Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Filhos e a montanha de sentimentos

Dois fins de semana seguidos medicando sinusites, amigdalites, febres de 40 graus, dosando antibióticos, ministrando antitérmicos, trocando compressas. O despertador avisa que chegou a hora do remédio, o ronco avisa que alguém está com o nariz muito entupido, o silêncio avisa aos vizinhos que tem criança doente na área, o estômago avisa que pão não é janta, as olheiras e a memória falha avisam que essas sonecas de 30 em 30 minutos, madrugadas seguidas, não lhe são benévolas.

Observar, observar, observar, aprender a reconhecer e diferenciar sintomas, lidar com a angustia cada vez que os números do termômetro começam a subir, subir, subir ao passo que as crianças vão se encostando nos cantos, deitando, calando (minha Vó dizia: “menino saudável é menino arteiro”, quanta sabedoria!).

Entre um paracetamol, uma compressa e um suspiro ensaiando alegria porque o guri riu/soltou uma gracinha, pensei em como ter filhos coloca você numa montanha russa.

É. Uma hora você está no carrinho curtindo a paisagem, devagar, aí ele vai subindo, você vai ficando tenso por que sabe o que vai acontecer logo mais, mas faz o possível pra relaxar, afinal, seu estresse não vai tirar você dali mesmo. Então lá em cima o carrinho para. É agora! VRUM! Ele desce na maior velocidade do mundo seu coração vem na boca você sabe que uma hora aquilo vai passar, mas só consegue pensar que pode ter um treco a qualquer momento aí tenta fechar os olhos mas lembra que não vai querer passar por aquilo de novo então quer capturar cada nano segundo de adrenalina mas como aproveitar a emoção daqueles loopings com esse vômito vindo na garganta meu deus onde eu fui me meter ai que agonia socoooorro! Passou. Cinco minutos olhando a montanha russa de fora e você já tem a ousadia de pensar “ah, nem foi tão ruim assim”.

É assim que eu me sinto cada vez que os meninos ficam doentes, tentando aprender com aquela situação, o que funciona, o que não funciona, desesperada, exausta, morrendo de medo, mas tentando. Aí eu lembro do “Poema Enjoadinho”, de Vinícius de Moraes: “Filhos? Filhos… Melhor não tê-los. Mas se não tê-los, como sabê-los?(…) Como saber que macieza nos seus cabelos, que cheiro morno na sua carne, que gosto doce na sua boca! Chupam gilete, bebem shampoo, ateiam fogo no quarteirão. Porém, que coisa! Que coisa louca, que coisa linda, que os filhos são!”. O poema todo é uma pérola, porque nada, nenhuma angustia, nada disso nos faz querê-los menos.

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