Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Bases ao desenvolvimento saudável na primeira infância

O Center on the Developing Child / www.developingchild.harvard.edu / da Universidade de Harvard publicou o folheto “Core concepts in the science of early childhood development” (Conceitos básicos na Ciência do Desenvolvimento da Primeira Infância).

Nele, apresentam-se sete aspectos que caracterizam ou justificam o desenvolvimento saudável da criança pequena. A seguir, faremos uma retomada desses conceitos visando oferecer aos leitores de nosso blog, que desconhecem essa publicação, a possibilidade de terem acesso a ela, em nossa língua, de forma resumida, adaptada, ou simplesmente traduzida. No texto original, cada um dos aspectos é ilustrado por imagens (fotos ou gráficos) que descrevem ou estimulam pensamentos ou discussões sobre tema tão importante. A imagem acima é uma cópia da primeira delas. Vale a pena, pois, acompanhar a leitura da presente versão com o texto em inglês, para, assim, se restaurar a feliz e produtiva complementaridade, entre palavras, números e imagens, oferecida por seus autores.

1- O desenvolvimento saudável constrói fundamentos sólidos — para as crianças e a sociedade

O desenvolvimento da criança é crítico tanto para o da comunidade como da economia. Crianças capazes tornam-se o alicerce de uma sociedade próspera e sustentável. O sábio investimento em crianças e famílias, retorna na próxima geração de adultos através de uma vida produtiva e responsável. Ao contrário, colocamos em risco nossa prosperidade e segurança futuras, se não oferecermos o que as crianças precisam para construir base sólida a uma vida saudável e produtiva. Pesquisas em neurociência, biologia molecular, genética e desenvolvimento infantil contribuem para sabermos utilizar, individual e coletivamente, recursos eficazes e eficientes para construir tal base sólida.

2- Proliferação e poda neural são ocorrências normais e saudáveis no desenvolvimento do cérebro: o que não é usado, perde-se

A arquitetura básica do cérebro é construída através de processo contínuo que começa antes do nascimento e continua até a idade adulta. Nos primeiros anos de vida são formadas 700 novas sinapses (conexões neurais) a cada segundo. Após um período de rápida proliferação, as conexões são reduzidas através de um processo chamado de poda, possibilitando que os circuitos cerebrais  tornem-se mais eficientes. As primeiras experiências afetam a natureza e a qualidade da arquitetura de desenvolvimento do cérebro determinando quais circuitos são reforçados e que são podados por falta de uso. Algumas pessoas se referem a isso como “usar ou perder”.

3- Conexões neurais em diferentes áreas do cérebro, associadas com funções específicas, proliferam-se rapidamente, e, também, começam a ser eliminadas (sofrerem poda) nos primeiros anos da vida

O cérebro é construído de forma hierárquica, começando pelos circuitos mais simples, movendo-se, depois, aos mais complexos. Caminhos sensoriais como os da visão e da audição desenvolvem-se  primeiro, vindo em seguida os relativos à linguagem e funções cognitivas superiores. Proliferam-se conexões e ocorrem eliminações (podas). Experiências afetam, contribuindo para a construção de circuitos fortes ou fracos. O cérebro nunca é uma lousa em branco – cada nova competência é construída com base nas competências que surgiram antes.

4- “Serve and Return Interaction” constrói a arquitetura saudável do cérebro

Interações entre genes e experiências influenciam o modo de formação do cérebro. Os cientistas agora sabem que um aspecto  importante neste processo de desenvolvimento é a “serve and return interaction” praticada entre as crianças e seus pais ou outros adultos na família ou comunidade. Em crianças pequenas, essas interações dão-se através do balbuciar, das expressões faciais e dos gestos, e os adultos respondem com o mesmo tipo de vocalização e expressão gestual.  A ausência de tais respostas – ou se elas são não confiáveis ​​ou inadequadas – perturba o desenvolvimento da arquitetura do cérebro da forma esperada, e pode levar a problemas na aprendizagem e comportamento.

5- Desenvolvimento cognitivo, emocional e social são conectados: Não se pode utilizar um sem o outro

Capacidades cognitivas, emocionais e sociais estão indissociavelmente interligadas no cérebro, tais como estão processos de aprendizagem, comportamento e saúde física e mental ao longo do curso da vida. Um domínio não pode ser direcionado sem afetar os outros. As múltiplas funções do cérebro operam de forma ricamente coordenada: o bem-estar emocional e a competência social fornecem uma base sólida para as habilidades cognitivas emergentes e, juntos, são os tijolos e a argamassa que constituem a base do desenvolvimento humano. A saúde emocional e física, as habilidades sociais e as capacidades cognitivo-linguísticas que emergem nos primeiros anos são pré-requisitos importantes para o sucesso na escola e, posteriormente, no trabalho e na vida em comunidade.

6- Estresse tóxico prejudica o desenvolvimento da arquitetura do cérebro

Pesquisas científicas indicam que o estresse crônico pode ser tóxico ao desenvolvimento do cérebro. Pobreza extrema, negligência, abuso repetido ou depressão materna grave, por exemplo, podem ocasioná-lo. O estresse positivo é um aspecto importante e necessário do desenvolvimento saudável. Ele pode ser gerado por respostas fisiológicas moderadas e de curta duração à experiências desconfortáveis. Mas, no estresse tóxico, a ativação forte e não aliviada do sistema de gerenciamento de estímulo do corpo indicam ausência de proteção ou suporte dos adultos, responsáveis pelas crianças. A estrutura dos neurônios no hipocampo e no córtex pré-frontal,  importante ao aprendizado bem como sucesso na escola e no trabalho  apresenta conexões neurais bem desenvolvidas.  Neurônios submetidos a estresse tóxico apresentam conexões neurais subdesenvolvidas ou uma arquitetura mais fraca no cérebro.

7- A habilidade para alterar cérebro e comportamento diminui com a idade

Na medida em que envelhecemos, o cérebro fica mais especializado, ou seja, é capaz de realizar funções complexas. Ao mesmo tempo, é menos capaz de se reorganizar e adaptar. Isso se verifica, por exemplo, com a aprendizagem de línguas — mais fácil de ser dominada pela criança do que por adultos. O cérebro elimina (poda) os circuitos não usados. Mas, os que são, tornam-se mais fortes e pouco se alteram ao longo do tempo. Na prática, isso significa que é mais fácil e eficaz influenciar a arquitetura do cérebro em desenvolvimento de um bebê do que o fazer quando somos adultos.  Em outras palavras, é melhor assegurarmos condições positivas para o desenvolvimento saudável da criança pequena, do que o fazer mais tarde.

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