Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Existe dor do crescimento?

Existe dor de crescimento?

Existe dor de crescimento?

“Jorginho é meu filho caçula e tem 4 anos de idade. Há uns 2 meses, ele participou da festa de aniversário de um coleguinha da escola, brincou bastante e depois o trouxemos para casa.

Ele chegou todo eufórico contando suas aventuras, tomou banho, jantou, ficou assistindo um pouco de televisão e mais tarde foi dormir. Entretanto, no meio noite, acordei meio assustada, pois ele estava choroso. Fui até seu quarto e ele reclamou, sonolento, que a perna estava doendo, às vezes, até dava umas cutucadas.

Pensei que ele tivesse se machucado nas brincadeiras do dia anterior. Olhei com detalhe para as pernas. Não vi nada. Até procurei sinais de batida e… Nada! Massageei um pouco e ele nem sabia dizer direito aonde era a dor. Logo, disse que melhorou e adormeceu. No dia seguinte, ele acordou bem, andou normalmente, mal se lembrava do que tinha acontecido e foi para a escola.

Conversei com meu marido. Concluímos que, provavelmente, era um certo “dengo” de ciúmes da irmã mais velha para chamar nossa atenção.

Os dias se passaram e, praticamente 3 semanas depois, as queixas se repetiram e sumiram espontaneamente. Ele não tinha febre e nunca apareceu nenhum sinal local. No outro dia, tudo voltava à normalidade. Pensei que ele estivesse inventando para chamar atenção. Conversei com umas amigas que relataram histórias semelhantes com seus filhos e que depois tudo também passava. Elas comentaram que isso se chamava a famosa “Dor do Crescimento”. Inclusive, a avó paterna disse que meu marido se queixava do mesmo jeito quando criança. Pensei comigo: será que crescimento dói?

O impasse se repetiu mais uma vez e resolvi perguntar ao pediatra sobre o assunto e ele me tranquilizou falando que, pelas características que eu descrevia, provavelmente, seria a conhecida “Dor do Crescimento” e pediu para trazer o menino para dar uma examinada”.

Este é o relato mais comum das mães quando descrevem este tipo de queixa, que atinge de 20% a 40% das crianças de todo o mundo.

Afinal, o que é isso?

Há muitos anos, em meados do século 19, Duchamp (1823) descreveu esta estranha queixa que acontecia nas crianças, na fase rápida de crescimento. Com história pouco definida, essas dores são caracterizadas com pontada, pressão ou incômodo latejante que atinge os membros inferiores das crianças na faixa etária entre 3 a 6 anos. Também podem apresentar novos picos entre os 8 e 12 anos. Sua localização mais frequente é na região anterior da perna, mas pode acontecer também na coxa e na região posterior do joelho.

Como causas, foram descritas várias etiologias: circulatória, menor resistência óssea, excesso de atividades, frouxidão ligamentar, imunidade baixa etc. Apesar de todas as pesquisas, nenhuma das causas foi devidamente provada. Além disso, os exames laboratoriais são normais.

Entretanto, o mais importante de tudo é que a chamada “Dor de Crescimento” deve ser um Diagnóstico de Exclusão, ou seja, temos certeza que isso é um fenômeno passageiro e não o prenúncio de algo mais importante. Para isso, devemos lembrar que são sinais de alerta que indicam outros fatores se a dor for persistente, a palpação se torna mais acentuada, como também se ocorre inchaço ou vermelhidão, febre, mancar no dia seguinte, fraqueza nas pernas ou associação com algum atraso do desenvolvimento. Se algum destes sinais estiver presente, isso não é dor de crescimento. A criança deve ser levada ao pediatra e, se necessário, poderá ser feita uma consulta com ortopedista pediátrico para descartar qualquer outro problema.

Leia também: Ortopedista pediátrico desvenda mistérios da dor do crescimento

Por Dr. José Antonio Pinto, Médico Ortopedista Pediátrico e Prof. Adjunto da Disciplina de Ortopedia Pediátrica – UNIFESP.

Atualizado em 21 de maio de 2024

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