Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

A dor silenciosa de nunca se tornar avô

“Filhos, filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-los?

 

Se não os temos

Que de consulta

Quanto silêncio

Como os queremos!”

 

Assim inicia o famoso Poema Enjoadinho do poeta Vinicius de Moraes falando das delicias e horrores de ter filhos. Hoje em dia com taxas de fertilidade cada vez mais baixas, os jovens vêm optando por não terem filhos ou adiar ao máximo essa opção.

O Brasil registrou 2,63 milhões de bebês nascidos em 2023, e desde o ano 2000, a taxa de fecundidade que era de 2,32 caiu para 1,57.

O título utilizado nesse artigo é o mesmo de um publicado no New York Times em novembro de 2024, que pode ser acessado abaixo e que fala do luto das mulheres nos Estados Unidos, particularmente em NY, por não terem netos.

Nos EUA um estudo do think tank – centro de pesquisa e debates – Pew Research Center, demonstrou em 2021 que cerca de 44% das pessoas que não foram pais com 18 a 49 anos de idade acreditam que não serão mais, esse mesmo número era de 37% em 2018.

Mais da metade dos pesquisados indicou que sua principal razão é “não quero ter filhos” e não fatores mais circunstanciais, como questões médicas ou não querer criar um filho sem ter um parceiro. Na Inglaterra e no País de Gales, um estudo do instituto YouGov de 2020 indicou que mais da metade dos britânicos com 35 a 44 anos de idade que não tiveram filhos nunca planejaram ser pais.

Especialistas afirmam que o aumento dos influenciadores e comunidades online enaltecendo as pessoas que não querem ter filhos é uma indicação de que as normas sociais estão mudando.

Um número crescente de pessoas da Geração X e dos baby boomers estão enfrentando a percepção, às vezes dolorosa, de que nunca serão avós. Pouco mais da metade dos adultos com 50 anos ou mais tinham pelo menos um neto em 2021, abaixo dos quase 60% que tinham em 2014.

Em meio à queda nas taxas de natalidade nos Estados Unidos, cresce o número de adultos que já têm pelo menos um neto. Ao mesmo tempo, muitos cidadãos norte-americanos afirmam que é improvável que venham a ter filhos — e, embora existam diversos motivos para essa decisão, o principal deles é simples: eles simplesmente não querem.

Enquanto isso, pais idosos podem sentir um profundo sentimento de saudade e perda caso seus filhos optem por não lhes darem netos, mesmo que entendam a nível racional que os seus filhos não lhes “devem” um legado familiar.

Segundo Bidwell Smith, autora de Conscious Grieving, a sociedade tende a ver os netos como uma recompensa natural pelo envelhecimento, o que não ajuda em nada. Essa é uma dor que nossa cultura costuma não reconhecer, e, por isso, muitas pessoas não sabem como falar sobre ela.

Outro fator que pode fazer com que aqueles que não têm filhos ou netos se sintam excluídos é a formação de grupo de colegas que estão profundamente envolvidos na tarefa de ser avô, levando os filhos ou netos para as aulas de futebol e recitais de balé, ou gastando a renda disponível em passagens aéreas para visitar a família. Esse acaba sendo outro problema criado pelas redes sociais.

Lendo várias fontes sobre o assunto, parece que as razões para ter ou não ter, tanto nos Estados Unidos, na Europa ou aqui no Brasil são semelhantes, pelo que apontam as pesquisas e podem ser resumidas em:

  1. Fatores que influenciam a decisão
    1. Igualdade de gênero: a participação das mulheres no mercado de trabalho e a divisão do trabalho doméstico.
    2. Desafio econômico: o custo de criar um filho e os pais querem dar tudo que puderem.
    3. Rede de apoio: a existência de uma rede de apoio familiar, de amigos ou vizinhos. Famílias atuais são pequenas.
    4. Biologia: a fertilidade feminina diminui com a idade, sendo ideal engravidar entre os 20 e os 35 anos. Congelar óvulos?
    5. Sociedade: a pressão social para ter filhos.
    6. Individualismo: a identidade, a individualidade e a satisfação com a vida, violência e mudanças climáticas.
  2. Benefícios de não ter filhos: maior liberdade e controle sobre a vida, maior estabilidade financeira, menos estresse e maior satisfação com o casamento.
  3. Benefícios de ter filhos: deixar um legado, expressar o amor, benção e dádiva de Deus.

Na medida do possível, os especialistas incentivam os não avós a explorar outras facetas de si mesmos. Qualquer pessoa que sinta falta de passar tempo com crianças pequenas pode encontrar maneiras de se envolver. Trabalhos voluntários com crianças em creches, hospitais, escolas podem ser alternativas.

Também pode ajudar se perguntar: se o próximo capítulo da sua vida não incluir netos, que novas atividades ou aventuras seriam possíveis? Pense nisso.

Fonte:

https://www.nytimes.com/2024/11/11/well/family/grandparent-grandchild-childfree.html

https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/86964/

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g335ge6xno

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