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Às vezes me pego escrevendo cartas mentais pro Isaac.
Umas profundas que falam de sentimentos outras que só servem para lembrar que ele deve mesmo secar bem entre os dedos do pé ou atrás da orelha.
Acontece que a gente quer ter todo o tempo do mundo para dar aos filhos.
Acontece mais ainda que a gente sabe que não o tem.
Mas rebola entre um ponteiro e outro, nessa teimosia que é ser mãe.
Essa noite mesmo, sem dormir, eu dispunha de todo o tempo do mundo.
Mas Isaac na casa da avó, recebeu uma carta imaginária minha.
Nela, contei para ele que o tempo é coisa engraçada, com vida própria.
Que é difícil de entender como ele passa rápido ou devagar mesmo tendo ele sempre a mesma medida matemática.
Pensei em Einstein.
Pensei na vida.
Pensei em como Isaac cresceu.
Em como passou rápido.
2008 era ontem mesmo.
Escrevi em pensamento alguns conselhos que eu demorei a vida inteira, 39 anos, para acumular.
Que nesse tempo houve horas lentas demais. Ou apressadas demais.
Meses longos. Anos arrastados.
E mesmo esses, tãaaaao demorados, hoje, já penso que poderiam ter sido mais pacientes.
Complicado.
Quando vi que a carta estava virando um enigma incompreensível, respirei e sorri, lembrando que com quase dez anos, o tempo é contado de outra forma, em outras contas, com outro peso.
Dobrei a minha carta imaginaria, e deixei ali, dando a ela o tempo que ela precisa ter.