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Eis a história de uma pequena garotinha campeã em esboçar o sentimento
Manuela tinha exatamente 1 ano, 1 mês e 1 dia de vida, meiodente na boca e meia dúzia de fios de cabelo na cabeça. Usava um vestido de veludo lindo de morrer: fundo branco e flores em cinza. Meia-calça de lã branca e um manto acompanhavam o visual, pois estávamos em uma noite de julho, em um inverno gelado e a ocasião específica era o aniversário do meu marido.
Apesar de ser o aniversário do pai, Manuela reinou absoluta por todas as suas gracinhas, pelo modelito, pela decoração no topo do bolo e por ser a única criança da família. Eu me resumia a uma barriga de 34 semanas de gêmeos, um nariz de batata, uma legging e um camisão bem solto. Coisa linda de ver!
Ela cantou parabéns no colo do pai e, sendo bem sincera, não me lembro se bateu palminhas, mas encantou a todos de qualquer forma. Assim que terminou os parabéns, meu marido assoprou as velas e, em seguida, dei-lhe um beijo e um abraço de feliz aniversário. Foi exatamente nesse momento que a Manu me empurrou pela primeira vez, na tentativa de afastar-me do Papaizinho (só) dela. A expressão facial típica de braveza e a primeira reação de ciúmes.
Muitas outras expressões vieram no decorrer dos 4 anos que se passaram desde essa cena. Hoje, com “certa maturidade”, já não me empurra mais, mas sempre se coloca no nosso “meinho”.
Comprei um par de raquetes de frescobol e uma bolinha. Eu adoro jogar frescobol e, modéstia à parte, jogo bem pra caramba. Confiei na “maturidade” dos meus filhos, na praia vazia, e na capacidade de entretenimento deles por baldinhos, pazinhas, tralhas e afins que costumamos levar para a praia. Aproveitei um momento tranquilo das crianças e chamei o Meu Marido para estrear as novas raquetes.
Os meus filhos imediatamente pararam a brincadeira do momento para observar o que aqueles dois adultos ousaram fazer. Ok! O Joaquim e o Pedro curtiram assistir à partida dos pais. Filhinhos da Mamãezinha que são, desenharam bandeiras em minha homenagem na areia e gritavam na torcida:
– Mamãe! Mamãe! Mamãe!
Já a Manu, meu Deus! As raquetes e a bolinha despertaram a ira da menina. Com a mesma expressão de brava de sempre, ela passava no meio do jogo, apesar de ter sido advertida do risco de levar uma bolada na cabeça. Me empurrava (hello, 1 ano, 1 mês e 1 dia de idade!), dizia que estava com sede, com fome, com frio, com calor, cansada, com vontade de ir ao banheiro e de ir embora, pois estava tendo “o pior dia de sua vida”.
Afinal, como é que esses dois adultos têm coragem de ficar frente a frente, rebatendo aquela bolinha sem parar, concentrados no jogo e apenas nele e, o pior, se divertindo?
Em menos de 10 minutos, ela me venceu:
– Ok, sua Ciumentinha, pode jogar com o Papai – disse-lhe ao entregar a raquete e os pontos.
Ela aceitou a raquete e me respondeu:
– Sua Namoradeira!
(Freud debate-se no túmulo e me grita: “EU JÁ SABIA!”).
Originalmente postado em: Mamãe Tá Ocupada!!!