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Essa profissão pede pessoas vocacionadas que sejam capazes de assumir tamanha responsabilidade
Num momento em que se discute a validade da importação de médicos formados em outros países para preencher as vagas em aberto nos nossos hospitais e prontos-socorros, a sociedade não pode se esquecer de uma peça fundamental para a saúde do brasileiro: o pediatra.
No dia 27 de julho, se comemora o Dia do Pediatra. Mais do que reforçar o debate sobre a medicina, é fundamental valorizar o profissional em que são depositadas as expectativas de pais e mães carregados de dúvidas, anseios e medos. Quantas esperanças não são depositadas nas mãos de um profissional que, além dos aspectos técnicos, precisa compreender e intervir entre pais aflitos, aliviar o medo de crianças sofridas, irrigar com esperança aqueles desamparados e, por que não, compartilhar a dor e a frustração das limitações da ciência médica. Não há dia melhor que este para lembrarmo-nos da importância de olhar e cuidar da criança, se indignar ao cruzar com uma na rua e chamar a atenção da sociedade para o resgate desses valores.
Atualmente, no Brasil, o trabalho diário e as pesquisas que esses profissionais realizam têm um papel social e preventivo fundamental, ao passo que é nele que se iniciam os cuidados que vão contribuir para a saúde do indivíduo durante toda a vida. Exemplos não faltam: o completo calendário de vacinas, os testes do pezinho, da orelhinha e do olhinho e outros tantos que são os primeiros passos para o desenvolvimento da pessoa. Desvendar os mistérios das doenças, explorar e interpretar as formas camufladas de expressão da criança, compreender a dinâmica familiar, proteger os pequenos de ambientes familiares inóspitos, são alguns dos desafios que o pediatra tem de enfrentar todos os dias. Assim, ele aprende a valorizar ainda mais a especialidade.
Outro grande desafio da especialidade é a baixa demanda de pessoas na escolha dessa profissão nos últimos tempos. Os salários reduzidos e a falta de status – quando comparado a outras especialidades médicas – têm afastado os estudantes na escolha da carreira. Sem contar que o perfil dos que ainda fazem essa opção, geralmente, são mulheres que buscam estabilidade profissional e flexibilidade de horário para a jornada de trabalho, porque preferem conciliar a vida pessoal à profissão.
Quantos poderiam enfrentar a tragédia da morte de uma criança ou a pressão emocional e compreensivelmente irracional de pais vivenciando a doença de um bebê? Quantos teriam a coragem de assumir a responsabilidade integral e inalienável sobre a vida de alguém em quem depositamos todas as nossas maiores esperanças? Somente pessoas vocacionadas, com compaixão e dispostas a se submeterem a um treinamento longo e estressante, são capazes de assumir tamanha responsabilidade.
Além do profissional dedicado e qualificado, a pediatria exige outro diferencial quase raro no Brasil: o hospital que precisa oferecer o suporte necessário para o atendimento à criança. Já que o diagnóstico clínico, os exames, os tratamentos e até as cirurgias devem ser diferentes para crianças e para adultos, é fundamental uma estrutura hospitalar infantil para atender às necessidades exclusivas desse público.
Neste dia 27, o maior tributo que podemos prestar a esses profissionais é agradecer e reverenciá-los por cuidar do nosso futuro e de nosso legado com compromisso ético, excelência e humanismo. Parabéns, pediatras!
Por Wagner Marujo – Diretor Superintendente do Hospital Infantil Sabará de São Paulo (SP)