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Em meio à crise ambiental, o ambiente digital
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Em meio à crise ambiental, o ambiente digital

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22/05/2025
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Joel Pinheiro da Fonseca, pai e filósofo, aborda a relação entre o universo digital e o crescente impacto da tecnologia na vida das crianças. Foto: Rudah Poran/Galápagos

Enquanto especialistas se reuniam para discutir o bem-estar infantil e os desafios contemporâneos, no 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, com base em sua experiência como pai e filósofo, Joel Pinheiro propôs uma reflexão sobre como a tecnologia afeta a relação entre pais e filhos. Embora sua palestra não abordasse a crise climática, suas reflexões sobre a superexposição à informação e os impactos da tecnologia na saúde mental infantil evidenciaram um fenômeno mais amplo. O ambiente digital, com seu fluxo incessante de estímulos e notícias, intensifica ansiedades e influencia no desenvolvimento das novas gerações.

Com a experiência de pai e a visão crítica da filosofia, ele analisou os desafios da exposição digital na infância. Em vez de apresentar respostas simplistas, incentivou pais e educadores a refletirem sobre o uso equilibrado da tecnologia, destacando a importância do diálogo, da confiança e do exemplo. Longe de negar os benefícios das novas tecnologias, defendeu que a maneira como são utilizadas é o que define seu impacto. “Como eu consultei facilmente as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria? Através da internet. Se fosse há 40 anos, talvez precisasse visitar uma biblioteca”, exemplificou, reforçando que o acesso à informação nunca foi tão democrático, mas que isso exige maior discernimento e responsabilidade.

Tecnologia, ansiedade e o papel dos pais

Pinheiro explorou um dos dilemas da era digital: a tecnologia, antes vista como ferramenta de conexão e acesso ao conhecimento, tornou-se também fonte de distrações, ansiedade e dependência. Ele destacou o conflito entre o fascínio das telas e a necessidade de experiências que promovam um desenvolvimento infantil saudável. O excesso de informação, potencializado pelas redes sociais, contribui para um estado de alerta constante, manifestando-se em insônia, irritabilidade e dificuldade de concentração. Para ele, a sobrecarga de estímulos muitas vezes aprisiona as crianças e adolescentes em um ciclo de inquietação.

Entre os desafios enfrentados pelas famílias, a questão do tempo de tela ocupou um espaço central. Pinheiro reconheceu as dificuldades em limitar o uso de dispositivos e o esforço necessário para estimular atividades alternativas.

O acompanhamento parental é essencial para criar um ambiente digital saudável. Ele abordou a importância do diálogo como uma ferramenta para lidar com as inquietações da era digital. Construir uma relação de confiança permite que as crianças compartilhem suas vivências e busquem orientação quando necessário. Mais do que impor regras, os adultos devem oferecer um exemplo positivo, demonstrando na prática um uso equilibrado da tecnologia. Estabelecer limites, restringir o acesso a celulares em determinados momentos e incentivar o tempo livre longe das telas são estratégias fundamentais. Mas é preciso encarar essa questão para além das restrições: é fundamental estimular a curiosidade e o pensamento crítico desde cedo, demonstrando interesse pelos gostos das crianças e orientando-as na navegação pelo ambiente digital.

O papel dos influenciadores digitais na formação infantil também foi abordado. Pinheiro reconheceu o impacto dessa nova forma de consumo de conteúdo, especialmente entre o público jovem, e comentou sobre a importância de os pais acompanharem o que seus filhos assistem. Ele também refletiu sobre a influência de criadores de conteúdo voltados ao público infantil e os impactos desse consumo. “Hoje, qualquer pessoa pode produzir conteúdo. Um especialista e um leigo podem estar no mesmo nível de visibilidade. A autoridade não vem mais só do título, mas da maneira como se comunica, como argumenta, do que é capaz de entregar.”, refletiu, chamando a atenção para os desafios éticos que surgem com a disseminação de fake news e desinformação.

Passado, presente e futuro da tecnologia

Em um dos momentos mais provocativos da palestra, Pinheiro traçou um paralelo entre os receios atuais sobre as telas e antigas resistências a novas tecnologias. Ele relembrou que Sócrates, na Grécia Antiga, questionava o impacto da escrita sobre a memória e o pensamento crítico, um argumento registrado por Platão no diálogo Fedro. Segundo Sócrates, a escrita poderia enfraquecer o conhecimento verdadeiro, pois as pessoas passariam a confiar nos textos em vez de exercitar a mente. “De que adianta um texto registrar tudo? O conhecimento real precisa estar na nossa cabeça”, parafraseou Pinheiro, ressaltando como a desconfiança em relação às inovações tecnológicas é um fenômeno recorrente na história.

O filósofo mencionou a invenção da imprensa como um marco de resistência ao avanço tecnológico. Quando os livros se tornaram acessíveis, alguns temiam que isso incentivasse a superficialidade intelectual e afastasse os jovens do aprendizado mais profundo. Essas preocupações, segundo Pinheiro, refletem padrões históricos: toda inovação gera receios antes de ser assimilada pela sociedade. Assim como a escrita e a imprensa revolucionaram a maneira como o conhecimento é transmitido, o ambiente digital traz transformações inevitáveis.

Encerrando sua participação, Pinheiro transmitiu uma mensagem de otimismo. Para ele, as redes sociais são uma realidade irreversível, mas seu impacto depende de como são utilizadas. Com limites e consciência, podem ser ferramentas de aprendizado e conexão, não de ansiedade e isolamento. Ele destacou que o acesso à informação, quando bem conduzido, pode ajudar a reduzir desigualdades sociais e permitir que mais crianças tenham oportunidades de aprendizado.

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