No final de setembro, a Fundação José Luiz Setúbal realizou seu 7º Fórum de Políticas Públicas da Saúde na Infância, abordando o tema Insegurança Alimentar. O evento ocorreu no belíssimo espaço da Pinacoteca do Estado de São Paulo para convidados e com transmissão ao vivo no canal do Youtube da Fundação.
Abordando o tema de maneira holística, quem assistiu ao Fórum pode ter uma ideia muito boa do problema e de sua complexidade. Pudemos ouvir as vozes do Ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social, que falaram das ações do governo, assim como de organizações como Unicef, Desiderata e Prato Cheio, que atuam no Brasil inteiro com programas consolidados e com décadas de experiência.
Como foi alertado no último relatório do Unicef e pelos especialistas, o problema da insegurança alimentar no Brasil hoje não se limita à desnutrição e à fome, mas também ao sobrepeso e à obesidade, muitas vezes também acompanhados de elementos de desnutrição, como anemia e hipoproteinemia.
Outro tema muito interessante discutido foi o da alimentação escolar. Trazendo levantamentos de pesquisas acadêmicas e de experiências públicas, pode-se debater vários aspectos como agricultura familiar, rede de fornecimento, alimentos industrializados, propaganda infantil e redes sociais numa discussão muito rica sobre a problemática.
Após o almoço no local e tempo para as pessoas poderem conversar, trocar ideias e fazerem o networking, sempre importante em reuniões desse tipo e com a diversidade do público presente, tivemos uma das discussões mais interessantes que tive oportunidade de presenciar nos últimos tempos: a discussão da insegurança alimentar nas populações indígenas e das crenças da Região Norte do Brasil.
Tivemos a oportunidade de ouvir um representante do governo do Pará discorrendo sobre a alimentação escolar feita com alimentos orgânicos, sendo 129 espécies diferentes vindas de agricultura familiar e, destas, 29 seriam produtos regionais da alimentação típica da população local. Muito interessante.
Em seguida, pudemos ouvir um emocionante depoimento de uma representante indígena, Adelina Fidelis, do MAPANA — Associação de Mulheres Indígenas, contando toda a sua dificuldade em colocar a produção agrícola de sua aldeia no mercado. Antes, o governo comprava três vezes ao ano, depois passou a comprar duas vezes, esse ano só comprou uma vez. Eles não têm previsibilidade, não têm como estocar. A realidade é dura, muito diferente do que o secretário do governo contou.
Também houve o depoimento de uma antropóloga que está fazendo pesquisas para nossa Fundação e que conheci em minha visita a Rio Branco, no mês passado. Ela contou das dificuldades de fazer uma cesta básica adaptada ao paladar e aos hábitos dos yanomami. Realmente vivemos num país muito complexo, muito diverso e com problemas nada triviais ou óbvios.
Na última mesa, que mostrava as experiências de sucesso, quem acabou emocionando a todos com seu depoimento foi a Natalia, do Rap da Saúde, contando sobre sua vida e a dureza de não ter o que comer na pandemia, e a dificuldade de saber o que faz bem e o que faz mal para a saúde. Como não é todo mundo que tem informação, como é difícil fazer escolhas quando não se tem dinheiro, que não basta culpar os adolescentes, que é preciso buscar se comunicar com ele, que a maioria deles está disposta a se comunicar, mas que é preciso encontrar esse canal de comunicação (essa é a proposta do Rap da Saúde).
Neste Fórum, também tivemos a oportunidade de lançar um projeto que a Fundação José Luiz Setúbal está fazendo com o artista plástico Vik Muniz, a galeria Nara Roesler e o Unicef. Uma série de sete obras do artista serão produzidas, patrocinadas pela Fundação, e o resultado das vendas será doado para o Unicef para projetos de combate à fome.
No final, tivemos o privilégio de contar com uma visita guiada pela Pinacoteca com a curadora Ana Maria Maia e o diretor Jochen Volz, a quem agradecemos o gentil acolhimento. Pudemos saciar nossa fome de cultura e arte pelos lindos corredores e salas da Pina.
Realmente foi muito especial esse Fórum, com um conteúdo pertinente, discussões muito importantes, depoimentos emocionantes e cheios de experiências e vivências únicas.
Para quem não pode ir ou assistir, o conteúdo está disponível no nosso canal do Youtube:
Leia também:
Visita a Roraima e conhecendo um xamã defensor da Terra
Saiba mais:
Fórum do Infinis debate desafios da segurança alimentar infantil no país