Recentemente vi um vídeo onde diversas mães se descreviam. Todas, sem exceção, tinham críticas a seu papel. Umas diziam achar que tinham pouca paciência, que gostariam de poder controlar melhor suas emoções e reações no trato com os filhos. Aliás, o quesito mais recorrente foi este, paciência, ou falta de. Muitas questionavam sua habilidade maternal. Também criticavam seu grau de exigência para com os filhos. Algumas gostariam de ter mais tempo para ficar com eles. Cada uma se descreveu querendo ser melhor em algum aspecto. Não houve uma sequer que tenha colocado achar que era boa mãe, que estava realizando bem seu papel. Em seguida o vídeo mostra os filhos descrevendo essas mães. Todos as elogiavam. Todos diziam que sua mãe era ótima. Todos demonstravam serem muito felizes e apreciarem o carinho e a educação que elas lhes dedicavam. A surpresa e emoção dessas mães ao ouvir os depoimentos é visível em suas feições. A alegria que demonstram após ouvi-los e a satisfação de perceberem que estão cumprindo bem seu papel, pelo menos ao olhar de seus filhos, é clara na mudança em seus discursos ao final.
Essas mães descreveram-se pelo viés da falta, da necessidade de melhorar, enquanto seus filhos, ao contrário, as descreveram pelos aspectos positivos de seu relacionamento. As crianças valorizaram pequenos momentos, pequenas atitudes, como cozinhar, ir ao shopping, brincar juntos. Podemos então perceber o quanto, e mais importante, são os alicerces desse relacionamento, que são construídos desde o início. E a chave é o apego.
Mary Ainsworth, psicóloga do desenvolvimento norte-americana, define-o como “um vínculo afetivo que uma pessoa ou animal cria entre si mesmo e alguém mais – um vínculo que os interliga no espaço e perdura no tempo”. A qualidade do apego pode ser mensurada pela maneira em que as necessidades da criança são sentidas pelos seus cuidadores, a responsividade aos sinais específicos da criança, e especialmente, pela interação entre a criança e seus pais, estes devendo estimular seu desenvolvimento e crescimento. Um bom apego, ou um apego seguro, de acordo com Mary Ainsworth, apontará para um bom relacionamento dos filhos com seus pais ao longo da vida. Isso essas crianças traziam ao descreverem suas mães. Elas sentiam o carinho, o amor e o afeto que essas mulheres lhes proporcionavam, e os valorizavam acima de tudo. Mais do que uma bronca, ou do que uma falta de paciência, como as mães colocavam como sendo aspectos negativos delas.
Mães não são perfeitas (mesmo que o sejam ao olhar dos filhos), são humanas e erram. Têm sentimentos, raivas, frustrações, preguiça. E assim serão no relacionamento com seus filhos. Não podem separar ser mãe de ser pessoa, por mais que tentem. Mesmo porque a vida não é perfeita, os relacionamentos não são perfeitos, tampouco as pessoas. Não há como garantir um mundo ou um relacionamento entre pessoas que seja perfeito e poupe os filhos de sofrimento. Aquilo que não se aprende na infância com os pais, como lidar com a frustração, vivenciar um momento de falta de atenção, será aprendido na vida, fora do âmbito familiar. E isso ocorrerá de uma forma muito mais dura. Logo, vivenciar suas limitações junto aos filhos e demonstrá-las faz parte e é importante. Mas construindo um apego de qualidade, eles tenderão a perceber suas mães de forma muito mais positiva, como nos exemplos dos depoimentos no vídeo descrito. E quantas vezes isso não é feito naturalmente, como o foi para essas mães que nem o percebiam.
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Por Letícia Rangel, psicóloga
Atualizado em 4 de junho de 2024