Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Nana Nenê… Que a Cuca vem pegar!

Nana Nenê... Que a Cuca vem pegar!

Nana Nenê... Que a Cuca vem pegar!

Problemas do sono dos filhos e métodos para ensiná-los a dormir são assuntos discutidos em grupos de mães. A principal polêmica é: “o meu filho vai ter que chorar?!”

O livro Bom Sono (Ed. Celebris) é um dos mais famosos sobre o tema, do médico Richard Ferber, professor de neurologia na Harvard Medical School e diretor do Centro Pediátrico de Transtornos do Sono do Children’s Hospital, de Boston. Ele é um dos pioneiros na chamada técnica de choro controlado. O livro de Ferber propõe que o bebê seja deixado acordado no berço e, assim que começa o choro, é preciso esperar alguns minutos antes de entrar no quarto para tranquilizá-lo (sem pegar no colo) e sair novamente, aumentando gradativamente o tempo de espera.

No Brasil, o livro mais conhecido nesta linha é o “Nana Nenê” (Ed. Martins Fontes), do médico espanhol Eduard Estivill, diretor da Unidade de Alterações do Sono do Instituto Dexeus, de Barcelona. O objetivo é ensinar o bebê/criança a dormir em seu berço, sem ajuda e a noite toda.

O choro da criança, ao ser colocada acordada no berço para, neste local, iniciar o sono, não deveria ser considerado como parte dos métodos, mas consequência do problema. Como assim? Simples: o bebê (acima de seis meses) ou criança que sabe dormir sem ajuda, deita (no máximo resmunga, choraminga um pouco – isto vai até a adolescência), se vira até achar a sua posição, pega tudo o que precisa para se auto confortar (entradas de sono) e dorme a noite toda. Aquele que não aprendeu a dormir sem auxílio vai chorar pedindo por aquilo que o faz adormecer em um ciclo vicioso, madrugada adentro.

Crianças e bebês precisam de noites de sono restauradoras e constantes para que se desenvolvam bem, independentemente do hábito para adormecer. Além disso, também precisam de uma mãe, pai e até mesmo babá descansados e disponíveis para cuidá-los no dia-a-dia.

Passear de carro na madrugada ou de carrinho no condomínio, segurar os cílios, cotovelo, lobo da orelha, cabelo da mãe ou do pai, peito, mamadeira, são alguns exemplos de hábitos até mesmo bizarros, que os pais lançam mão para fazerem os filhos adormecerem. Se somente fosse necessária uma destas atitudes às 20h para que seus filhos dormissem a noite toda, mesmo que trabalhosa, não seria um problema. No entanto, se a criança necessita disso toda vez que desperta (diga-se de passagem, também aos berros), ela vai recorrer a estes hábitos para voltar a dormir, não importa a hora. O problema não é as crianças acordarem no meio da noite (todos nós temos breves despertares), mas o fato de não conseguirem retomar o sono sem ajuda.

Sendo assim, estes bebês e crianças precisam de um tempo para se apropriarem de novos hábitos para que, no meio da noite, tudo que precisam para retomar o sono esteja lá com eles (chupeta, naninha ou uma posição preferida). Um menino de pouco mais de um ano sempre adormecia segurando a mão da mãe, esta situação se repetia toda vez que ele despertava chorando, no meio da noite. Isto ocorria várias vezes e, tanto a criança quanto a mãe, estavam exaustos. Após o processo de reeducação de sono, ele não abriu mão da mão, mas foi possível trocar a da mãe pelo seu boneco de pelúcia. Pela câmera da babá eletrônica a mãe via que, na madrugada, ele até acordava, mas logo pegava na mão do boneco quando esta escapava e retomava o sono sem precisar de ajuda. Um despertar rápido, sem choro e sem prejudicar o sono. Como o boneco (novo hábito) permanecia a noite toda com ele, o sono passou a ser contínuo. Claro que para trocar uma mão pela outra levou um tempo de choro.

Se o bebê/criança dormiu no colo, no carro ou no carrinho e acordou aos prantos, é bem provável que, para ele, o berço está sendo o lugar onde se acorda e não o local aonde se dorme. Na pontinha dos pés, os pais saíram do quarto assim que o filho pegou no sono. Deve ser assustador quando a criança acorda sem saber sequer que tinha ido dormir, pois foi passear de carro e por acaso adormeceu. Fazendo uma analogia no mundo dos adultos, podemos comparar à situação de alguém dormir vendo um filme na sala e acordar em seu quarto. Estranho, né? É bem diferente de quando se fez toda a sua rotina, entrou em sua cama e se ajeitou até adormecer. Na primeira situação, o sono o pegou de surpresa e na segunda este foi ao seu encontro. Logo, o conceito do método é, principalmente, que os pais sejam honestos com os filhos: se dorme no berço, mamãe e papai não ficam de noite no quarto e você terá o seu jeito próprio de adormecer.

O tema é polêmico, repleto de controvérsias e todas as opiniões devem ser respeitadas. No entanto, há um consenso geral: DORMIR É FUNDAMENTAL.

Se a preocupação é o choro do filho, para mudar o caos na madrugada fica a dica: o problema não é o Nana Nenê, mas sim… A Cuca vem pegar/ mamãe foi para a roça e papai foi trabalhar. Afinal, os bebês/crianças dormiram no colo e acordaram sozinhos no berço (com a Cuca?) e sem mamãe ou papai por perto (foram para a roça? ou trabalhar?). Assustador, não?

Leia também: Se dormir bem, que mal que tem?

Por Déborah Moss, psicóloga, formada pela PUC- SP, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento – USP, Especialista em Neuropsicologia – CEPSIC-HC, mãe de três filhos, Ariel, Patrick e Alicia.

Atualizado em 7 de agosto de 2024

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