Segundo dados da pesquisa mais ampla dos Estados Unidos sobre saúde e uso de drogas, o percentual de adolescentes que relataram ao menos um episódio depressivo grave saltou de menos de 15% em 2005 para quase 30% em 2020. No Brasil, em 2023, os registros de ansiedade entre adolescentes superaram os de adultos pela primeira vez na história.
Quando o cirurgião geral dos Estados Unidos (responsável pela saúde do governo americano), Dr. Vivek Murthy, anunciou em julho que estava planejando pressionar por um rótulo de alerta de saúde mental nas plataformas de mídia social, ele foi recebido com aplausos de muitos pais e professores, que descreveram uma luta longa e solitária para afastar as crianças de um hábito que os estava prejudicando.
Mas, em contrapartida, ele obteve uma reação mais fria de alguns cientistas que estudam a relação entre mídias sociais e saúde mental. Para eles, a afirmação que as redes sociais estão associadas a danos significativos para a saúde mental dos adolescentes amplia e simplifica demasiado as provas científicas.
Durante muitos anos, os investigadores tentaram determinar se a quantidade de tempo que uma criança passava nas redes sociais contribuía para problemas de saúde mental, e “os resultados têm sido realmente mistos e sem consenso de sua importância”. O que parece importar mais é o que esses jovens fazem quando estão online – foi demonstrado que conteúdo sobre automutilação, por exemplo, aumenta o comportamento de automutilação.
Dr. Murthy citou um estudo de 2019, que descobriu que adolescentes que passavam mais de três horas por dia nas redes sociais enfrentavam o dobro do risco de sintomas de ansiedade e depressão e disse que as crianças que crescem agora “não podem se dar ao luxo de esperar anos até sabermos toda a extensão do impacto das redes sociais”. Quando questionado sobre provas dos efeitos nocivos das redes sociais, ele argumenta, em vez disso, que “não temos provas suficientes para concluir que as redes sociais são suficientemente seguras”.
Mesmo antes do anúncio de Murthy, vários investigadores desafiavam a ligação amplamente aceita entre as redes sociais e a crise de saúde mental. Esse debate intensificou-se após a publicação, em março, de “The Anxious Generation”, de Jonathan Haidt, professor da escola de negócios da Universidade de Nova Iorque – “A Geração Ansiosa”, que sai em julho no Brasil. Ele argumentou que a disseminação das redes sociais tinha levado a “uma epidemia de doenças mentais”.
O livro, que passou 11 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times, foi criticado na revista Nature por Candice L. Odgers, professora de ciências psicológicas em informática da Universidade da Califórnia. Odgers foi abordada por tantos jornalistas que distribui um resumo de seis páginas da literatura científica sobre o assunto, catalogou meta-análises e revisões em grande escala que descobriram que o uso das redes sociais tem pequenos efeitos na saúde, entre eles um relatório de 2023 elaborado por um comitê de especialistas convocado pelas Academias Nacionais de Ciências.
Twenge, autor de “Generations: The Real Differences Between Gen Z, Millennials, Gen X, Boomers, and Silents – and What They Mean for America’s Future”, disse que a desconexão pode se resumir à forma como os psicólogos pesquisadores são treinados para analisar estatísticas e correlações, muitas vezes descartando-as como pequenas.
Os seus colegas da saúde pública podem olhar para os mesmos dados e ver um risco inaceitável que requer ação. “Para eles, não agir pode ser uma escolha mais perigosa”, disse ela. “Qual é o risco de adolescentes e crianças passarem menos tempo nas redes sociais?” completou. “Se estivermos errados, as consequências de agirmos serão minúsculas. Se estivermos certos, as consequências de não fazer nada serão enormes.”
A mídia social desempenha um papel importante na vida de muitos pré-adolescentes e adolescentes. Em uma pesquisa feita nos Estados Unidos, 35% dos jovens de 13 a 17 anos relataram usar sites de mídia social como YouTube, TikTok, Instagram, Snapchat e Facebook “quase constantemente” em 2022. Embora muitas plataformas estabeleçam uma idade mínima de 13 anos, 38% das crianças de 8 a 12 anos disseram ter usado as redes sociais. Não conheço números do Brasil, mas acredito que não deva divergir muito desses.
Todo esse uso da mídia pode influenciar os jovens de diversas maneiras. E, com o aumento relatado da depressão e da ansiedade entre os adolescentes, você pode se perguntar como as mídias sociais podem impactar a saúde mental do seu filho(a). A pesquisa sugere que depende de como eles a usam. Compreender as possíveis conexões entre as mídias sociais e a saúde mental pode ajudá-lo(a) a orientar seus filhos em direção a hábitos saudáveis nas redes sociais.
Fontes:
https://www.nytimes.com/2024/06/19/health/social-media-kids-mental-health.html
Saiba mais:
https://institutopensi.org.br/ferias-que-tal-um-pouco-de-natureza-para-seus-filhos-em-vez-de-telas/
https://institutopensi.org.br/as-midias-sociais-e-o-impacto-na-saude-mental-da-geracao-z/