Lendo o jornal alguns dias atrás, me deparei com um artigo intitulado “Parentalidade gentil: o que é e quais os benefícios para as crianças”, que apresentava a tal da criação neurocompatível. Como nunca havia ouvido falar nisso, li o artigo e fui pesquisar sobre o assunto.
A tal corrente educativa está baseada em sete fundamentos da criação neurocompatível:
- Relacionamento com as crianças baseado na dignidade humana;
- Ausência de práticas punitivas e de submissão;
- Confiança nos processos de desenvolvimento maturacional e biológico da infância, sem padrões sociais opressores;
- Conhecimento de que regras e limites sociais são aprendidos na medida que estão inseridos na cultura a que pertencem e não impostos pelos educadores;
- Educação centrada nas necessidades da criança, que é o ser mais vulnerável em todas as comunidades humanas; educação em rede ao invés de hierárquica (todos são iguais e importantes, tanto adultos como crianças, sem presença de poder);
- Acompanhamento do ritmo natural nos marcos de desenvolvimento por pais e profissionais;
- Conquista da marcha, desfralde, desmame, aprendizagem de leitura e escrita etc.
Nada a comentar sobre esses princípios, pois parecem baseados nas boas práticas da educação e da psicologia infantil. O problema me parece quando vão para a prática desses fundamentos e a interpretação mais do que livre de algumas condições tidas como naturais.
Mesmo antes da pandemia, já se sabia que as ameaças mais fundamentais à saúde têm suas raízes nas adversidades vividas pelas crianças sem proteção suficiente de um cuidador. O comportamento, o desenvolvimento, os relacionamentos e a saúde física podem ser afetados por toda a vida devido aos impactos de experiências adversas no desenvolvimento e na neurofisiologia do cérebro, na função imunológica e na expressão gênica. Portanto, uma criação gentil com amor e carinho é essencial na formação dos seres humanos como indivíduos saudáveis.
Lendo o artigo ou vendo o portal, podemos ver orientações como não punir com violência física, acolher os sentimentos e respeitar a criança. Tudo muito lógico e coerente, mas não se fala em limites. E todo educador vai falar em limites, pois são importantes para as crianças.
Tem que respeitar o ritmo, a personalidade da criança, mas tudo tem limite. Tem que haver limite para amamentação, tem que haver limite para uso de fralda, para birra, dormir na cama dos pais e para as outras vontades. Evidente que não estamos falando em violência nem em desrespeito, mas sim na colocação de limites.
Explicação para criança funciona, mas tem que ter noção do grau de compreensão que ela possui. Punição é necessária, mas existem várias formas de fazer isso sem usar a violência. Respeito é essencial e deve vir dos dois lados, a criança também precisa aprender a respeitar os amiguinhos, os pais e outros adultos. O problema dos modismos é que, muitas vezes, não são baseados na ciência ou em fatos testados ou observados com suporte teórico adequado. Nesse mundo pós-moderno, onde qualquer pessoa pode ser “influencer”, temos que tomar muito cuidado com as informações que recebemos, principalmente as que se referem à saúde.
Procure sempre se informar sobre quem está dando a informação e qual é a sua formação. Procure ver se existem fundamentos científicos e utilize sites relacionados a instituições de ensino e pesquisa confiáveis.
A Fundação José Luiz Egydio Setúbal tem como missão fazer divulgação de material de educação para profissionais de saúde e para o público leigo sobre saúde da criança e do adolescente, contando com profissionais da mais alta qualificação e usando seus canais nas redes sociais, cursos e livros.
Fontes:
- https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,parentalidade-gentil-o-que-e-e-quais-os-beneficios-para-as-criancas,70004071903
- https://neurocompativel.com.br/
Saiba mais:
- Palmada para disciplinar? Nunca
- Dez coisas que tornam as crianças mais felizes
- Castigo para pensar. Mas não seria melhor pensar para castigar?
Atualizado em 19 de março de 2025