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A história de uma garotinha que encontrou nos seus cachorrinhos os melhores amigos que alguém pode ter
Tamires era uma menina linda, com pele muito branquinha, cabelos encaracolados cor de mel e grandes olhos azuis. Todo Natal ela era um dos anjinhos na peça da escola, e as asinhas brancas pareciam feitas para ela. Simpática, sorridente e brincalhona, ninguém imaginava que, lá no fundo, Tamires vivia o drama de ver pouco a pouco, o pai ir embora doente. Enquanto a mãe trabalhava o dia inteiro, Tamires ficava com Fabiana, a babá, e de vez em quando ia ao quarto do pai Ricardo falar para ele não ficar triste não. Juntinho com ela, andando em torno iguais a guarda-costas, o pastor alemão Caco, a vira-lata Pifa e filha dos dois, Duda, eram seus fiéis escudeiros. Sentada no meio do quarto com os brinquedos espalhados,Tamires contava aos seus amigos de quatro patas que o papai estava doente. E eles ouviam, horas a fio, de vez em quando com a patinha na perna dela, de vez em quando recebendo, delicadamente, um pedacinho de biscoito na boca.
Tamires tinha acabado de fazer 4 aninhos quando o pai, cansado de lutar contra o câncer, não voltou mais para casa depois de uma internação de emergência. Ela contou para seus amiguinhos de quatro patas que ele não ia voltar mais e que agora seriam só eles e a mamãe. Que eles iam precisar ter força porque as coisas podiam ficar difíceis e também para aguentar a saudade – mas que eles eram uma família. Naquele ano a Pifa ganhou mais um monte de filhotinhos, e ela contou para a Duda que não era para ela ter ciúmes não, mas ficar contente porque enquanto uns vão embora, outros nascem também. E que assim é a vida das pessoas e dos bichinhos.
Mas de vez em quando a saudade batia e a mamãe encontrava Tamires com os olhinhos azuis inchados de chorar. Ela não queria deixar a mamãe triste, então ela se agarrava com Caco, Pifa e Duda e falava para eles que estava com saudades do pai. Aí ela sentava na varanda e mostrava as estrelinhas para os cachorros perguntando qual delas eles achavam que era o papai Ricardo. Mamãe se juntava a eles e elas ficavam horas conversando abraçadas, os cachorros escutando, até Tamires cair no sono e a mãe coloca-la na cama. Aí a Duda, que era a menorzinha, ficava lá fazendo companhia e o Caco deitava aos pés da cama, tomando conta do quarto. Pifa ia pra sala ver televisão com a mamãe – e emprestar seu ombro peludo, porque agora era ela que tinha os olhos cheios de lágrimas.
O tempo passou, Tamires cresceu, a Caco, Pifa e Duda outros se juntaram, eles se foram, viraram estrelinhas. Hoje, já uma adolescente de 16 anos, Tamires ainda senta na varanda para ver as estrelas com as irmãs pitbulls Gabi e Nina, que dão a patinha quando veem que ela está triste. E Tamires conta dos três anjos da guarda que a ajudaram mesmo quando ela não sabia que precisava de ajuda. E os grandes olhos azuis voltam a ficar cheios d’água, da mais pura saudade que existe.