Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Tratamento de canal em crianças

Tratamento de canal em crianças

Tratamento de canal em crianças

Rotineiramente tenho recebido crianças em meu consultório para tratamento endodôntico, mais popularmente conhecido como tratamento de canal. É uma situação desagradável para a criança, difícil para o dentista e inesperada para muitos pais. A surpresa vem do fato de que muitos ainda desconhecem a situação e perguntam: mas precisa tratar canal em dentes de crianças? Ou dente de criança tem raiz?  Mas o dente de leite não vai cair?

Claro que são dúvidas pertinentes, mas elas surgem da desinformação dos não profissionais de odontologia e principalmente de histórias, nem sempre muito agradáveis, de tratamentos anteriores. Tem sempre alguém com uma história própria ou de uma pessoa próxima que transforma o tratamento de canal em um desastre de proporções gigantescas. Alguns chegam a comentar: “se eu tiver que tratar o canal, prefiro extrair o dente”. Calma, devagar, não é bem assim.

Hoje, com técnicas modernas, equipamentos e materiais de última geração, os tratamentos de canal são rápidos, indolores e de custo-benefício bem satisfatório. Além de tudo, preservam os dentes e mantém intactas as arcadas dentárias. Por isso, fique tranquilo, se precisar tratar o canal de um dente, procure um bom profissional, de preferência um endodontista e preserve sua saúde bucal.

Mas, e com as crianças, como deve ser o tratamento de canal? Primeiro vamos orientar o seguinte: as crianças têm dentes de leite e permanentes, e podem necessitar tratar qualquer um deles. No caso de dentes permanentes de crianças é preciso avaliar a faixa etária e, com o auxílio de exames radiográficos, definir o procedimento adequado. Ele pode ser definitivo ou expectante até o dente completar seu tamanho definitivo (ah, aqui um parêntesis: os dentes não nascem com as raízes completas, elas se formam depois de um tempo, que varia de acordo com o tipo de dente). De maneira geral, com o tamanho completo e fechamento do ápice da raiz, o tratamento é semelhante ao do adulto.

Os dentes de leite, porém, têm outras regras. Para começar, mesmo tendo as mesmas estruturas do dente permanente: esmalte, dentina, cemento e polpa (onde está o famoso “nervinho”), as dimensões são bem diferentes. O esmalte e a dentina são mais finos, mas a polpa (o nervo) é ampla, por isso, às vezes, mesmo uma cárie aparentemente pequena pode atingir o canal, e se isso acontecer, hum, pode correr para o dentista, porque vai doer, e se não doer, vai infeccionar. E nenhuma criança merece isso, principalmente seu filhote.

Se tratar pacientes adultos já demanda orientações, explicações, convencimentos e não é fácil, pense em uma criança pequena (bem, não precisa ser pequena) com dor, abscesso, inflamação e infecção. Peça para ela abrir a boquinha e ficar quietinha enquanto o “titio” aplica a anestesia e passa o motorzinho e trata o “canalzinho”. Com tantas histórias (aquelas) que todos têm, e esse mundo me pertence, reconheço que é difícil para todos, mas, infelizmente, alguém tem que cuidar e cabe ao dentista, com apoio dos pais ou responsáveis, essa dura missão, mas recompensadora, de salvar dentes que doem. Ou você prefere ver seu pequeno sofrer?

Ah, mas aí vem o ingênuo e diz: “não precisa, o dente de leite vai cair”. Vai sim, mas com que idade? Muitas dessas crianças vêm pequenas ao consultório, com cáries extensas que podem atingir o canal em uma criança aos dois anos de idade, sendo que aquele dente vai cair aos sete. Ou uma cárie que atinge o canal um dente molar infantil aos seis anos, mas vai trocar esse dente aos doze. O que fazemos no intervalo desses anos todos? Extrair o dente é uma possibilidade, às vezes, a pior de todas. A perda precoce dos dentes de leite traz desarmonias nas arcadas e alterações na cronologia das erupções dos dentes permanentes, por isso o melhor a se fazer, dentro de critérios adequados, é tratar o canal e conservar o dente até a época correta dele cair.

Se seu baby nem reclamou, mas você percebeu uma bolinha na gengiva, vermelhinha ou amarelinha, fique esperta, pode não ser uma afta, mas sim uma fístula, que é um canal patológico formado para expelir o pus de um dente infectado e que pode se transformar em um abcesso enorme, trazendo riscos para a saúde geral da criança.

Por isso, sempre que você for ao dentista, peça para fazer uma revisão geral da boca, avalie com ele se o dente decíduo vai permanecer por bastante tempo mantendo o espaço para o dente permanente e então decida a melhor opção para a preservação. Sorrisos de crianças são faróis que iluminam nossos dias, não deixem que elas sofram com dores e infecções.

Leia também: A vilã chamada cárie

Por Dr. José Reynaldo Figueiredo, especialista em Odontopediatria, Odontologia para pacientes com necessidades especiais, Implantodontia e Habilitação em Odontologia Hospitalar e Laserterapia.

Atualizado em 13 de junho de 2024

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