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Crianças difíceis no consultório
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Crianças difíceis no consultório

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21/08/2013
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Elas podem ser complicadas de lidar, mas cada conquista compensa a escolha da minha carreira

Odontopediatria

A inspiração para me tornar odontopediatra veio da faculdade. Ela é a especialidade que cuida da saúde bucal das crianças, fonte de inspiração para quem acredita em um futuro melhor. Eu sempre acredito. Na faculdade, eu já havia gostado de Periodontia (especialidade que cuida das gengivas) e de Odontologia Social (que cuida dos aspectos legais, éticos, epidemiológicos, prevenção e saúde coletiva e outros assuntos que envolvem a população), mas ela me encantou porque consegui tratar uma menina muito difícil em sua condição bucal e emocional. Como eu gostava de crianças, meu professor me encarregou de cuidar da pequena. Encarei aquilo como um desafio e consegui um enorme sucesso naquele caso.

No início do 2° semestre daquele ano, com a mudança da grade horária, precisei mudar de período e aí veio à encrenca. A menina não queria mais se tratar com ninguém e meus colegas nem queriam chegar perto dela. A menina parou de ir à escola, ficou doente, teve febre e foi uma trabalheira para remanejar alguns horários para que ela continuasse comigo. Ao final do ano, conclui o tratamento e, uns dez anos depois (sem vê-la), recebi um convite de casamento da minha pacientezinha.

Ao conquistar a confiança daquela criança tão fragilizada, percebi que era aquilo que eu queria e deveria fazer na Odontologia, e não me arrependo até hoje.

Mas, tratar crianças não é uma tarefa tão simples assim.  Um estudo de 1979 mostrou que, na década de 20, havia 43 cursos de Odontologia nos Estados Unidos e apenas cinco deles destinavam-se a dar atenção às crianças. Aparentemente, a área de Odontopediatria é de dedicação das dentistas, mesmo porque elas são a maioria por representarem quase 90% dos especialistas. Isso, talvez, ocorra pelo instinto maternal natural das mulheres ou porque as crianças sejam mais fáceis de tratar.

Ledo engano. As crianças são, no geral, os pacientes mais difíceis. O cuidado desses pequenos envolve muito conhecimento técnico e psicológico, muita paciência e uma resistência física de maratonista.

Não sei se, porque gosto tanto, tenho recebido muitas crianças difíceis no consultório. Algumas com condições bucais gravíssimas que necessitam de tratamento sob anestesia geral em ambiente hospitalar. Outras com condições não tão ruins, mas que demandam um tempo de tratamento tão longo que as circunstâncias da vida moderna impedem abordagens mais adequadas. Reflitam sobre a angústia dos pais que deixam as crianças nas escolinhas pela manhã, pegam no fim do dia, e, de tão cansados, nem examinam os dentinhos dos filhos quando a noite cai, quanto mais escovar e passar o fio dental.

Isso é mais comum do que você imagina e, o resultado disso, muitas vezes, são cáries graves, com complicações endodônticas (canal do dente) de difíceis soluções. Aposto que tem muita gente perguntando: dente de criança precisa tratar de canal? De novo, muito mais do que você imagina.

Se tratar pacientes adultos já demanda orientações, explicações, convencimentos e não é algo fácil, pense em uma criança pequena (bem, não precisa ser pequena) com dor, abscesso, inflamação e infecção. Peça para ela abrir a boquinha e ficar quietinha enquanto o “titio” aplica a anestesia e passa o motorzinho. Não, definitivamente não é fácil.

Talvez, seja por isso que eu amo tanto minha profissão e não me canso. Nem um dia é igual ao outro, sempre um desafio, sempre uma conquista nova a realizar e uma criança sofrendo de dor de dente a se salvar. Considere o que for, mas a palavra rotina não está no dicionário de um odontopediatra.

Queridos leitores, pais, mães, responsáveis, cuidar de crianças é uma benção que Deus deu aos pediatras e odontopediatras, mas não somos nada sem a colaboração de vocês. Ajudem-nos a cuidar de seus filhos. Prometemos carinho, respeito e dedicação na busca da saúde e de sorrisos felizes.

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Dr. José Luiz Setúbal

Dr. José Luiz Setúbal

(CRM-SP 42.740) Médico Pediatra formado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, com especialização na Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Gestão na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Pai de Bia, Gá e Olavo. Avô de Tomás, David e Benjamim.

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