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O corpo é sagrado
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O corpo é sagrado

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26/06/2017
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“Você sente o seu corpo, eu sinto o meu corpo.”

Numa manhã na Casa Ubá duas crianças (de 3 anos) brincavam dentro de uma cabana de pano enquanto uma terceira (de 2 anos) as rodeava do lado de fora. Esta última sempre que passava dava um tapinha na cabeça de uma delas. “Ai, ai, ai”, dizia quem recebia as batidas. Tudo continuava igual, mesmo com os “ai-ais”, a criança permanecia dando pequenos petelecos.

A criança que estava apenas observando toda a situação, incomodada, resolveu intervir:

– O que é o corpo?

Quem recebia o peteleco responde:

– Barriga.

– Não, o que é o corpo?

– Barriga? (Continuava respondendo, mas já não tão certa de sua resposta.)

– Nããão. O corpo é sagrado. Agora fala pra ele que o seu corpo é sagrado.

– O meu corpo é sagrado.

As duas, então, continuam a brincar e a criança que as rodeava, meio sem entender, para de bater e entra na cabana.

Num outro dia, duas crianças discutiam:

– Você me apertou.

– Não, eu tava segurando.

– Tava apertando.

– Tava segurando.

– Você não sente meu corpo.

– Eu tava segurando.

– Você sente o seu corpo, eu sinto o meu corpo.

Aqui na Casa Ubá acreditamos muito nas possibilidades do corpo das crianças, ou melhor, na capacidade de construírem uma consciência corporal, uma autonomia para entender o que o seu corpo “pode”. Isto é, queremos que saibam o que dão conta ou não de fazer, os desafios que ainda têm pela frente. Neste sentido, como bem disse a criança de 3 anos, na situação contada anteriormente, “o corpo é sagrado”.

Ás vezes, nós, educadores/responsáveis pelas crianças, nos atrapalhamos ao tentar cuidar do corpo físico das crianças e as privamos de construírem uma noção corporal. Quantas vezes escutamos “cuidado!”, “é perigoso”, “você vai cair”.  Cuidar também é possibilitar que experimentem. Por isso, aqui na Ubá propomos cada vez mais estar por perto para que possam subir, descer, cair (sem riscos maiores, é claro!) e trocamos a palavra “cuidado” por “atenção”, para que estejam inteiros no que estão fazendo.

Leia também: “Como conversa?”: a potência da convivência entre pares

Por Bruna Mutarelli, formada em Pedagogia pela Universidade de São Paulo e mestre em Educação pela Universidade do Porto. Foi professora de educação infantil em escolas particulares. Atualmente é pós graduanda em Estimulação precoce: clínica transdisciplinar do bebê, pelo Instituto Travessias da Infância. Sempre gostou dos afazeres manuais e de olhar para as miudezas da infância.

Atualizado em 22 de outubro de 2024

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