Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Filhos

“Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem”.

Khalil Gibran – “O Profeta”

Filhos!!!

Existe tesouro mais precioso em nossas vidas do que nossos filhos? Qual pai ou mãe em sã consciência poderia discordar disso? Não conheço, acho que nunca conhecerei. Os nossos filhos são nossa maior riqueza, mesmo que de vez em quando precisemos dar-lhes umas broncas bem dadas, mas isso não desmerece nossa atuação como pais, faz parte da educação.

Como odontopediatra tenho uma atuação direta com os filhos e filhas de pais que me procuram para atendimento odontológico. É uma tremenda responsabilidade cuidar dos filhos dos outros, ainda mais sendo dentista, às vezes comparado ao bicho-papão. Muitas vezes precisamos conquistar a confiança dos pais antes de conquistar a criança, isso é um exercício de paciência, experiência e principalmente de troca de posição, eu vou explicar isso.

Trabalho com crianças, algumas muito pequenas, outras com necessidades especiais (deficiências e condições clínicas graves) e em decorrência disso muitos pais ficam apreensivos com os procedimentos a serem realizados naqueles que são seus bens mais valiosos. Compreendendo a ansiedade dos pais, procuro me colocar na posição deles ao ver o filho tomando uma anestesia, ou fazendo uma cirurgia, para quem não está acostumado é uma angústia, temos então que entender a situação. Para contornar isso utilizo uma máxima que é infalível, de fácil conclusão dos pais, digo lhes: “eu faria isso para o meu filho”. E essa é a mais pura verdade. Penso como pai quando vou atender uma criança, “isso eu faria, isso eu não faria”, podem acreditar amo meus filhos mais que tudo na vida.

Especificamente esse mês tem sido de muitas reflexões na minha atuação profissional e pessoal. Logo no início do mês recebi a visita de três meninas, com quatro anos de idade, lindas, adoráveis e com uma característica bastante incomum, eram trigêmeas, as coisas mais fofas do mundo e aqui vai um aparte: as minhas crianças são as mais lindas do mundo, se as dos outros odontopediatras são eu não sei, mas as minhas são. Aliás, nossos filhos são lindos, não são? A mãe das trigêmeas que também tem uma filha mais velha, com dez anos, diz que na casa é uma festa, imagino que deve passar o pai  com cinco mulheres em casa…

Além delas recebi crianças pequenas com dor e precisando tratar canal, crianças com deficiências, uma delas vindo do interior de Rondônia, a qual a mãe não parava de agradecer por ter me encontrado, não é fácil para essas mães encontrarem dentistas de “especiais” por esse Brasil afora, conheço bem essa realidade. Duas crianças com deficiências graves precisaram ser levadas para tratamento odontológico no hospital, no nosso Hospital Infantil Sabará, que as famílias adoram tão bem atendidas que são. Essa é uma rotina até bastante comum no consultório. Mas nem tudo são flores no nosso dia a dia.

Pai, apaixonado que sou pelos meus filhos, recebi a notícia que meu filho está se mudando de país. Sim, meu “moleque”, meu parceiro de futebol, de corridas (fizemos uma maratona juntos), meu companheiro de vida está se mudando. O Lucas vai para a Espanha, não, não é um intercâmbio, vai morar em definitivo, vai embora literalmente. Minha filha Marina ficou dois anos em Portugal, foi difícil, mas a gente sabia que ela voltaria, ele, porém, está indo para viver por lá. Como dói, mesmo sabendo que é para o bem dele, para sua carreira profissional e pessoal, mesmo que esteja indo com a mulher que ama, mesmo sabendo que nos veremos sempre que possível, ele está partindo, e partindo meu coração.

Na semana passada, porém, recebi outra notícia, a mais triste que se pode receber, do falecimento de um pacientezinho do consultório. Um menino lindo que, em decorrência de complicações advindas da deficiência, veio a falecer, seus pais que se tornaram nossos amigos estão desolados, eu estou desolado, consternado. Não pode haver amargura maior para os pais.

A nós, como pais, nos resta criar nossos filhos e filhas com o maior amor possível, aproveitando cada momento, enxugando cada lágrima, curtindo cada sorriso, e pedindo a Deus que os ilumine e proteja. E apenas para guardar uma passagem musical e para sua reflexão, deixo aos pais alguns versos de uma canção do Phil Collins, “You’ll be in my heart”, que todos os pais deveriam cantarolar para seus filhos:

“Porque você estará em meu coração.

Sim, você estará em meu coração, de hoje em diante.

Agora e para sempre você estará em meu coração

Não importa o que disserem

Você estará aqui no meu coração, sempre”.

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