Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

A crise econômica e a saúde bucal

A crise econômica e a saúde bucal

A crise econômica e a saúde bucal

O Brasil está em crise, só se fala nisso. Na economia, no futebol, na falta d’água, na violência incômoda do dia a dia, no dólar que sobe e no real que cai, no aumento do desemprego e na esperança que se esvai em nossos corações. E parece que a crise não vai ser curta não, o crescimento do país é pífio e as perspectivas sombrias. Quando você vê, as lojas estão vazias, passagens aéreas em promoções malucas, é porque a coisa tá feia. E não precisamos nos esforçar para lembrar que há pouco tempo as autoridades se gabavam que emprestavam dinheiro para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e que a crise aqui não passava de uma marolinha. Agora já estão dizendo que a culpa é do dólar em alta e que a onda vai passar. Vai sim, pela percepção que temos diariamente a coisa tá mais para tsunami do que ondas para surfar.

Não, você não caiu em uma coluna de economia ou de política, esse é um post para refletir o que essa crise tem a ver com nossa saúde e a saúde dos nossos pequenos, especificamente na saúde bucal.

De maneira geral, ao que pesem as frases otimistas tais como: “em tempos de crise é que as oportunidades aparecem”, as pessoas querem mais é se resguardar, pois não estão vendo uma luz no fim do túnel em curto prazo. Pois em tempos de vacas magras é bom mesmo começarmos a racionalizar nossos gastos, cortarmos os supérfluos e economizarmos para fechar as contas no fim do mês. O problema está quando essa economia é mal feita.

Uma das acepções da palavra economia, no dicionário do Prof. Houaiss, é: aproveitamento racional e eficiente de recursos materiais. Ou seja, você precisa ser inteligente para utilizar seu rico dinheirinho. Deixar de cuidar da saúde, ou principalmente de prevenir doenças, não está em dicionário nenhum ou livro de economia, muito pelo contrário.

Geralmente recomendo aos meus pacientes retornos regulares ao consultório, para uma avaliação ou prevenção. Os retornos podem variar de acordo com a condição geral do paciente. Para minhas crianças com necessidades especiais, os retornos devem variar entre dois e seis meses. Para minhas crianças com boas condições clínicas, retornos a cada seis meses estão de bom tamanho. Para adolescentes, entre seis e oito meses, e pacientes adultos ao menos uma vez ao ano. Cada profissional tem seu programa preferido e cada paciente deve ser avaliado individualmente, mas grande parte dos meus colegas dentistas mantém essas médias. O duro é quando esses números extrapolam demasiadamente.

Porque fazer economia à custa da saúde das crianças não é uma boa política. Vamos fazer uma simulação.

Papai ou mamãe estão escovando os dentinhos do pequeno e percebem um pontinho escurinho no dentinho lá do fundo. Aí forçam a escovação naquele ponto, mas o escurinho não sai. Ops, tem algo errado aí. Pensam: será que pode ser uma cárie? Mas está tão pequenininha, concluem. Estou sem tempo e preciso economizar agora, e deixam prá lá. Muito bem, o que pode fazer uma cariezinha insignificante? Deixem ela lá mais um pouco. A bandida aumenta um pouquinho. Mas ainda não está grande e o meu filhote nem reclama. Deixa mais para frente. Aí é que mora o perigo. Cáries não são controladas apenas com a escovação, se estiverem instaladas no dente, pode saber, só o dentista para resolver. Mas uma cárie no dente de leite causa tanto problema assim? Os dentes de leite, ou decíduos, como os chamamos tecnicamente, têm as mesmas estruturas dos dentes permanentes, mas com dimensões diferentes. Ou seja: o esmalte e dentina são mais finos, e a polpa (o famoso nervinho) é bem ampla. Outra coisa, o dente decíduo recebeu o apelido de dente de leite não apenas porque as crianças mamam quando bebês, mas porque são branquinhos devido à pouca formação mineral, ou seja, a cárie se desenvolve mais facilmente ali. Juntamos tudo isso e aquela cariezinha insignificante que o papai e a mamãe viram algumas linhas acima, chega ao canal.

Mas dente de leite tem canal? Espere essa cárie se desenvolver e, na hora que seu príncipe ou princesa começar a gritar de dor, você vai ver que o canal do dente não é um privilégio de adultos.

Pronto, aquela economia – me perdoem a grosseria – besta que fizeram porque era uma cárie tão pequenininha, vai triplicar o gasto para tratar o canal, ou pior, para extrair o dente. O seu baby não merece, ninguém merece.

Por isso, reconhecendo que cada um sabe onde aperta seu calo, e como não posso julgar a condição financeira de cada família, fica aqui ao menos a minha orientação. Os cuidados de saúde não tomados na infância podem repercutir significativamente na adolescência e na fase adulta, e infelizmente em alguns casos não tem volta.

Não permita que previsões catastróficas da economia influenciem os cuidados com os tesouros mais valiosos que vocês têm: seus filhos saudáveis e com sorrisos encantadores.

Leia também: Odontofobia: o medo de dentista

Por Dr. José Reynaldo Figueiredo, especialista em Odontopediatria, Odontologia para pacientes com necessidades especiais, Implantodontia e Habilitação em Odontologia Hospitalar e Laserterapia.

Atualizado em 8 de agosto de 2024

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