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No sábado, dia 18 de abril, participei, com o Dr. José Luiz Egydio Setubal e a Dra. Gláucia Faria de Sá, de uma mesa-redonda sobre a relação das crianças com as telas.
O que segue é um sumário de minha apresentação. Analisei o problema, que tanto preocupa pais e educadores, em cinco dimensões: saudável, inevitável, agradável, substituível e disponível, fazendo comentários a cada uma delas. (1) A relação das crianças com a tela é saudável, isto é, faz bem, é benéfica ou proveitosa para sua saúde? Minha resposta é sim e não, dependendo do quanto, do como e do quê a criança faz através delas. (2) A relação das crianças com as telas é inevitável? Sim, se considerarmos que elas são, cada vez mais, instrumentos de trabalho e lazer para os adultos e de lazer (e estudo) para as crianças. Nos preocupamos com seu uso exagerado pela criança, mas não observamos que o mesmo pode valer para muitos de nós. A justificativa de que as usamos para trabalhar não é suficiente se calculamos, igualmente, as horas que passamos nas redes sociais, nos brinquedos eletrônicos, nas trocas de mensagens. As crianças observam seus pais fazendo esses usos e os imitam, e julgam que isso é bom e interessante. (3) A relação das crianças com as telas é substituível, ou seja, dispensa outras experiências fundamentais aos seus processos de aprendizagem e desenvolvimento? Não. Elas são para ver, ouvir e interagir. Ver e ouvir são órgãos sensoriais à distância. Interagir não pode ser apenas pela via indireta. A criança precisa cultivar, igualmente, os órgãos sensoriais que implicam proximidade física: tocar, cheirar, sentir o gosto. (4) A relação das crianças com as telas é agradável? Sim e não. Muitas vezes, elas continuam jogando e jogando, quando já estão cansadas, com fome. Há um aspecto aditivo, tóxico, que precisa ser observado e evitado. (5) O que dizer do fato de as telas estarem sempre disponíveis para seu uso? Pode ser confortável saber que, por si mesmas e dependendo das condições, as máquinas (tablets, computadores, telefones) estão sempre disponíveis para serem usadas. Ou seja, telas, programas de jogos podem operar 24 horas por dia, 7 dias por semana[1]. E quanto à nós, às crianças e aos jovens? Isso é bom para a vida, saúde e bem-estar nosso e deles?
Concluímos a fala ponderando que a relação da criança com as telas supõe, como em tudo mais, o papel responsável, vigilante, amoroso e sensível de seus pais ou responsáveis. São eles que saberão, em nome da criança e junto com ela, avaliar o quanto a experiência com telas e jogos está sendo positiva ou negativa ao seu desenvolvimento. Trata-se de mais uma oportunidade de aprender e ensinar a estabelecer e respeitar limites, de ganhar autonomia e autossuficiência nos atuais tempos tecnológicos.
[1] Sugerimos sobre isso a leitura do livro de Jonathan Crary, 24/7 – O capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014
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Atualizado em 31 de julho de 2024