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Vacinas salvam 3 milhões de vidas por ano no planeta; conheça a história da imunização no Brasil

Cerca de 3 milhões de vidas são salvas todos os anos no mundo todo graças à vacinação. Esta é a estimativa da OMS de mortes evitadas por poliomielite, difteria, tétano, coqueluche, sarampo e gripe.

Desde a primeira vacina, contra a varíola, criada em 1796 pelo médico inglês Edward Jenner, a imunização impactou o aumento da expectativa e da qualidade de vida humana.

Um relatório da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) nos dá um panorama histórico da vacinação do país. Confira:

No Brasil, a vacinação começou em 1804 (https://revistapesquisa.fapesp.br/veredicto-oficial/), antes da chegada da corte portuguesa. Um grupo de sete pessoas escravizadas foi enviado a Lisboa para tomarem as primeiras doses e trazerem o imunizante ao país. A imunização ocorria de uma maneira chamada “braço a braço”, a partir dos anticorpos produzidos pelo organismo dos vacinados.

No ano seguinte, 1805, a vacinação se tornou obrigatória em parte das províncias brasileiras – no entanto, a obrigatoriedade não era levada muito a sério.

Impulso na chegada da corte

A corte portuguesa chegou em 1808, e, com isso, a vacina contra a varíola ganhou impulso. O próprio imperador, Dom João, perdeu dois irmãos e um filho para a doença. Em 1811, ele criou a Junta Vacínica da Corte, justamente para implantar a vacinação em todo o país.  O órgão era subordinado à Fisicatura, responsável pela fiscalização do reino e à Intendência Geral de Polícia. Em 1831, passou a se chamar Junta Central de Vacinação.

Na década de 1820, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul contavam com os chamados institutos vacínicos, segundo o Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930) da Fiocruz (http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/instvacimp.htm ).

A obrigatoriedade da vacina foi estabelecida por lei em 1832 para todos os habitantes do império, sem exceção. Mais uma vez, a regra não foi seguida à risca. O cenário só mudou a partir do século XX. A mudança só aconteceu, após episódios de resistência da população contra a vacinação, que culminaram com a Revolta da Vacina, em 1904 – um século após a viagem em busca das primeiras doses.

A trajetória da vacinação do país, ainda no século XIX, foi consolidada por pioneiros como Adolpho Lutz, Vital Brazil e Oswaldo Cruz − símbolo da luta contra a febre amarela urbana, que teve seu último caso registrado no país em 1942.

Eliminação da varíola e o PNI

A varíola foi, enfim, eliminada das Américas em setembro de 1973. No mesmo ano, foi formulado o Programa Nacional de Imunizações (PNI), concretizado em 1975, pela Lei n. 6.259. O objetivo do plano seria coordenar, garantir a continuidade e ampliar a abrangência das ações de vacinação em todo o país.

Dois anos depois, em 1977, foi publicado o primeiro calendário de vacinação brasileiro. Foram incluídas a BCG (contra formas graves de tuberculose), a poliomielite oral (VOP), a tríplice bacteriana (DTP, contra difteria, tétano e coqueluche) e a vacina do sarampo.

Mais uma vez, a adesão à vacinação enfrentou contratempos. Apenas 50% dos menores de 1 ano foram imunizados. Mesmo com a implantação do calendário anual, ainda havia estados com epidemias de poliomielite e sarampo.

Erradicação da pólio e o Zé Gotinha

Nesta época, o cientista Albert Sabin, inventor da vacina oral contra poliomielite (VOP), chegou a se manifestar na imprensa nacional “contra a ineficiência da vacinação contra a pólio no Brasil”.  Casado com uma brasileira, Sabin, que era polonês, cultivava profundas ligações com o Brasil e realizou diversas palestras no país.

Em 1980, a implantação dos dias nacionais da vacinação contribuiu para que a cobertura vacinal desse um salto em todo o país, ajudando a erradicar a poliomielite. O último caso da doença foi registrado em 1989, e o certificado de eliminação foi concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em 1994.

Ainda na década de 1980, um aperfeiçoamento não só da estrutura do programa, mas também de seu plano de comunicação, ajudaram a alavancar a cobertura vacinal. Um marco foi a criação do personagem Zé Gotinha, em 1986, presente até hoje nas campanhas de todo o país.

Além disso, a campanha passou a contar com o apoio de personalidades com grande apelo junto ao público infantil, como a apresentadora de TV Xuxa. A imunização se popularizou. Todos, enfim, sabiam que era necessário se vacinar.

Consolidação do PNI

O PNI se consolidou como um dos melhores exemplos de garantia de acesso universal e igualitário à saúde, como estabelecido pela Constituição de 1988.

Por meio do PNI, foram erradicadas a poliomielite, a rubéola, a síndrome da rubéola congênita e o tétano materno e neonatal. O sarampo chegou a ser erradicado, até 2019, mas a redução na quantidade de pessoas vacinadas fez o vírus retornar ao país. 

O PNI também conquistou uma redução significativa no adoecimento e mortalidade provocados por doenças como difteria, meningites bacterianas e coqueluche, reduzindo o sofrimento das pessoas e o peso do tratamento para o sistema de saúde.

Atualmente, o calendário atual do programa inclui 47 imunobiológicos, entre vacinas, imunoglobulinas e soros, oferecidos de forma gratuita para crianças, adolescentes, adultos e idosos. 

Além da imunização da população geral, também foram criados os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Estes espaços oferecem vacinas para pessoas imunodeprimidas por doença ou tratamento, e para quem vive com doenças crônicas (como o diabetes), que aumentam o risco de infecção ou complicações. Os contatos próximos dessas pessoas também têm direito a receber vacinas que não são encontradas nas Unidades Básicas de Saúde ou que não são oferecidas gratuitamente para suas faixas etárias.

Referência internacional

O PNI tornou-se referência internacional por obter êxito em um país populoso, de dimensões continentais e com regiões de difícil acesso.

Ao se tornar um exemplo, o programa foi chamado para organizar campanhas de vacinação no Timor Leste, colaborou com ações em áreas de conflito como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, promoveu treinamentos, firmou acordos de cooperação técnica e doou vacinas a outros países.

O investimento, a qualidade dos centros de pesquisa, dos profissionais e das fábricas de vacinas colocaram o Brasil em uma posição de vanguarda, com capacidade de produzir em massa imunobiológicos de altíssima tecnologia. 

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