Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

O hospital e a felicidade

O hospital e a felicidade

O hospital e a felicidade

De imediato, o título pode parecer estranho. Como juntar hospital e felicidade, se lá encontram-se sobretudo pessoas doentes? E pessoas doentes em nosso caso significa crianças, muitas vezes de pouca idade, sofrendo diferentes tipos de dores ou dificuldades. Bem, é isso mesmo. A felicidade pode estar em qualquer lugar e pode ser construída de muitos modos. Observá-la no hospital e encontrá-la nas pessoas que estão ou passam por lá pode ser um bom exercício de como pensar a vida e de valorizar suas formas de expressão no dia a dia.

Paul Dolan faz pesquisas sobre políticas públicas relacionadas ao bem-estar, ao sentir-se bem. Seu livro, “Felicidade construída”, publicado no Brasil pela Objetiva em 2014, analisa o que é felicidade e como podemos gerá-la no cotidiano. Considerem que ele o escreveu durante um tempo em que estagiou com Daniel Kahneman, um psicólogo também interessado nesse tema e ganhador do Prêmio Nobel em Economia, em 2002. Aqui quero destacar apenas os dois termos de sua equação para definir felicidade: trata-se de considerar nossas experiências e intenções em função de seu prazer e propósito, bem como a entender como algo que se pode decidir, projetar e fazer.

Começo a reflexão pelo ponto talvez mais fácil de ser aceito, ao menos pelos cuidadores e responsáveis da criança em tratamento de saúde. O hospital é um lugar cheio de propósitos e, todos eles, convergentes para um único ponto: a recuperação do bem-estar de uma criança doente, de preferência atendida de forma humana e dedicada. Pais fazem ou deixam de fazer muitas coisas para cuidarem de seus filhos no hospital. Isso pode lhes custar caro, e mesmo assim estão lá todas as vezes em que for necessário. Igualmente, cuidadores e gestores são dedicados e muito os chateia quando algo, por diferentes razões, foge de seu controle ou possibilidades de atuação.

Mas, como vimos, não basta um propósito para ser feliz. Onde, no hospital, estão o prazer e a alegria, a outra face da felicidade? Poderia dizer que estão no gosto dos pais se sentirem responsáveis ou no sentimento positivo de cuidadores ou gestores ao fazerem um trabalho bem feito, mas isso seria igual a dizer mais do mesmo, ou seja, ficar no âmbito do propósito e suas consequências. Penso que, por isso, poderíamos encontrá-los – o prazer e a alegria – nas crianças. Elas, ainda que doentes, os demonstram de muitas formas, basta estarmos disponíveis para ver ou fazê-los acontecer: quando se sentem acolhidas e nos importamos com elas, quando alguém lhes conta uma história, faz uma palhaçada, canta uma música ou tange um violão, faz um brinquedo ou voluntariamente lhes dá sua atenção. Demonstram também quando compartilhamos com elas, de um modo que possam entender ou sentir, o que lhes acontecerá no contexto do tratamento, quando olhamos em seus olhos e reconhecemos sua dor ou medo, quando participamos ou promovemos – com cuidado – sua possibilidade e direito de rir, sonhar e viver.

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Atualizado em 4 de setembro de 2024

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