Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

O professor monge, seu time de javalis selvagens e o estresse.

Nos últimos dias o Mundo acompanhou aflito o drama das 12 crianças tailandesas e seu professor de futebol, o ex-monge budista Ekapol Chanthawong, esta história mostra como uma liderança e eventualmente uma vida espiritual pode ajudar nos momentos de crises.

Durante duas semanas estas crianças ficaram presas com seu treinador em uma caverna que foi inundada pelas águas da época das monções (chuvas torrenciais) no interior da Tailândia. Neste período, ficaram praticamente sem alimentos e bebendo a água das paredes e da inundação. Tiveram a sorte de ter um líder que havia estudado para ser monge e que soube liderar estes jovens de 11 a 13 anos na superação das dificuldades, o treinador Ekapol.

Certamente todos eles estarão sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT), que é um quadro psicopatológico frequente nas crianças expostas a eventos traumáticos. Crianças ou jovens podem desenvolver severas sequelas emocionais após serem expostas a experiências traumáticas, incluindo maus-tratos, abuso sexual, guerra, acidentes de carro, desastres naturais ou sérias condições médicas. Uma grande variação de respostas emocionais, cognitivas e comportamentais pode ser vista em crianças que sofrerão tais eventos, algumas desenvolvem sequelas emocionais agudas, outras podem apresentar sequelas crônicas enquanto outras apresentam uma adaptação positiva. A psicologia procura entender o que determina a resiliência de pessoas como a menina paquistanesa Malala, que com 11 anos, enfrentou com coragem após ser baleada em um ato de violência do talibã por ser mulher e querer estudar. Hoje é reconhecida pela força com que superou este trauma, ganhando o prêmio Nobel da Paz em 2014 e sendo uma ativista do ensino para meninas pobres ao redor do Mundo.

Algumas características comuns à maioria dos casos de traumas infantis envolvem a presença de memórias das situações de estresse, comportamentos repetitivos, medos específicos relacionados ao trauma e mudanças de atitudes quanto às pessoas, à vida e ao futuro. Outros sintomas do transtorno incluem irritabilidade, um estado de sensibilidade aumentada a qualquer indício de ameaça ou preocupação exagerada com qualquer perigo potencial, alteração de sono, baixa concentração nas atividades e isolamento emocional.

Embora ainda não se conheçam os mecanismos que levam a esse transtorno, sabe-se que o risco de o desenvolver depende da idade e sexo da criança e, principalmente, de aspectos de resiliência pessoais além de fatores protetores familiares e comunitários. Esses fatores irão interagir com características do trauma como tipo, frequência e gravidade para determinar o grau de impacto no cérebro em desenvolvimento.

Nas situações de trauma agudo como das crianças na Tailândia, o papel da família é fundamental na recuperação. Os estudos mostram que suporte social e funcionamento familiar são fundamentais, já que crianças identificam os pais como fonte primária de suporte após esse tipo de trauma. Inúmeros estudos sugerem que existem modalidades psicoterápicas breves como a terapia cognitiva comportamental focada no trauma que são muito eficazes nos casos de transtorno de estresse pós-traumático.

Embora a maioria dos jovens irá superar as situações traumáticas por meio de respostas adaptativas, o trauma na forma de violência pode desencadear inúmeras reações desadaptadas, como quadros de ansiedade e depressão. Uma forma menos discutida de impacto é o surgimento em jovens do que se chama de transtorno de estresse pós-traumático.

Esperamos que as crianças tailandesas, assim com Malala, encontrem a força e o apoio de suas famílias e seu professor que façam com que elas superem seus traumas desta terrível experiência e voltem a ser os “javalis selvagens”, seu time de futebol.

Autor: Dr. José Luiz Setúbal

Fontes:

Aval. psicol. vol.9 no.1 Porto Alegre abr. 2010

“Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) na infância e na adolescência: prevalência, diagnóstico e avaliação”

Jeane Lessinger Borges; Ana Paula Couto Zoltowski; Ana Paula Noronha Zucatti; Débora Dalbosco Dell’Aglio Universidade Federal do Rio Grande do Sul

https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/o-trauma-e-o-transtorno-de-estresse-pos-traumatico-em-criancas/

As informações contidas neste site não devem ser usadas como um substituto para o cuidado médico e orientação de seu pediatra. Pode haver variações no tratamento que o pediatra pode recomendar com base em fatos e circunstâncias individuais.

Sair da versão mobile