Para conversar com os adolescentes não é preciso falar na linguagem deles. Afinal, um adulto, um pai, uma mãe, falando “adolescentês” fica esquisito. Mas para realmente conversar com eles é preciso entendê-los.
Parece óbvio, mas nem sempre isso acontece na prática. São inúmeras gírias, palavras estranhas, frases esquisitas. Isso sem falar na linguagem escrita em mensagens (e-mail é coisa de velho, e “falar” realmente no telefone “demorado”), que mais parecem códigos. Os adolescentes estão passando por mudanças, consolidando sua identidade, e para isso o grupo é fundamental! Pertencer a um grupo significa seguir seus códigos. E a linguagem é nada mais do que códigos com a finalidade de expressão. Portanto, começar a entender seu linguajar, por mais “esdrúxulo” que pareça, é o primeiro passo.
Outro aspecto tão importante é saber: do que se trata? Ou seja, conhecer seu mundo! Saber que bandas ele gosta (banda, pois “conjunto” não existe mais, aprendi com meus filhos), que filmes curte, o que e quem são significantes para ele(a), o que ele faz, seus amigos… Não é necessário, para isso, gostar! Ou pior, viver a vida de adolescente, afinal, esse tempo já passou para os pais.
Passamos anos tentando ensinar os filhos a conversar e quando, na adolescência, eles estão com a linguagem totalmente dominada (na verdade antes disso, claro) não aproveitamos para dialogar com eles. Parece que os pais se transformam em verdadeiros discursistas quando querem tomar conta dos filhos, ensinar, proteger, nessa fase tão importante e – por que não – perigosa. Mas para aconselhá-los é importante sair da posição superior para não ficar simplesmente exercendo o papel de educador. Não seria melhor conhecer primeiro o filho para depois ver em que ele mais precisa ser orientado? Dessa forma não há o risco de conclusões precipitadas. Perguntas simples como: “O que acha do que disse?” e “Isso faz sentido para você?” tornarão muito mais agradável, envolvente e eficiente aquilo que querem passar para eles. Logo, converse, pergunte, dê abertura.
Tudo para os adolescentes pode tomar proporções enormes. Os hormônios estão fervendo, sua cabeça pensando em tudo, seus valores sendo revistos, seu corpo mudando… Eles estão entrando numa fase de responsabilidades, onde estão cientes que sua infância despreocupada está acabando e que de agora em diante terão cada vez mais deveres. Há muito sofrimento na adolescência. Cabe aos pais nunca desprezar essas emoções e sentimentos tão confusos – especialmente na conversa, no diálogo. Ouvir por horas a fio o filho reclamar do professor que o odeia, que o persegue (mesmo sabendo que é exagero, dado que ele só tira 9 nessa matéria), ou a filha cuja melhor amiga (que conheceu há 3 meses) contou que ela dorme abraçada com um ursinho de pelúcia para toda a escola, pode parecer bobo para nós adultos, que temos tantas coisas muito maiores para nos preocupar. Mas para eles é sua vida, e isso tem que ser respeitado, especialmente numa conversa, dando o valor que eles estão atribuindo ao fato. Ouçam, perguntem, conversem, aconselhem se for o caso, mas nunca menosprezem.
Não quer dizer, como muitos pais fazem, que então têm que conversar tudo e absolutamente tudo com os filhos, sem censura. E aí os exageros são cometidos e o grande erro de falar coisas para filhos que ainda não tem maturidade para ouvir, contar outras para quem não está ainda pronto para conhecer, e pior, passar a falar como se seu filho fosse seu amigo. Não. Tudo a seu tempo. Filhos podem ser excelentes companhias, ajudar muito, mas não são os amigos. São papéis diferentes. Pais são pais, filhos são filhos, amigos são amigos. Não se pode misturar. As figuras parentais têm que ser sempre preservadas, não confundidas com conhecidos ou amigos com quem convivemos.
O que remete a outro aspecto tão importante também. Nossos filhos têm segredos. Especialmente os adolescentes. E isso tem que ser respeitado. Da mesma forma que os pais não podem (nem querem) sair dividindo com eles aspectos muito íntimos de sua vida privada, os filhos têm esse direito. Para isso, em ambos os casos, existem os amigos, com os quais o diálogo é outro. Respeito aqui é fundamental, além de maturidade para entender que nunca saberá absolutamente tudo da vida de seu filho.
“- Ah, mas meu filho não conversa comigo, é cheio de segredos! Não consigo trocar 5 minutos de conversa”. Problema à vista. Talvez porque em algum dos aspectos enumerados acima esteja havendo falha. Atenção. Reveja o relacionamento, reveja a forma como a conversa (ou a falta dela) é conduzida. Tente, mude, é possível. Se houver vontade, interesse, pode-se começar realmente a conversar com os filhos e fazê-los querer conversar com os pais porque será gostoso.
Por fim, é certo que adolescentes que não conversam com os pais são filhos desconhecidos. E isso só piorará com o tempo e só aumentará a distância entre as partes. Não esquecendo também que dialogar inclui ouvir, de ambas as partes. Conversar é fundamental, é conviver, é conhecer, é dividir. É curtir um ao outro. Seu filho ficará muito mais aberto se houver diálogo, e isso requer ambas as partes. E educar é exemplo. Se não começarem a conversar, não esperem que eles o façam.
Leia também: Importância do diálogo ao desenvolvimento saudável na infância e adolescência
Fonte: Outeiral, José. “ Adolescer”, Ed. Revinter, São Paulo-SP, 2008, 3ª edição
Por Letícia Rangel, psicóloga
Atualizado em 31 de maio de 2024