Quando uma criança pequena chega a um hospital, o lugar não lhe é familiar, ela sabe que alguém em algum momento vai tocá-la, mas ela não sabe quem, quando ou onde. Seu nível de estresse, portanto, deve estar mais elevado do que o normal
Por Dra. Sandra Mutarelli Setúbal
Qualquer que seja o procedimento pelo qual ela vai passar pode haver um profissional no hospital para ajudá-la a viver essa experiência da melhor maneira possível, este profissional se chama Child Life Specialist (CLS) e por enquanto a formação de um CLS só pode ser feita nos EUA.
O CLS utiliza intervenções lúdicas apropriadas para a idade da criança hospitalizada que incluem brincadeiras, preparações divertidas para realização de exames, preparação para cirurgias e técnicas para diminuição da dor e da ansiedade durante procedimentos como punção venosa, inalação e fisioterapia, entre outros.
Este especialista recebe o paciente e sua família levando em consideração o nível de desenvolvimento da criança, seu diagnóstico e a dinâmica familiar. Desta forma a oferta de uma atividade se torna mais apropriada e eficaz.
Entre 6 e 12 anos, por exemplo, sabe-se que as crianças hospitalizadas apresentam os seguintes riscos devido à hospitalização: separação dos pais, medo de perda de controle sobre seu corpo e sobre sua vida, medo de mutilação, medo de ser machucada, de dor especialmente em procedimentos invasivos na área genital. Medo da doença em si, de adquirir alguma necessidade especial e da morte. (Rollins, 2005, p.23)
Recebemos muitos garotos por semana desta faixa etária que se internam no Hospital Dia do Sabará para realizar o procedimento postectomia (fimose). O papel do CLS é chegar perto da criança e da família, se apresentar, explicar o seu papel no hospital e perguntar para a criança: “você sabe por que está aqui hoje?” Com a finalidade de se aproximar do paciente e da família para interagir e colaborar.
Não é incomum as famílias acenarem para o CLS do Sabará pedindo para que não conte para o garoto o que vai acontecer com ele numa atitude de proteção ao seu filho. O CLS explica, então, o medo que a criança já está passando e que ao acordar em uma sala de recuperação com dor e um acesso venoso no braço vai acabar se sentindo isolada.
Na maioria das vezes, os pais compreendem o problema e explicamos o que vai acontecer à criança acolhendo-a, sempre levando em conta o seu nível de compreensão: “você veio aqui para o médico tratar o seu machucado, para isso vai tomar um remédio que faz dormir. Você não vai sentir nada enquanto o médico estiver te tratando, mas a mamãe vai ficar ao seu lado até você dormir e quando você acordar a mamãe já estará ao teu lado”. Apresentamos a máscara à criança, que passa a brincar com ela, se familiarizando com este objeto antes de entrar na sala de cirurgia. Apresentamos ainda batons com vários aromas diferentes como os de maçã verde, cereja e menta para que a criança possa escolher com qual cheiro ela quer adormecer, então ela pode passar o batom no interior da máscara que será utilizada na anestesia.
Rollins, Judy A., et all. Meeting Children’s Psychosocial Needs across the health-care continuum. Austin: pro ed, 2005