Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Cadê?! Chorou… Achou!

Cadê?! Chorou... Achou!

Cadê?! Chorou... Achou!

Na calada da noite, eis que, de repente, se escuta um choro bem forte. “Mamãe, aonde estou? Cadê você? Para onde você foi?!!! Meu mamá sumiu! Quero mamá… Estou com sono… Quero mamá, me dá colo… Quero dormir”.  Se palavras pudessem ser ditas no lugar deste choro, seriam estas as pronunciadas aos gritos pelo bebê que dormiu aconchegado no colo da mamãe, mamando, e acordou sozinho, no berço e sem leite!

Mas a pergunta que não se cala é quase sempre a mesma: Afinal de contas, os bebês não dormem assim, quase sempre, no colo e mamando?

A resposta é afirmativa, mas com uma ressalva importante.

É muito frequente os pais relatarem a seguinte situação: até por volta dos seis meses o nosso filho mamava e dormia por horas seguidas, mamava novamente e retomava o sono. Mas depois desta fase, ele passou a acordar várias vezes à noite e, agora, só consegue adormecer mamando e/ou no colo.

O que ocorre a partir dos seis meses que pode explicar esta situação?

Este salto no desenvolvimento (que para os pais insones é mais sentido como uma queda livre) é o conhecido conceito de PERMANÊNCIA DO OBJETO!  Mas o que isso tem a ver com os problemas de sono de muitos bebês nesta faixa etária? TUDO!

Vamos à explicação: sabe aquela fase de brincar de “cadê? Achou”, quando escondemos o rosto e ao aparecermos ganhamos um lindo sorriso? Ou quando o bebê joga a colher do cadeirão e não sossega até a pegarmos de volta e a brincadeira se repete por várias vezes? É nesta fase que o bebê percebe que, quando algo sai do seu campo de visão, está em algum outro lugar; ou seja, continua a existir mesmo sem estar ao seu alcance. Antes disso, o que não estava à sua frente deixaria de existir.  Simplesmente desaparecia, como num passe de mágica!

Isso vale para a hora de dormir. Se mamãe, colo e o mamá (peito ou mamadeira) estavam consigo na hora em que ele adormeceu e, ao despertar, não os encontrou, chora assustado chamando por aquilo que sumiu, qualquer que seja o horário ao longo da noite! Por isso que é unânime, entre os autores que escrevem sobre o sono infantil, a recomendação de que na hora de dormir, o bebê, a partir desta fase (melhor ainda se conseguir antes disso) seja colocado acordado no berço. Com esta atitude, fica implícita a seguinte mensagem para o bebê: Filho, o que te prometo cumpro a noite toda!  Deixo contigo o berço, a naninha e a chupeta. Você pode ficar tranquilo que encontrará todos eles ao longo da noite e, quando precisar de mim, estarei por perto!

A natureza é tão sábia e redondinha. Até os seis meses, o bebê, de um modo geral, necessita ser amamentado durante a noite por uma questão fisiológica. Depois disso, inicia-se a fase da alimentação sólida e, normalmente, os pediatras orientam as mães a dispensarem a mamada da madrugada, não sendo mais necessária, salvo algumas exceções. Logo, na fase em que o bebê precisava mamar durante a noite, ele não tinha ainda maturidade para fazer associações e relações entre a mamãe, leite e o ato de dormir. Quando passou a ter esta noção, já apresentava condições de dormir direto e a noite toda.

O chorar, nesta fase, ganha novos contornos: solicitar pela permanência do que se foi, gritar por aquilo que está escondido e suportar a espera do reencontro!

Enfim, aquela tática de colocar o bebê adormecido no berço e sair, pé ante pé, do quarto, é válida por pouco tempo na vida dos bebês…  Até quando percebem que foram “enganados”!”

Leia também: Cadê? Apareceu!

Por Déborah Moss, psicóloga, formada pela PUC- SP, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento – USP, Especialista em Neuropsicologia – CEPSIC-HC, mãe de três filhos, Ariel, Patrick e Alicia.

Atualizado em 23 de agosto de 2024

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