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O alerta do climatologista Carlos Nobre
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O alerta do climatologista Carlos Nobre

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22/05/2025
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Ondas de calor, desastres ambientais, poluição — e os impactos que trazem para a saúde física e mental. Na imagem, Nobre durante o 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil. Foto: Rudah Poran/Galápagos

A relação entre a saúde infantil e as mudanças climáticas é um dos desafios mais urgentes do nosso tempo. De acordo com a OMS, cerca de 1,7 milhão de mortes de crianças menores de cinco anos ocorrem anualmente por causas ambientais evitáveis, como poluição do ar e da água, conforme relatado em seu relatório global de saúde ambiental.  Além dos impactos físicos, há um fator frequentemente negligenciado: o efeito da crise climática sobre a saúde mental das crianças.

No 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, o climatologista Carlos Nobre fez um alerta categórico: “Nós nem chamamos mais mudanças climáticas. Nós já atingimos uma emergência climática.” Segundo ele, secas, enchentes, tempestades e ondas de calor já afetam o desenvolvimento emocional e psicológico de crianças em diversas regiões do planeta. “Mesmo que passe a crise, o medo fica. Crianças expostas a enchentes e deslizamentos vivem inseguras. Isso afeta o desenvolvimento”, alertou ele.

Nobre destacou que as consequências das mudanças climáticas vão além da destruição imediata causada pelos eventos extremos.

O climatologista ressaltou ainda que o Brasil já enfrenta esses desafios de forma crescente, especialmente em comunidades vulneráveis. Ele mencionou que as projeções climáticas, como as divulgadas pelo centro europeu Copernicus e pelos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), indicam uma intensificação desses fenômenos nos próximos anos, exigindo políticas públicas mais eficazes e ações de mitigação para reduzir o impacto sobre a saúde infantil.

Além disso, Nobre enfatizou que a educação ambiental precisa ser fortalecida desde a infância, como forma de preparar as novas gerações para enfrentar a crise climática e estimular soluções sustentáveis.

O impacto das mudanças climáticas na infância não se limita aos eventos climáticos extremos. O aumento da poluição do ar, por exemplo, intensifica problemas respiratórios como asma e bronquite, afetando milhões de crianças em todo o mundo. Carlos Nobre alertou para os riscos da poluição atmosférica, como o material particulado fino (MP2.5), que afeta diretamente a saúde respiratória infantil.

Para além dos problemas respiratórios, Carlos Nobre chamou a atenção para os impactos das mudanças climáticas no desenvolvimento cognitivo e imunológico das crianças. Ele destacou que fatores como desnutrição, estresse prolongado, interrupção das rotinas escolares por enchentes ou desastres naturais e insegurança constante podem afetar diretamente o aprendizado e o amadurecimento neurológico infantil.

“Imagine uma criança que vive em uma área sujeita a deslizamentos ou inundações. Mesmo que a crise passe, o medo permanece. E esse medo afeta o desenvolvimento”, afirmou. Segundo ele, essas experiências traumáticas podem comprometer o sistema imunológico e aumentar a suscetibilidade a doenças ao longo da vida. O climatologista reforçou que, em um cenário de crise climática permanente, a infância será uma das fases mais impactadas, exigindo políticas públicas focadas no acolhimento e na resiliência psicológica.

A necessidade de uma abordagem integrada entre saúde, meio ambiente e políticas públicas foi um dos temas mais debatidos no congresso. Especialistas de diversas áreas apresentaram soluções e estudos que reforçam a importância de medidas preventivas, como o uso de sensores de qualidade do ar em escolas para monitorar a exposição a poluentes e a implementação de programas educativos sobre consumo sustentável e saúde ambiental, o fortalecimento do acesso à saúde digital, a redução do uso de substâncias químicas nocivas no dia a dia e o incentivo a práticas mais sustentáveis na alimentação e no consumo.

Em próximas edições, traremos discussões aprofundadas sobre temas essenciais abordados no congresso, com a participação, entre outros, de especialistas como Evangelina Vormittag (efeitos da poluição no desenvolvimento cognitivo infantil), Maria Paula Albuquerque (desafios da segurança alimentar diante das mudanças climáticas) e Marcelo de Paula Corrêa (o conceito de exposoma e sua aplicação na pediatria).

Emergência climática

“Os eventos climáticos extremos estão se intensificando de maneira muito rápida. Infelizmente, os dados mais recentes mostram que a temperatura já subiu entre 1,4 e 1,5 grau e que a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera continua aumentando. As florestas e os oceanos, que deveriam absorver parte desse gás carbônico, estão removendo menos, enquanto nossas emissões seguem crescendo”, explicou Nobre.

O climatologista alertou que os impactos dessas mudanças já são sentidos em todo o mundo e que o Brasil não está imune a esses fenômenos. A informação foi divulgada pelo centro europeu Copernicus.

“O ano de 2023 foi o mais quente já registrado, e 2024 provavelmente quebrará esse recorde novamente”, disse Nobre em outubro, antecipando um dado que o centro europeu Copernicus divulgaria já no início de 2025: o ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5ºC de aumento na temperatura média da Terra em relação aos níveis pré-industriais. O climatologista afirmou que 2023 foi o ano mais quente já registrado no Brasil e que praticamente todas as cidades do país enfrentaram ondas de calor. Para ele, esses fenômenos já estão afetando a saúde das crianças e devem ser tratados com urgência, pois deixaram de ser um risco futuro e passaram a impactar o presente.

Diante desse cenário, a redução drástica das emissões de carbono é um caminho essencial para evitar um futuro ainda mais caótico. Carlos Nobre afirmou que os compromissos atuais não são suficientes para conter a crise climática. Segundo ele, o limite de 1,5ºC definido pelo Acordo de Paris já foi atingido, e será necessário zerar o desmatamento até 2030 e acelerar a transição para fontes renováveis para evitar um cenário de colapso climático.

O Brasil, segundo Nobre, tem condições de ser o primeiro grande país a atingir emissões líquidas zero até 2040. Ele ressaltou que, com sua capacidade de geração de energia limpa e sua biodiversidade, o Brasil tem potencial para liderar a transição climática. No entanto, segundo ele, isso só será possível com ações coordenadas e urgentes, incluindo o fim do desmatamento e a adoção de políticas sustentáveis.

Nobre enfatizou que a educação ambiental deve ser fortalecida desde a infância, sugerindo que o Brasil adote um sistema educacional semelhante ao do Japão, onde crianças são preparadas desde cedo para lidar com desastres naturais. Segundo ele, a educação sobre mudanças climáticas deve começar na infância, para formar cidadãos mais preparados e resilientes.

A palestra de Carlos Nobre reforçou que o combate à emergência climática é um dever de todos e que o futuro das crianças está diretamente ligado às decisões tomadas hoje. O alerta de Nobre será aprofundado nas próximas edições do Especial Clima e Saúde Infantil, ampliando o debate com a colaboração de cientistas e profissionais da saúde para buscar soluções concretas que protejam as futuras gerações.

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