Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

O rei emburrado

Tenho vivido na Bicolândia.

Aquela terra onde a greve de sorrisos é fato.

Onde o mau humor é regra.

Lá, onde as bufadas são permitidas.

E os olhinhos virados solução.

Os sorrisos são reprimidos e as risadas ficam guardadas.

Em calabouços, de preferência.

Toda resposta é não.

Ou aaaaaaa…

Ou afffff.

Não tem dança.

Música alta incomoda.

Mãe pulando pela sala com peruca afrocircus é imediatamente tolhida.

Carinha fechada é lei.

Ignorar a genitora pode.

Afastar os beijos então… tá certo.

E o rei dessa terra é absoluto nas suas ranhetices.

É firme.

Implacável.

Cheio de regras.

Cheio de leis.

Cheio de nãos.

Ele não quer saber.

Ele não abre mão.

Ele nem passou a ser o príncipe.

Pulou a fase.

É quase um tirano, quando quer.

E quase sempre exerce sua tirania.

Mas o rei não é bobo.

Assim, acredito.

Ele não reconhece, mas tira seus momentos de folga.

Até aplaude a vida fora da Bicolândia, mas jura que não.

Jura que é feliz (ou não) dentro do mundinho de nuvens cinzas.

Mas quando não tem gente vendo, quando a mãe está distraída, ele se fantasia de menino de quase sete anos e corre pelo quintal.

Ele cantarola músicas alegres, sorri pras formigas do chão.

E até consegue viver feliz para sempre.

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