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Atenção para a autolesão não suicida em crianças e adolescentes
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Atenção para a autolesão não suicida em crianças e adolescentes

Atenção para a autolesão não suicida em crianças e adolescentes

30/04/2025
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Dr. Thiago Andrade Pedrosa, psiquiatra, em palestra no último congresso Sabará-PENSI de Saúde Infantil: ato de se ferir nem sempre reflete um desejo de morte; pode ser uma tentativa de aliviar tensões emocionais. Foto: Acervo PENSI

O tema do suicídio continua cercado de incertezas e receios. Há quem diga que falar sobre ele amplia sua visibilidade e pode incentivar o ato. Por outro lado, há quem defenda que discutir o assunto de forma aberta é essencial para a construção de um ambiente de suporte em saúde mental.

O psiquiatra Thiago Andrade Pedrosa trouxe essa discussão ao 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, abordando o tema “Nem toda autolesão é suicida: como diferenciar?”. Durante sua apresentação, ele explicou que, embora o ato de se ferir provoque alarme, nem sempre reflete um desejo de morte; é uma tentativa de aliviar tensões emocionais.

Professor de medicina na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), Pedrosa destacou ainda que entender os contextos por trás desse comportamento é fundamental para apoiar crianças e adolescentes em sofrimento. “O adolescente é como uma Ferrari com freios de Fusca”, comparou, ilustrando a impulsividade característica dessa fase.

Ele reforçou também a importância de um ambiente acolhedor: “Conhecer os amigos dos seus filhos e os pais desses amigos é fundamental para compreender seu entorno. Criar um ambiente seguro, sem punições ou violência, ajuda a abrir espaço para que questões sejam trazidas sem medo”.

A fala de Pedrosa nos lembra que, em meio ao desafio de compreender a complexidade das emoções infantojuvenis, a escuta e o suporte são caminhos essenciais para prevenir tragédias e promover bem-estar.

A partir da palestra no 7º Congresso e de uma entrevista exclusiva concedida posteriormente, destacamos pontos essenciais sobre a autolesão não suicida em crianças e adolescentes.

Como diferenciar autolesão não suicida de tentativa de suicídio?

Pedrosa explica que a principal diferença é a intenção. “A criança ou adolescente que se fere busca alívio, não a morte. Se a ideia, mesmo com métodos não letais, for acabar com a própria vida, como tomar alguns comprimidos, isso é considerado tentativa de suicídio.” Ele acrescenta que a autolesão não é um diagnóstico, é um fenômeno presente em vários transtornos mentais.

Qual a incidência de autolesão entre crianças e adolescentes?

Uma revisão recente de 2023 indica que 19,3% das pessoas terão algum episódio de autolesão ao longo da vida. Embora se diga que o fenômeno seja mais frequente em meninas, Pedrosa alerta que há nuances: “Culturalmente, mulheres falam mais sobre sentimentos e buscam ajuda, enquanto meninos tendem a usar métodos mais físicos, como socos na parede. Isso reforça um estereótipo que prejudica ambos os gêneros”.

Quais os principais desafios no tratamento?

Para Pedrosa, o principal gargalo é o acesso ao atendimento especializado. “Crianças e adolescentes chegam ao psiquiatra após passarem por vários especialistas. Ainda há um estigma em torno da psiquiatria, mas, quando as famílias dão esse passo, já estão mais abertas e comprometidas com o processo.”

Ele destaca que o trabalho com crianças é favorecido por uma rede de apoio familiar: “Por mais disfuncional que seja, a maioria das famílias que procuram atendimento compartilha o objetivo de ajudar a criança”.

Como os dados sobre autolesão se comparam entre jovens e adultos?

Pedrosa, que não trabalha com adultos desde 2013, aponta que 6% dos adultos têm comportamentos autolesivos. “As causas são semelhantes: regular emoções e lidar com frustrações. No entanto, enquanto a incidência é alta entre 10 e 24 anos, cai drasticamente após os 25, quando o desenvolvimento neurobiológico se estabiliza.”

Quem são os mais vulneráveis?

Adolescentes de minorias sexuais são seis vezes mais propensos a praticar autolesão. “A ausência de laços afetivos seguros e o medo da rejeição aumentam o risco. Ser bissexual, gay ou trans eleva essa vulnerabilidade. Precisamos de políticas públicas que ampliem o acolhimento e o suporte.”

A desigualdade socioeconômica influencia na autolesão?

A pobreza agrava as condições de vida; entretanto, Pedrosa alerta contra a patologização da vulnerabilidade econômica: “Não podemos atribuir tudo à pobreza. Fatores individuais e familiares também importam. No entanto, o acesso ao tratamento é limitado, e a permanência no cuidado é desafiadora para quem enfrenta barreiras financeiras”.

Autolesão não suicida pode levar ao suicídio?

Estudos recentes mostram que a autolesão recorrente é um preditor mais forte de tentativa de suicídio do que uma tentativa prévia. “É um sinal de alerta importante, pois indica sofrimento intenso e a presença de transtornos mentais.”

A pandemia de covid-19 agravou os casos?

Sim. Pesquisas dinamarquesas apontam que o vírus não tem impacto direto, contudo o isolamento imposto pela pandemia foi um fator determinante. “Muitas crianças sofreram em ambientes domésticos já marcados por insegurança. Os dados de violência sexual dentro do núcleo familiar são alarmantes.”

Quais sinais devem ser observados pelos pais?

Pedrosa lista sinais de alerta, como queda repentina no desempenho escolar, perda de habilidades adquiridas (como controlar esfíncteres), medo do escuro e pedidos para dormir com os pais. “O adolescente pode querer se afastar dos pais, e isolamento extremo e rompimento de vínculos são preocupantes. Entre as crianças pequenas, a perda de interesse por brincadeiras é um sinal importante.”

Como a sociedade pode contribuir?

Pedrosa defende a ampliação do olhar das escolas e a valorização de comportamentos positivos: “A sensação de não pertencimento é central para muitos jovens que se autolesionam. O diálogo deve ser constante, não apenas quando há problemas. Muitas vezes, tudo o que eles querem é alguém que os escute sem julgamentos”.

Por Rede Galápagos

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