Com esta pergunta encerramos nosso webinar sobre o impacto da pandemia no desenvolvimento infantil, que eu moderei e que teve a participação da Dra. Evelyn Eisenstein, pediatra do Rio de janeiro e estudiosa de violência, e do professor Emérito da faculdade de Psicologia da USP e assessor do Instituto PENSI, Dr. Lino de Macedo. O webinar foi muito bom e tratou de vários temas de pediatria, psicologia, violência doméstica, educação, entre outros. Vale a pena ver ou rever.
Mas voltando ao tema desta postagem, vou me ater a minha resposta e me aprofundar um pouco ao que disse na ocasião. Quando a Gabriela Macedo, por acaso filha do Dr. Lino, deixou a pergunta no YouTube, achei que era uma ótima questão para terminar o webinar de forma refletiva. Acabei por fazer uma intervenção também, embora estivesse ali para mediar.
Naquele momento, respondi que quem faz a hora somos nós, quis me referir à música Caminhando, de Geraldo Vandré, uma espécie de hino da minha geração.
“Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer…”
Cheguei a comentar que em todos os momentos existem coisas boas e ruins e que cabe a nós extrair do momento estas coisas. Não sei exatamente por que me veio a canção naquele instante, mas lendo agora continuo achando que tem muito a ver.
Todos estamos em quarentena, cansados e talvez até cheio (como é meu caso) de ficar em casa. Querendo abraçar de verdade, ter contato humano real, e cansado de dar aula para o filho, com saudade de ir ao cinema, ao teatro, ao barzinho, à casa dos amigos, até à casa da sogra ou do cunhado. Nossa, quanta coisa ruim temos para reclamar do que estamos fazendo e quanta coisa podemos lamentar que estamos perdendo?
Agora, podemos olhar por outra perspectiva e procurar ver o que estamos ganhando nesta pandemia. Outro dia, ouvi de um pai que tinha a oportunidade de ficar com seus filhos, jovens adultos que estavam na mesma casa, fazendo home office, coisa que jamais teria ocorrido, e com isso teve a chance de conversas inusitadas.
Eu tive uma convivência diversa com minha filha e meus netos. Pude observá-la dando aulas e os ajudando nas tarefas escolares, assim como mostrando para eles que não estavam num feriado ou de férias e que teriam de ter uma rotina, apesar de estarem numa casa onde habitualmente usavam para lazer e para se divertirem.
Respondendo à Gabriela, acho que podemos tirar coisas boas desta pandemia, seja para nossa vida pessoal, seja para nossa vida coletiva. Eu diria que sairemos mais solidários de maneira geral, pensando mais nas necessidades dos outros e das comunidades. Espero que passemos a valorizar mais as coisas como a ciência, a pesquisa e estas profissões, pesquisadores, profissionais das ciências, como médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, e outros da saúde, e dar menos valor aos esportistas e artistas glamurosos.
Acho que seremos mais generosos, menos egoístas e mais simples. Valorizaremos mais a vida e menos as coisas. Mais as amizades e menos a matéria. Nos encontraremos mais e com menos gente, viajaremos menos e para mais perto. Acho que saberemos aproveitar melhor a vida, porque daremos mais valor a ela e ao que realmente importa.
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Atualizado em 3 de fevereiro de 2025