Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

O tempo, a criança e os pais

O tempo, a criança e os pais

O tempo, a criança e os pais

Tem uma cantiga no estilo parlenda que diz o seguinte: “O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo que o tempo tem? E o tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”. Mais que um trava-línguas, esta rima é um alerta: será que estamos dando às crianças o tempo que elas precisam?

Eu, como muitas mulheres que se dividem em vários papéis, tenho que administrar tantas tarefas no dia a dia que os minutos precisam ser todos bem aproveitados. Mas eu sou adulta, com todas as minhas habilidades motoras e cognitivas desenvolvidas e, acima de tudo, responsável pelas consequências de uma agenda super lotada.

Entretanto, os especialistas em desenvolvimento infantil concordam que o tempo da criança é outro, bem diferente e necessariamente bem mais elástico que o nosso.

Desde quando nascem, os bebês precisam adaptar-se a muita novidade. É um turbilhão de coisas acontecendo e, para processar tudo isso, precisam de momentos sem estímulos.

Conforme cresce, a criança aguça a curiosidade e têm sua própria noção do tempo, que é completamente diferente da noção do relógio. Até pelo menos 7 anos, é difícil estabelecer mentalmente o que são 5 minutos ou uma hora. É muito relativo. E a vontade de descobrir o mundo, de absorver tudo, faz com que a criança pare para ouvir um barulho novo, para observar uma formiga na rua, ou para criar a próxima brincadeira de faz de conta. E nisso tudo, elas clamam para não serem apressadas por nós, adultos.

E vamos concordar que ninguém gosta quando, por exemplo, precisa acelerar aquele filme maravilhoso que está assistindo (ou parar na metade) porque é preciso ir trabalhar. Que frustrante! Imagine para uma criança!

Como agir

Então não adianta acordar em cima da hora e ficar esbravejando e apressando a criança para se vestir depressa, comer correndo e escovar o cabelo enquanto coloca os livros na mochila. “Faltam 3 minutos! Anda! Está atrasado 2 minutos! Não escutou? Eu disse 2 minutos!” A responsabilidade sobre o tempo da criança é nosso e não deles.

Outro ponto importante que os especialistas destacam é o desenvolvimento puro e simples das habilidades. Uma criança leva mais tempo para escovar os dentes ou calçar um sapato. Como demora mais para entender uma informação nova. Então, nada de competir no dia a dia, esquecendo-se disso, e achando que ela terminará uma tarefa ao mesmo tempo que você.

Minha sócia no Tempojunto, a Patricia Camargo, tem uma experiência pessoal sobre este tema. O primeiro filho dela, hoje com 6 anos, foi ensinado desde pequeno a fazer as coisas na velocidade dos adultos para acompanhar o ritmo dos pais. Mesmo nos momentos de brincadeira e lazer, tudo era muito depressa, muito intenso. O resultado é que ele ganhou já sua cota de ansiedade, come depressa demais e se concentra pouco.

Na casa da Patricia isto mudou. E o respeito ao tempo dos filhos (hoje ela tem três) norteia as atividades. Com isso, o nível de ansiedade de todos diminuiu. Então, se você se identificou com alguma coisa neste texto até agora, aqui vão algumas dicas importantes.

  1. Respeite o ritmo da criança:

A criança precisa de mais tempo que o adulto para praticamente tudo. Esta é uma realidade imutável. De atravessar a rua a resolver uma lição de casa ou a finalizar uma brincadeira. Então, pare e observe o ritmo do seu filho. E estabeleça os horários e horas necessárias para cada atividade a partir disso.

  1. Não crie agendas impossíveis:

Quanto mais atividades na agenda, mais ansioso, estressado e até agressivo seu filho será. E ninguém quer isso. Será mesmo necessário 3 aulas extras por semana aos 3 ou 4 anos? “Mas ele gosta”. Claro que sim. Crianças gostam de várias coisas, mas quem define o que convém são os adultos.

Certamente seu filho não será mais ou menos capaz de desenvolver uma ou outra habilidade se ele começar a praticá-la mais tarde. Por outro lado, se ele tiver uma agenda compatível, certamente será mais capaz de viver cada momento e identificar o que é importante.

  1. Respeite a necessidade de pausa e descanso:

A receita infalível para um desastre familiar é “pular” de um evento a outro com seu filho, sem respeitar o direito que ele tem da pausa, do descanso. Pode esperar muito choro, manha e malcriação. Pudera, ninguém pode ser feliz e educado quando está cansado, irritado e mal humorado.

Por isso, adapte sua vida social às necessidades da criança. Proporcione condições para que ela volte par casa entre uma atividade e outra. Dê o tempo da soneca, ou o descanso sem nada programado. O ócio faz bem. E se esforce para garantir as horas de sono necessárias.

Por mais que isso possa custar à sua agenda, você vai agradecer o resultado no futuro.

  1. Dê ao tempo o que o tempo tem:

Isso é fundamental. Dê a seu filho tempo. Tempo para brincar, para entender, para descobrir, para seguir seu ritmo. Tempo para conhecer, para experimentar e para fazer as coisas de forma independente. Ensine-o a valorizar o tempo do ócio, o tempo da imaginação, o tempo de respirar fundo. Você estará dando um dos presentes mais importantes para ele: a viver, em lugar de ser atropelado pela vida.

E no fundo, no fundo, nós adultos, também precisamos de tempo. Para processar as coisas, para entender algo novo, para se adaptar a mudanças ou simplesmente para nos enchermos das alegrias do mundo. Porque com as crianças precisa ser diferente?

Leia também: O seu filho quer brincar sozinho?

POR PATRÍCIAS CAMARGO E MARINHO

Patricia Marinho, publicitária de formação, é a criadora do Tempojunto, um projeto que traz dicas de brincadeiras para serem feitas em qualquer situação. Junto com sua sócia, a jornalista Patricia Camargo, querem mostrar a importância da brincadeira para as crianças e para o vínculo afetivo positivo entre pais e filhos.
Atualizado em 15 de agosto de 2024
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