Nesta Semana Mundial da Amamentação, resolvemos trazer o depoimento de uma mãe sobre a amamentação. A Bia foi nossa colaboradora no Blog Saúde Infantil e escrevia sobre receitas para crianças. Nesta coluna, ela discorre sobre sua experiência amamentando seus filhos.
Não dá pra dizer que foi uma curta “licença” como eu havia previsto, mas estou de volta, finalmente, depois de 6 meses. Ainda não consegui voltar pra cozinha porque a demora do meu retorno não teve tanto a ver com bebê pequeno quanto uma série de imprevistos e complicações que coincidiram com minha ausência aqui para dedicar-me ao Davizinho.
Mas eu queria voltar a escrever. Então resolvi seguir a sugestão de meu pai e cá estou, tentando não fugir muito do meu tema, para falar sobre amamentação.
Que fique claro desde já que não sou nem pretendo ser especialista no assunto. Não vou entrar no mérito das vantagens e desvantagens de peito versus mamadeira, nem qual é o mínimo ou o máximo que uma mãe deve amamentar seu bebê.
Eu, na verdade, resisti um pouco a escrever sobre esse assunto porque não sei bem que dica eu poderia dar. Me sinto uma pessoa de muita sorte em relação à maternidade, tudo aconteceu tão naturalmente pra mim que sinto não ter feito muita coisa. As duas vezes que fiquei grávida não tive problema nenhum, passei muito bem até o último dia, tive dois parto normais. O segundo, então, foi tão normal que não deu tempo nem dos médicos chegarem no quarto do hospital, ainda bem que tinha a enfermeira pra segurar o neném pra mim – mas essa é outra história, se quiserem, outro dia eu conto. Pra amamentar também: os dois pegaram fácil, não me causaram ferida e eu tinha muito leite desde o começo.
Qual é o segredo?
Sinceramente, eu não sei.
O que eu sei é que há uma enorme pressão para se tornar um ideal inatingível de mãe perfeita e admirada pela sociedade. As teorias por aí são muitas, há praticamente uns 100 mandamentos dos bons pais, e ai de nós se não os cumprirmos todos. É um mundo cruel para uma futura mãe que cai nessas armadilhas.
Sinto uma insegurança bem grande das mulheres ao meu redor, convencidas com o fato de todo mundo saber mais de seus filhos do que elas mesmas. Se prestam a ler tudo sobre maternidade vindo de “especialistas” e esquecem de sentir as coisas. Minha geração de mães é a geração da teoria, que tem todo o conhecimento disponível, mas falta bom senso para tomar decisões banais sozinhas. Ligam pro pediatra pra saber se podem passar o protetor solar na criança. Sério.
Eu sei que nada disso tem a ver com amamentação. Mas tem a ver com o que eu acho que é o problema que muitas mulheres encontram em amamentar.
Quando engravidei a primeira vez achei graça de virem me dizer pra me informar mais sobre amamentação. Eu pensava que era só tirar o peito pra fora e o nenezinho ia sugar. Não? Não. Tem até enfermeira especializada no assunto, ela pode ir na tua casa e te ensinar tudo. Puxa vida. Como faziam antes das enfermeiras especializadas? Eu me pergunto. Havia muita gente sem conseguir amamentar? Acho que não. Não tenho nenhum dado estatístico pra sustentar minha hipótese, mas me parece que as pessoas hoje têm muito mais problema em amamentar do que antes.
Posso estar errada, mas essa teorização toda junto com o medo de falhar acabam incentivando a criação de uma série de manuais das mães infalíveis. Isso é ridículo.
Engravidei de Tomás no susto, e costumava dizer para quem se chocava com minha calma que quando as pessoas decidem engravidar normalmente têm a ilusão de estarem prontas para serem pais. Já eu, tinha certeza que não estava pronta, e isso era uma vantagem porque o que desse certo seria lucro.
O que eu não esperava é que quase sempre dará certo. Pode não ser como imaginava, mas de um jeito ou de outro, dá. As crianças têm uma capacidade admirável de adaptação, e se você amar, der atenção e carinho pro seu filho, tiver flexibilidade e o bom senso para saber quando e como improvisar, a chance de conseguir atravessar todos os obstáculos que surgirão é altíssima.
Hoje eu não tenho uma receita pra vocês.
Mas se fosse pra dar uma sugestão para quem quer amamentar seria: fique calma. Você foi feita pra isso, seu corpo foi feito pra isso, está no seu DNA, não tem porque dar errado.
Se demorar um pouco, não se desespere e tenha paciência, ouça seu médico. Ansiedade pode piorar ainda mais o andamento das coisas.
Se doer, abstraia, pode ser que melhore com o tempo. E se não conseguir abstrair e não melhorar, reflita se é isso mesmo que você quer. Porque não tem problema não querer.
Há meios hoje em dia para contornar essas e outras dificuldades. Conheço histórias de pessoas que atravessaram obstáculos dificílimos em relação à amamentação e conseguiram ir até o fim, outras que por muito menos desistiram. Não tem resposta certa ou errada. Tem o que funciona pra cada um, seja sensível e encontre a melhor opção pra você e seu bebê – que às vezes será dar uma mamadeira.
Seja lá como for sua experiência, amamentar ou dar fórmula não te torna melhor ou pior mãe, apesar do que as pessoas pouco generosas que habitam os parquinhos (e tantos outros lugares) podem dizer.
O que te torna melhor mãe é descobrir e nutrir as necessidades do seu filho da melhor forma que estiver ao seu alcance. E isso só você poderá dizer o que é.
Beatriz Setúbal
Leia também: Amamentar, quando querer só não basta
Atualizado em 13 de dezembro de 2024