do futuro é não perder as competências do passado, na minha opinião. Entendo que o pediatra do futuro vai ter a formação do pediatria de sempre, mas com muito mais informação — isso vale para todas as especialidades. Então ele precisará se adaptar na questão de lidar com pessoas, já que a medicina cada vez mais permite que você opere por um robô e que não tenha um contato direto com o paciente. Não lidar não só com o paciente, mas com a equipe. Estou falando de ambiente corporativo e de ambiente de liderança mesmo: a liderança médica, uma liderança assistencial do que precisa ser feito. Saber como conversar com a enfermeira, com a fono, com os pais, com a fisioterapeuta, com todo mundo… Então, acho que essa questão de educação é uma competência que o médico em geral não tem, porque antigamente era só falar, e pronto. Talvez, se fosse colocar uma única competência, eu colocaria para o pediatra a negociação, uma das principais competências para o médico do futuro.

Fátima — Está super completa a sua resposta, Felipe. Eu compartilho bem dessa visão. Acredito que o conhecimento do médico hoje em dia é muito mais tangível do que era no passado. Há 20, 30 anos, para você fazer uma tese, por exemplo, você tinha que ir centenas de vezes à Biblioteca Regional de Medicina, que tinha o maior acervo de periódicos médicos e de livros. Tudo de maneira manual e lenta: senha, fila, pesquisa, xerox… Hoje você dá um clique e tá lá. Para quem tem vontade de se atualizar, até mesmo de fazer outras subespecialidades dentro da pediatria, é muito tranquilo do ponto de vista factual, né? O que eu acho que a gente tem um risco muito grande de perder, principalmente pelo avanço da tecnologia, dos métodos digitais, é a convivência com as pessoas, perder o olho no olho, a conexão, o senso de humanização, que é uma das grandes qualidades na instituição. Não só você acertar o diagnóstico, mas, por exemplo, estabelecer uma boa conexão com a família, o que vai facilitar a adesão ao tratamento. Além disso, existem outras vantagens; um plantonista do PS, se ele tem uma conexão boa com as equipes com as quais trabalha, ele consegue trocar um plantão, consegue uma semana de folga, ele consegue discutir um caso difícil. Essa conexão é importante.

Notícias da Saúde Infantil — Qual é o maior desafio do Sabará e do PENSI para 2023?

Felipe Lora — Diria que em 2023 o Sabará começa uma nova jornada. Nunca uma gestão se diferenciou tanto da anterior. Não vou dizer diametralmente oposta, mas muda o lado da linha, então vem com novos ares. O meu desafio é sinalizar isso para todo o corpo de cuidadores, não só o corpo clínico. A começar pela pessoa que está abrindo a ficha cadastral do paciente. E algumas ações vêm sendo tomadas para isso. Inclusive, contratamos um diretor específico de pessoas, profissional que nunca tivemos. Então, o principal desafio do Sabará é mudar a vela e comunicar ao corpo clínico e ao corpo interno: “Ó, a banda está tocando outra música agora”. Acredito que esse é o pensamento para 2023. Por quê? Porque isso é o início de uma caminhada de real expansão, o crescimento de que o dr. Zé Luiz tanto fala e projeta. Então 2023 é o ano em que a gente enxerga as coisas com bastante clareza. Trocamos as lentes por um binóculo para focar na visão de longo prazo. Buscar a perenidade da instituição.

Fátima — Acho importante começar falando que 2022 foi além do que a gente esperava em relação aos resultados, o que trouxe um frio na barriga de como vai ser daqui para a frente, já que várias coisas que a gente nem imaginava foram acontecendo. Uma parceria muito grande internacional que está se viabilizando, a possibilidade concreta agora de a gente evoluir para uma instituição de ensino superior, os projetos sociais que antes eram bem etéreos e agora estão ficando robustos. Então, acho que para 2023 a gente entra num processo também de repensar a nossa estrutura física, de concretizar esses projetos sociais que eram virtuais até 2021. Esse crescimento vai muito na direção da vela de que o dr. Felipe falou, da conscientização e maior envolvimento das equipes do Sabará e do PENSI, e não só as equipes assistenciais, mas também as equipes de suporte administrativo. Porque tudo isso que a gente tá falando não se concretiza sem essa sinergia de atividades comuns.

Por Rede Galápagos

 

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