Instituto PENSI – Estudos Clínicos em Pediatria e Saúde Infantil

Lugar de criança é na escola

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No final de novembro, um grupo de pediatras ligados às universidades publicou um documento apoiando a abertura das escolas para as aulas presenciais. Os autores não são loucos ou inconsequentes. São professores. E apresentaram artigos científicos que mostram que o retorno às atividades escolares presenciais é seguro para crianças e adolescentes, desde que medidas de proteção individual sejam implementadas.

Enquanto grande parte do mundo mantém as escolas abertas, o Brasil pode se tornar a exceção. Em vários países da Europa, foi decretado um novo lockdown entre novembro e dezembro por causa de mais uma escalada no número de infectados. Bares e academias de ginástica foram fechados. Mas os colégios se mantiveram abertos e os alunos continuam a ter aulas presenciais. Na Ásia, a maioria dos países reabriu as escolas há mais de seis meses e não voltou a fechá-las. Nos Estados Unidos, que registraram mais de 2.700 mortes em 3 de dezembro, recorde em um único dia, em apenas nove, de 50 estados, os governos locais determinaram algum grau de fechamento das escolas, ficando aos distritos a decisão final.

Apenas o Brasil e alguns países da América Latina e da África ainda não reabriram ou estão revertendo a abertura parcial das escolas. Segundo a OCDE, organização de países desenvolvidos, até o início de setembro, o Brasil estava entre os países com mais tempo sem aula. Naquele momento, apenas oito de 46 nações avaliadas ainda mantinham seus colégios fechados.
Estudos mostram que as crianças têm casos bem mais leves de Covid-19 e transmitem menos a doença. Quanto mais velha a criança, maior a probabilidade de contaminar alguém. Por isso, pediatras questionam a decisão de retomar aulas presenciais para o ensino médio, em vez de privilegiar o fundamental. Não faz sentido bar ficar aberto e escola, não. Em março, quando os colégios foram fechados, não se sabia muito sobre a doença. Mas agora a ciência mostra que as crianças não são grandes disseminadoras do vírus.

As crianças e pacientes mais jovens muito raramente têm complicações graves da Covid-19. Estimativas de cientistas indicam que as mortes de crianças representam menos de 1% do total de óbitos causados pela doença. Enquanto crianças e adolescentes representam cerca de 25% da população mundial, as infecções registradas nessa faixa etária no mundo todo equivalem a cerca de 2% do total, segundo a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Mesmo com sintomas mais brandos na maior parte dos casos, um pequeno número de crianças desenvolve a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) após a infecção pelo novo coranavírus. Até outubro, o Ministério da Saúde havia registrado 375 casos da síndrome classificada como rara pelos especialistas. Nossa experiência no Sabará Hospital Infantil, com mais de 400 diagnósticos, é de evolução muito boa da doença, mesmo em casos graves, que necessitam de UTI.

Apesar de os riscos para as crianças serem baixos, isso só ocorre desde que sejam mantidos os protocolos de segurança (uso de máscara, distanciamento social, higiene das mãos e das superfícies etc.). Isso foi provado pela experiência da abertura das escolas na Europa.

Um estudo do Unicef (braço das Nações Unidas para direitos das crianças e dos adolescentes) publicado em novembro mostra que “com medidas básicas de segurança, os benefícios líquidos de manter as escolas abertas superam os custos de mantê-las fechadas”.

Os professores têm seus pontos também: clamam por maior segurança, dizem que não se pode comparar escolas do Brasil com as da Europa, pedem para esperar a vacina etc. Defendo que os professores sejam vacinados logo depois dos profissionais de saúde e os grupos de risco —o plano federal traz os docentes na quarta fase, com agentes de segurança.

Precisamos refletir o que queremos para o país e para nossas crianças enquanto sociedade. Já estamos no final do ano e daqui a pouco completaremos um ano sem aulas. As crianças mais pobres estão brincando juntas nas ruas, sem condições de acompanhar as aulas online pelos mais diversos motivos. Nosso Ministério da Educação e da Saúde não se posiciona nas diretrizes básicas para orientar os Estados e Munícipios a tomarem suas decisões, parecendo uma torcida política e não uma decisão em que está em jogo o futuro de nossas crianças – e, por que não dizer, do nosso país. Vamos pensar e priorizar a educação – com as medidas de prevenção e cuidados necessários, é claro.

Saiba mais:
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/12/maioria-dos-paises-mantem-escolas-abertas-mesmo-com-nova-alta-de-casos.shtml?origin=folha
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/11/mais-de-400-pediatras-assinam-carta-de-apoio-ao-retorno-das-aulas-presenciais.shtml

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