Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Você já olhou os dentes do seu filho hoje?

Você já olhou os dentes do seu filho hoje?

Você já olhou os dentes do seu filho hoje?

Sempre quando chega a data de escrever um novo post eu fico pensando qual o assunto da hora, algumas vezes são indagações dos pacientes, dúvidas de tratamento ou prevenção, temas referentes a datas específicas, por exemplo: dia das crianças, e também de acontecimentos do dia a dia. Hoje vai ser um deles. Uma coisa que me incomoda, não apenas me incomoda, mas me espanta, é a quantidade de crianças que vêm ao consultório com os dentes mal higienizados. Algumas delas até com bala ou chiclete na boca, sem contar a casquinha da pipoca da noite anterior. Ok, muitas vêm após o período escolar e não deu tempo de escovar, vamos dar um desconto, mas não tem como enganar olhos treinados, muitas vezes dá para perceber que aqueles dentinhos estão há muito sem receber a visita da escova. O fio dental, então…

Quando eu era criança, mesmo quando adolescente, havia duas regrinhas básicas antes de ir ao dentista: uma era escovar os dentes ao máximo, para diminuir as broncas, outra era levar o lenço. Moleque quer jogar futebol na rua, empinar papagaio, e brincar de queimada, quando chegava a hora de ir ao dentista não tinha conversa, dava um trato na aparência, escovava os dentes e pegava o lenço. Hoje mudou, quem usa lenço de pano ainda? Não me lembro de nos últimos anos ver uma criança com um lenço, a coisa ficou mais prática, logo que o paciente senta na cadeira já recebe um lencinho de papel e o babador é colocado. Com relação aos dentes limpos a conversa é outra.

Lógico que existem pacientes que chegam com a boca nos “trinks”, mas tem alguns que eu me pergunto: como os pais deixaram vir assim? E é bastante democrático, ocorre em qualquer classe social, faixa etária, etnia e religião. Fico pensando como puderam sair de casa com uma boca dessas, ainda mais para visitar o dentista. Ao chamar a atenção da criança, ela diz que escovou, olho para o responsável, ele se esquiva e aí como só restam na sala eu e minha auxiliar, jogo a culpa nela. Só pode ser, afinal ninguém tem culpa daquela boca maltratada ou não tratada pela escova ou fio dental.

Apesar da minha ironia ser ignorada, eu lamento que as pessoas ainda não deem o devido valor para os cuidados bucais. A cárie é uma doença de gente pobre, não de dinheiro ou bens, mas de informação. Não é possível crer que com a evolução social e tecnológica desses nossos tempos a higienização bucal ainda continua sendo um drama. Por que parece tão difícil manter limpos os dentes da moçada? De vez em quando ouço uma pérola no consultório que arrepia: “Mas o Sr. ou a Sra. escovou os dentes dele ou dela antes de vir ao consultório? Não, mas ele escovou. Claro, afinal ele liga o tablet ou o smartphone com a maior facilidade”. E a criança tem três ou quatro anos. Calma lá minha gente, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

As habilidades manuais tecnológicas das crianças e adolescentes não estão diretamente relacionadas com sua capacidade de entender a importância dos dentes e gengivas para sua saúde geral e para o futuro. Isso cabe aos pais e educadores, vá lá, aos profissionais também, mas isso tem que ser reforçado em casa, deixar que o dentista tenha a responsabilidade exclusiva pelos cuidados da saúde bucal da criança é um pouco demais.

Costumo dizer aos pais de meus pacientes que os cuidados da saúde bucal são uma parceria do dentista com os responsáveis. De nada adianta receber orientações de higiene, fazer prevenção, se em casa os potes vivem cheios de balas e bolachas e as escovas duram meses para acabar, sinal de que não estão sendo usadas. É mais ou menos como mandar o filho para a escola. Se você acha que o professor, por melhor que seja, vai resolver o problema da educação do seu filhote, esqueça. A educação começa no lar, no máximo eles vão participar da formação das crianças, isso se elas forem cobradas em casa no dia a dia.

Interessante é que muitas crianças até cobram dos pais uma ajuda, mas essa vida agitada da gente… Sei não. Colocar filho no mundo e não ter tempo nem de escovar os dentes do pequeno. Ah, e tem criança que também entrega: “na minha casa não tem fio dental”, “meu pai também não escova os dentes depois do almoço ou antes de deitar”, é constrangedor.

Por isso, meus queridos pais, mães, responsáveis, cuidadores, tios, tias, avós, pensem bem naquela coisinha linda que é o sorriso do príncipe ou da princesinha. Eles estão bem evoluídos nos dias de hoje, nos surpreendem a cada dia, mas cuidar de seus dentinhos em casa ainda é a melhor prática para obtenção de um futuro sem cáries. Por falar nisso, você já olhou para os dentes do seu filho hoje?

Leia também: A vilã chamada cárie

Por Dr. José Reynaldo Figueiredo, especialista em Odontopediatria, Odontologia para pacientes com necessidades especiais, Implantodontia e Habilitação em Odontologia Hospitalar e Laserterapia.

Atualizado em 15 de julho de 2024

Sair da versão mobile