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Dos contos infantis e as crianças
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Dos contos infantis e as crianças

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13/03/2015
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As histórias infantis são de enorme importância no desenvolvimento das crianças. Elas permitem fantasiar e simbolizar, dando asas à imaginação. Ajudam a solucionar diversos dilemas e estão repletas de importantes simbolismos para direcionar algumas questões que precisavam ser elaboradas.

Os contos, fantasiosos, trazem solução e reconhecimento para os pequenos, que não dispõem de tantos recursos e conhecimentos para lidar com a complexidade de seus sentimentos (muitos nem ao menos percebidos) e de sua vivência no dia a dia. É através da imaginação, de mecanismos de defesa fantasiosos que a criança encontra suas possibilidades. São saídas heróicas, finais felizes, que ajudam os pequenos a dar sentido ao turbilhão de sentimentos que passam no processo de crescimento.

A criança necessita que lhe sejam dadas sugestões simbólicas que a auxiliem a lidar com suas questões no caminho para a maturidade, e nada melhor do que o velho e bom conto de fadas, que traz em seu escopo características humanas de forma mais ampla, saindo do clichê de que tudo na vida é bonito. Hoje em dia, na época do politicamente correto, retiramos aspectos negativos dos contos, até das músicas (não se canta mais: “atirei o pau no gato”, mas: “não atire o pau no gato”) não expondo as crianças a uma série de aspectos inerentes ao homem, que são importantes no seu processo de desenvolvimento emocional.

Muitas histórias de fadas e afins começam com a morte dos pais, com a separação deles… uma situação angustiante, sem dúvida, mas que ocorre na vida real. Todos têm que lidar com essa separação para viver uma vida saudável psiquicamente. A escola, a creche, são bons exemplos de saída do ambiente protegido e companhia dos pais. Os contos de fada, com enredos mais simples, colocam dilemas existenciais de forma mais próxima dos pequenos, e desta forma os ajuda a conduzir suas próprias situações. Até mesmo os adultos se encantam com isso! O que são os romances que não contos de fada sem a mágica ou fantasia explícita para nós? E todos têm final feliz!

A dualidade bem X mal é sempre presente. Assim como em nossas vidas, e indo além, em todos nós. E a criança se identifica com isso. Ela torce, ela vivencia, sonha, veste-se como seus heróis, suas princesas. E não é o fato da moralidade vencer no final que atrai as crianças, mas o fato de ela conseguir desta forma perceber que dentro dela há os dois, e que ela pode, sim, lidar com isso de forma vencedora da recompensa que chega ao final. Há diversos personagens que ajudam a lidar com isso. Eles são importantes aspectos como a ambiguidade da relação mãe-criança, onde há a mãe boa, a mãe má. Há o pai ideal, o terrível, o perigo, que deve ser combatido para que a harmonia volte… A rivalidade e o ciúme também acompanham muitas delas. Assim como o sentimento de rejeição, como na história do Patinho Feio, por exemplo, que ao final é um lindo cisne, de quem todos querem ser amigos.

Peguemos os personagens. O que é a madrasta má que não aquela mãe de quem a criança muitas vezes tem raiva, seja porque não lhe satisfez um desejo, ou porque a largou para ficar com o irmão, ou o trabalho, ou mesmo que a reprimiu, mas que a criança precise que seja “disfarçada” em uma “não-mãe”, que para ela ainda é a figura-ideal. As fadas, que muitas vezes têm o papel de madrinha, são as figuras que aparecem do nada e que protegem as crianças do mal, ou de sua madrasta mesmo, como no caso da Cinderela. Elas dão bons conselhos, fazem mágicas poderosas, trazem boas notícias. São aquelas que mostram que há solução para o problema! E que mostram que nem tudo está perdido! Apaziguam. As figuras maléficas em forma de bruxa, dragão, gigante, são acima de tudo o maior representante da luta humana das forças do bem contra as forças do mal. E que eles sejam derrotados no final! Mas ressalte-se, nunca sem luta, nunca sem um desafio, nunca de forma fácil sem esforço.

Afinal, o herói, para que seja recompensado no final feliz, precisa ter passado por árduas provas. É o caminho da sua maturidade. Crescer não é de repente.

Leia também: Viaje pelas páginas dos livros de faz de conta

Por Letícia Rangel, psicóloga

Atualizado em 29 de julho de 2024

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