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Será mesmo que o conceito familiar apresentado pelos comerciais de TV é o melhor e mais perfeito?
Eu nunca entendi muito bem as críticas das propagandas de margarina à família. “Elementar, minha cara Camila”, diria a minha terapeuta, “…afinal, você quer uma família como essa”. Quero, sim, e daí? Mas, obviamente, algumas adaptações seriam necessárias.
A disposição e variedade de frutas seriam bem diferentes. O pãozinho não viria fresco da primeira fornada da padaria, mas posso pensar em milhares de outras opções também deliciosas. O suco não seria espremido da fruta no minuto em que fosse parar no copo de cada um dos membros da família. Nem sei se teria suco, mas leite, iogurte e café, com certeza. Tenho convicção de que as bebidas oferecidas no café da manhã “pintariam” a história da nossa família em uma linda toalha de mesa, fruto do meu enxoval. (A nossa família gesticula muito, briga pelo último pedaço de bolo e acaba derrubando tudo mesmo. Não existe uma toalha sem manchas aqui em casa.) E, algum tempo depois, eu ficaria de saco cheio e compraria jogos americanos feios, vagabundos e de plástico para todo mundo. Passou um paninho e tá limpo. Sem prejuízo algum.
A verdade é que a imagem de uma família que se senta à mesa para as refeições é o meu ideal de vida. Tenha baixelas de prata ou tupperwares, banana em pé com a casca pendurada ou salada de frutas servidas em lindas taças, não importa, a cena chega a ser sagrada de tanto que me comove.
Eu tenho uma mesa grande, de seis lugares, mas adoro receber, puxar outras cadeiras, espremer mais gente ao redor dela – já colocamos 10 pessoas, espremidas e felizes! – comer, bater papo, contar história e dar risada.
No nosso dia-a-dia, ainda sobra um lugar à mesa. Eu adoraria preenchê-lo para sempre. Eu quero e, se querer é poder, eu posso. Mas também não quero e não posso. É ambíguo assim.
A família já é relativamente numerosa para os padrões de uma época, algo que também se configura como o meu ideal de vida. Se um dia eu fui surpreendida pelo amor materno, me surpreendi mais ainda pelo fraterno. E queria viver isso cada dia mais, de maneira multiplicada mesmo, com todos os lugares da mesa preenchidos.
Então, de maneira arrogante e inocente, se é que isso é possível, a gente pensa como modelo de família, de convivência e de transmissão de valores para os filhos, até que um dia escuta de um deles:
– Mamãe, quando eu crescer eu só vou ter um filho, porque assim não tem tanta briga e tanta bagunça!
Ou, terminado aquele momento caos do dia de dar o almoço, escovar os dentes, vestir o uniforme, ajeitar as lancheiras, mochilas e sair para a escola, ouço de outro:
– Mamãe, ter filho dá muito trabalho, né?!
Eu respondi que sim, que dá muito trabalho, falei a verdade, porque já não sei até que ponto a família da propaganda de margarina realmente existe. Mas ressaltei que ter filhos nos traz as maiores alegrias da vida. Recebi, em troca dessa frasezinha clichê, um abraço, alguns beijos e um “Mamãe, eu te amo!”.
Eu não sei se sirvo de exemplo de nada e para ninguém, mas tenho toalhas de mesa que contam lindas histórias de amor.
Originalmente postado em: Mamãe tá Ocupada
mensagem enviada
É verdade, a mídia sempre impondo idéias e realidades que não são reais. Desde padrões de moda e magreza à padrões de família que estão longe de algo factível para 99% das pessoas. Mas é isso mesmo! Vamos fazer uma linda bandeira com as nossas toalhas de mesa manchadas, nossas camisetinhas com aquela manchinha de comida que não sai de jeito nenhum, nossa sala quase nunca arrumada de tanto brinquedo por aí… e assim vai. Amei o texto !
Abs,
Juliana
http://www.mamaesim.com