Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Posso entrar?

Quando a humanização bate à porta no hospital

Quando a humanização bate à porta no hospital

Dia desses, batemos à porta de um menino no hospital que nos disse em alto e bom tom: NÃO! Ainda tentamos, com boas intenções, mas com uma irritante insistência, persuadi-lo a nos receber, acreditando que nossas bolhas de sabão o encantariam e o fariam esquecer a tristeza por alguns minutos, mas ele não se deixou enganar e levamos mais um NÃO, agora com mais decisão, e nos retiramos.

Acreditamos que no hospital, onde a criança passa por diversos procedimentos e dores que não pode rejeitar, ter nossa visita recusada pode ser uma ótima oportunidade do paciente agir em nome daquilo que está sentindo, ter seu desejo legitimado, mesmo que por pouco tempo.

Nossas impressões são paradoxais e ficamos imaginando se haveria algo a se dizer ou fazer que pudesse ter sido melhor que este não encontro. Mas este não encontro é temporário, pois no dia seguinte lá estamos para uma nova tentativa e, com sorte, podermos entrar e trocar com aquela criatura cheia de vontades.

Apesar desses episódio, em geral, somos recebidos em nossas investidas. A sensação é de que somos (quase sempre) bem vindos e é uma sensação muito boa. Esse passe livre nos dá a chance de promover momentos de alívio e de desabafo nesse dia a dia difícil da internação para o paciente, para seus acompanhantes ou ainda para alguma enfermeira que está enfrentando dificuldades para se comunicar com aqueles hóspedes temporários, por exemplo.

Esta semana, pensei em uma frase ao me despedir de uma menina que teria alta do hospital em breve: espero que você vá embora e não volte nunca mais! Ali, essa frase pode ser dita com carinho e essas brincadeiras todas são uma forma de descobrir outras perspectivas para essa experiência difícil. E elas são possíveis porque nós somos bem vindos! Não que outras pessoas não sejam, mas nós, seres encantados, somos bem vindos na maioria das vezes. Quando bato à porta de alguém e me apresento como Cinderela é como se eu fosse uma amiga antiga e íntima, alguém com quem conversar, brincar, estar em silêncio, alguém que pode entender tudo o que se passa ali, porque há amor e compreensão nas amizades duradouras.

Esse é um dos encantos desse trabalho, acessar rapidamente a intimidade mais profunda dessas pessoas que acabamos de conhecer. E um desafio diário é aceitar a rejeição, não como uma agressão, mas como um ato de confiança. Neste momento, as crianças confiam em nós, eles sabem que bons e velhos amigos podem aceitar aquele ‘não’ sem deixar de insistir na relação. E há uma sutileza nessa insistência, pois não deve ser intransigente, mas um ato de resiliência de alguém que tem mais condições naquele momento de tentar mais uma vez.

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Por Cinderela (Jackeline Stefanski)

Atualizado em 6 de novembro de 2024

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