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Deixar a criança contar seus sonhos, além de ser divertido para os pais, revela a capacidade criativa da mente infantil
Eu fiz o meu caminho e as minhas escolhas na faculdade de Psicologia, seguindo os sonhos. Não esses bestas dos Concursos de Misses, mas os sonhos mesmo, os que nós temos durante o sono, as chamadas “atividades oníricas”.
Adoro ouvir os sonhos alheios e tentar interpretá-los, fiz muita terapia sem nem falar de pai e mãe, mas só com o meu caderninho de sonhos. Ele ficava na minha mesinha de cabeceira, era a primeira coisa em que eu encostava, quando acordava e já ia logo fazendo as anotações sobre a noite anterior para poder levar à terapia. O caderninho era hiper ultra secreto, mais do que todas as minhas agendas e diários, já que eu acredito com todas as minhas forças o quão revelador um sonho é.
Daí, eu tive uma filha e depois mais dois filhos e o meu sono nunca mais foi o mesmo. Para lembrar dos sonhos, tem que dormir de verdade por um bom tempo, sem ficar acordando de hora em hora ou no susto. Portanto, a conclusão triste é de que eu não lembro mais dos meus sonhos e daí tenho que ficar falando de pai e mãe quando me deito no divã.
Para a minha alegria, a Manu sonha um monte. Às vezes, tem pesadelos, o que me obriga a ir dormir junto dela, mas, de forma geral, ela sonha muito e fica maravilhada com a própria capacidade de produzir imagens e histórias tão fascinantes!
Eu me delicio e posso ouvir os sonhos da minha filha o dia inteiro, coisa que ela faz sem que seja necessário pedir. Repete os sonhos ao longo do dia, para todo mundo que passa por perto e inclui sempre os mesmos detalhes (só que se ela soubesse a “profundidade reveladora” dos sonhos, faria como eu e anotaria em um caderninho fechado com cadeado!).
Outro dia, acordou falando que um índio queria colocar fogo no ombro dela e que a minha irmã a salvava. Teve uma história de ir à uma loja de relógios com os padrinhos, ganhar um adesivo da Cinderela para colar no relógio, mas o tal adesivo era muito grande e teve de ser cortado na metade. O mais recente foi com o Mogli, aquele menino lobo, que estava cozinhando macarrão dentro de um saco de pipoca.
Sabe aquela pessoa que fala sobre as novelas como se fosse a vida real? Essa é a Manu com os seus sonhos, tem certeza de que se trata da realidade. Eu dou corda, quero saber mais e vivo soltando os meus “jura?” quando ouço os relatos dos sonhos (viajantes!) da minha filha e morro de fofura quando ela me responde:
– Juro, Mamãe! Tava tudo escuro no meu quarto, mas eu vi aqui no meu olho!
Originalmente postado em: http://bit.ly/tzHqNe