“Todo o bem que pudermos fazer, toda a ternura que pudermos dar a um ser humano, que o façamos agora, neste momento, porque não passaremos duas vezes pelo mesmo caminho. Quando você faz qualquer coisa em favor do próximo, estará fazendo bem a si mesmo.”
James Greene
No dicionário do professor Antônio Houaiss, a palavra “especial” tem várias acepções. Gosto muito de algumas: “aquele que é fora de série”, “ótimo”, “excelente” ou “que desperta ou evoca coisas boas”. Minhas crianças especiais são bem isso: excelentes, foras de série e, em minha vida, só têm evocado coisas boas.
Mas quem são essas crianças? Bem, de maneira geral, todos nós consideramos especiais aqueles que somos apegados. Todos temos nossas particularidades, mas, no contexto da Odontologia, essas crianças especiais têm uma conotação diferente. Elas são crianças que necessitam de uma atenção especializada do profissional. Não que cada uma delas não mereça uma atenção individualizada, mas, para fins didáticos, a “criança especial ou com necessidade especial” precisa de um suporte diferenciado, devido às condições clínicas, mentais, físicas, sistêmicas ou comportamentais delas.
Elas precisam de uma atenção que, muitas vezes, foge à rotina de um consultório odontológico. Em alguns casos, até o consultório precisa ser diferente. Elas necessitam de mais tempo no atendimento, às vezes, requerem medicamentos de uso restrito e controlado e, em alguns casos, precisam ser tratadas em centros cirúrgicos de hospital, sob supervisão de uma equipe médica. E isso é mais comum do que você possa imaginar.
Posso falar isso porque tenho dedicado fortemente minha atuação com os pacientes com necessidades especiais há mais de 30 anos. Eles fazem parte do meu mundo profissional, e por que não dizer pessoal? Afinal, é possível desvincular um do outro?
Pois bem, posso também chamá-las de minhas, pois seus pais ou responsáveis quando as levam ao consultório depositam a confiança em minhas mãos para cuidar de um ser tão fragilizado. Lembro-me bem quando um dia, levando uma criança para o centro cirúrgico, o pai, com lágrimas nos olhos, me disse: “Dr., por favor, cuide de minha filha como se fosse sua”. Eu respondi: “Mas ela é minha”.
Não conseguirei aqui exprimir em palavras todo o sentimento e carinho que tenho por essas “minhas crianças”. Ele transcende questões religiosas, pecuniárias ou emocionais. Simplesmente considero-as “minhas crianças especiais”.
Porém, se de maneira geral elas são mais difíceis de tratar, requerem mais tempo, paciência, mais estudos, mais comprometimento, por que então os “especiais” evocam coisas boas, como diz no Houaiss? Poderia dizer aqui que elas são responsáveis por eu ter sido indicado para receber a maior honraria da Odontologia brasileira, a medalha e diploma de mérito profissional “Dr. Luiz Cesár Pannain”, uma espécie de Oscar da Odontologia, no próximo mês de outubro, na Semana do Dentista, mas não é isso.
As minhas crianças especiais são responsáveis por desenvolver minha carreira profissional, por moldar meu estilo de vida e por modificar minha percepção sobre o mundo que vivemos. Elas fazem bem para mim, elas me fazem uma pessoa melhor. Obrigado a todas elas!
Por Dr. Reynaldo Figueiredo, especialista em Odontopediatria, Odontologia para pacientes com necessidades especiais, Implantodontia e Habilitação em Odontologia Hospitalar e Laserterapia.
Atualizado em 15 de maio de 2024