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Tenho vivido na Bicolândia.
Aquela terra onde a greve de sorrisos é fato.
Onde o mau humor é regra.
Lá, onde as bufadas são permitidas.
E os olhinhos virados solução.
Os sorrisos são reprimidos e as risadas ficam guardadas.
Em calabouços, de preferência.
Toda resposta é não.
Ou aaaaaaa…
Ou afffff.
Não tem dança.
Música alta incomoda.
Mãe pulando pela sala com peruca afrocircus é imediatamente tolhida.
Carinha fechada é lei.
Ignorar a genitora pode.
Afastar os beijos então… tá certo.
E o rei dessa terra é absoluto nas suas ranhetices.
É firme.
Implacável.
Cheio de regras.
Cheio de leis.
Cheio de nãos.
Ele não quer saber.
Ele não abre mão.
Ele nem passou a ser o príncipe.
Pulou a fase.
É quase um tirano, quando quer.
E quase sempre exerce sua tirania.
Mas o rei não é bobo.
Assim, acredito.
Ele não reconhece, mas tira seus momentos de folga.
Até aplaude a vida fora da Bicolândia, mas jura que não.
Jura que é feliz (ou não) dentro do mundinho de nuvens cinzas.
Mas quando não tem gente vendo, quando a mãe está distraída, ele se fantasia de menino de quase sete anos e corre pelo quintal.
Ele cantarola músicas alegres, sorri pras formigas do chão.
E até consegue viver feliz para sempre.